A crise do regime monárquico brasileiro veio acompanhada do surgimento e da expansão do movimento republicano, no final do século XIX. No período, a imprensa não somente colocou-se como palco dos debates institucionais, como também teve papel de poder informal, vinculado ao governo e à organização partidária. Tratava-se de uma imprensa de opinião, que tinha como um de seus eixos os comentários partidários.
As colunas dos jornais eram usadas para escrever anonimamente o que não podia ser dito publicamente na Assembléia, Senado ou Câmara, constituindo um fórum de discussão alternativo à tribuna. Este artigo busca recuperar os modelos de República que circularam nesses periódicos paranaenses, relacionando-os com as configurações nas quais estavam inseridos e com a posição que ocupavam no campo do poder local e nacional. Todavia, vale lembrar que os ideários republicanos dominantes não foram disseminados sem resistência no Paraná; ao contrário, foram detectados e combatidos localmente, porém sem força política suficiente. Parte-se da perspectiva bourdiesiana de que os discursos não são unicamente signos destinados a serem compreendidos e decifrados, mas também indicativos de status, que se propõem a ser valorados e apreciados, e de autoridade, a serem cridos e obedecidos, por constituírem um objeto da luta simbólica pelo poder. A análise dos discursos republicanos mostra que a política paranaense do final do século XIX era mais um resultado de alianças e desavenças entre grupos do que fruto de posicionamentos ideológicos. Os discursos serviam, majoritariamente, como armas retóricas utilizadas para orientar o enfrentamento intra-elites, movido pelo desejo de participação, o que fez com que tivesse um caráter genérico, alicerçado na concepção do fim dos privilégios, embora sem a ampliação da cidadania.
Tentamos aqui fazer a correlação entre a Maçonaria que era podemos dizer a “Elite Intelectual e política”à época e os movimentos republicanos.
PALAVRAS-CHAVE: republicanismo; Paraná; imprensa política;maçonaria no Século XIX ; federalismo; campo político
SITUAÇÃO POLÍTICA DO PARANÁ NO FINAL DO SEGUNDO REINADO
O desenvolvimento e o progresso das regiões onde se plantava café transformaram-nas automaticamente em eixos de decisões políticas e econômicas do país de maneira insofismável.
E, como não haveria de ser diferente, estas regiões começaram a levantar uma frente que foi aumentando em progressão geométrica contra uma monarquia já cambaleante, decadente e estagnada economicamente.
Evidentemente, estas mudanças, nas quais a economia brasileira deveria se enquadrar, eram consequentes às exigências do capitalismo internacional vigente na época.
A abolição dos escravos prejudicou as oligarquias cafeeiras, as quais muito embora já estivessem preferindo a mão de obra livre, não foram indenizadas pela Corte pelo investimento que tiveram com os cativos.
Este e outros fatores como a possível ascensão do maçom Conde D\’Eu ao poder, caso o velho imperador viesse a falecer, a recente questão religiosa, e o grupo militar recém-vindo ao palco político, com vigor e até exagerando, além de outras causas menores, fizeram com que muitos acontecimentos se precipitassem.
Entretanto sem desmerecer o Movimento Republicano, o qual faz parte integrante de nosso contexto histórico, esta não teria o menor sucesso, caso os outros fatores desencadeantes citados não tivessem existido.
Só os republicanos puros não teriam feito a República.
O Paraná dentro de suas caracteristícas não fugiu a regra.
A situação desta Província no ano da Proclamação era a mesma como sempre foi em todo o seu período provincial.
O revezamento do poder na Corte refletia-se de maneira natural na Província do Paraná.
O Gabinete Conservador, presidido pelo maçom, conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira que, desde 1886, estava no poder caiu em meados de 1889. Então D. Pedro II chamou para presidir o novo Gabinete, o Liberal Visconde de Ouro Preto e , Afonso Celso de Assis Figueiredo, iniciado na Loja \”América\” de São Paulo.
Assumiu no Paraná o velho oligarca e líder liberal Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá, filho do Barão do Tibagi. O anti-republicano Visconde de Nacar e , Manoel Antonio Guimarães, chefiavam o partido conservador.
A unidade partidária no Paraná era muito fraca. Tudo estava ligado aos interesses destas oligarquias. Os acordos partidários eram apenas convencionais.
E os líderes, havendo muitos maçons entre eles, flutuavam ao sabor destes conchavos, mudando politicamente de acordo com as suas conveniências.
Ressalte-se que os Republicanos puros, apesar de poucos eram firmes em seus ideais.
A complexa relação política no Paraná no final do período monárquico aconteceu da seguinte maneira:
Jesuino Marcondes de Sá, ao assumir, imediatamente iniciou a nomeação de seus parentes, protegidos e apaniguados políticos aos cargos públicos, aliás como sempre aconteceu e continua acontecendo até o presente momento. Opositores foram demitidos.
Logo em seguida, D. Pedro II fechou o Congresso no Rio de Janeiro e convocou eleições gerais para 1° de Agosto de 1889 e eleições provínciais para 1° de Setembro de 1889.
O Partido Liberal Paranaense indicou para Deputado geral o maçom Generoso Marques dos Santos, Loja \”27 de Dezembro\”.
O Partido Conservador tinha sérias divergências no seu seio.
Havia várias alas. De uma delas faziam parte os deputados provinciais os maçons Tertuliano Teixeira de Freitas, da Loja \”27 de Dezembro\” e Justiniano de Mello e Silva, iniciado na Loja \”União Constante\”, da cidade do Rio Grande, RS, e pertencente em Curitiba à Loja \”27 de Dezembro\”, que apoiavam as teses do liberal Jesuino Marcondes de Sá, repudiando o republicanismo.
Entretanto, acabaram apoiando o candidato a delegado geral o Doutor Manoel Correia Junior , que nem morava no Paraná, mas era filho do velho Senador Manoel Francisco Correia. Tal situação. mostrava muito bem como era o mando político na província.
A outra ala do Partido Conservador era comando pelo Barão do Serro Azul, Idelfonso Pereira Correia, também chefe partidário que quis apoiar o republicano Vicente Machado , para deputado geral, porém este apoio não foi aceito pelo Partido Conservador que rechaçaram o republicanismo publicamente.
A aparente abertura do Barão para Vicente Machado exigia o apoio deste aos deputados provinciais do Partido Conservador.
Uma terceira ala de dissidentes formada por um grupo oscilou em apoio ao maçom Justiniano de Mello e Silva, porém acabaram se acertando com os liberais.
O Clube Republicano se reúne e delibera não apoiar os conservadores para as eleições provinciais, porque já haviam se comprometido a não apoiar nenhum partido monárquico. Eles lançaram vários candidatos próprios a saber. Eduardo Mendes Gonçalves para Deputado Geral e para Deputado Provincial os maçons Guilherme José Leite, Albino José Silva, Mauricio Sinke, Victor do Amaral e Silva e Vicente Machado.
A eleição para deputado geral foi ganha pelo Partido Liberal, sendo eleito o maçom Generoso Marques dos Santos.
O frágil Partido Republicano paranaense perdeu as eleições mais uma vez.
Como se pode observar, maçons existiam nas mais variadas facções políticas, cada qual com seus interesses pessoais havendo um real idealismo somente entre os republicanos.
O Jornal \”Pátria Livre\”, do maçom Albino Silva, afirmava que a derrota republicana não era uma derrota da idéia, e que o Brasil era um país em que, de um jeito ou de outro, sempre ganhavam as eleições o partido do governo.
Criticava abertamente o Partido Conservador, chamando-o de \”comprador de votos\”.
Atacava violentamente os políticos e eleitores taxando-os de \”hordas miseráveis, sem consciência nem pudor, resíduos apodrecidos e prostituídos políticos\” etc…
Apesar dos Republicanos terem perdido as eleições, tinham consciência do que aconteceu e, por esta razão estavam sensibilizados.
Ainda o jornal \”Pátria Livre\” em sua edição de 20 de Setembro de 1889, afirmava:
\”Realmente o Paraná é a única Província onde o Movimento Republicano pouco se tem manifestado, e o julgar por essa pouca manifestação ele esta muito longe de corresponder as simpatias dos grandes centros\”.
Em 20 de Outubro de 1889. o referido jornal volta a enfatizar:
\”Eis a posição dos republicanos:
O Partido Republicano precisa tomar precauções urgentes que os fatos ultimamente acontecidos estão reclamando.
É necessário encararmos as coisas como elas são realmente, e deixar-nos de contemporizar mais, precisamos agir. Para isso é de toda a conveniência que os centros mais influentes tomem deliberações enérgicas a fim de sabermos como proceder nas exigências. É sabido que pouco ou nada podemos influir para a boa marcha do Partido, mas em todo o caso apesar de pequenos, queremos concorrer com nosso fraco apoio para a realização de tudo o quanto mais prezamos – a República Venha ela de qualquer forma se for preciso destruir para construir, contanto que tenhamos a satisfação de dizer – somos livres-\”.
O grande republicano paranaense mal sabia que estava prestes a se concretizar seu grande sonho, já que outros fatos precipitavam no, Rio de Janeiro, a Proclamação da República, a qual viria a ocorrer dali a algumas semanas.
Na Província do Paraná, após as eleições e empossados os eleitos, tudo voltou à rotina de sempre.
A oposição agora, bastante fraca, se ocupou de acusações com relação a legalidade de verbas para a educação, aumento de impostos obre a carne e outras mercadorias, e demissões dos oposicionistas.
Os republicanos, porém continuaram firmes na pregação de sua ideologia.
E assim sem o Paraná esperar. no dia 15 de Novembro de 1889, fez-se a República.
Não houve a participação das oligarquias locais ou mesmo dos republicanos militantes.
A noticia chegou a capital paranaense no dia 16 de Novembro e foi divulgada a publicação do telegrama que comunicava a boa nova, em boletins avulsos do jornal a \”Republica\”, que os imprimiu e distribuiu gratuitamente nas ruas a população surpresa.
Vicente Machado, achava-se hospedado no Hotel Tristão em Paranaguá, aguardando um Vapor que o levaria ao Rio de Janeiro, onde levaria um protesto do comércio paranaense contra o Governo do Paraná, a respeito de uma taxação de impostos considerado ilegal, quando Leôncio Correia, hospedado no mesmo Hotel, dirigia-se a São Paulo, veio-lhe trazer a boa nova, na qual ele inicialmente não acreditou.
Uma vez consumado o fato, houve conivência das elites, acietando na prática e , em nome da segurança e da ordem, a nova situação, para em seguida passarem a disputar o mando local sob nova fachada.
No dia 17 de Novembro, o presidente da Província recebeu a noticia oficialmente, convocpou uma reunião extraordinária, onde referindo-se que os acontecimentos que acabavam de ocorrer no país tiveram como consequencia a eliminação do regime monárquico, bem como, a retirada da família Real para o exterior, julgou que o Partido Liberal da Província tomasse imediatamente uma atitude que o patriotismo impunha a todos os brasileiros nestas circunstâncias. Assim entendeu o velho oligarca que os membros dos velhos Partidos nada mais tinham senão aceitar os fatos e que todos, com calma e prudência, deveriam prestar seu apoio á Pátria para a construção do novo regime. Ainda e julgou no dever de enviar ao novo chefe da Nação, uma menagem de adesão, pedindo a aprovação de todo o povo paranaense. Referia que convinha tomar uma nova denominação para um novo Partido.
Em seguida, pediu a palavra o maçom Generoso Marques dos Santos, o qual após um breve discurso, propôs que o novo partido, se chamasse Partido Republicano Federalista. Ressalte-se que já havia o Partido Republicano Paranaense, fundado antes da Proclamação da República, chefiado pelo histórico Vicente Machado.
Foi nomeada uma comissão de imprensa deste novo partido. Nela constava, nomes de antigos opositores radicais ao movimento republicano.
No dizer do historiador Luiz Carlos Ribeiro, \”A politica não mudou, os homens não mudaram\”.
Os militares se reuniram e resolveram aderir ao golpe de estado. O maçom Coronel Francisco José Cardoso Junior comandante da Brigada do 5° Distrito Militar, maçom, homem de inteira confiança da política monarquista, inicialmente recusou-se a assumir, afirmando a Jesuíno o seu apoio e de seu companheiros.
Mas, após o recebimento de um telegrama do novo Governo Provisório, assinado diretamente pelo Marechal Deodoro, recomendando ao coronel que mantivesse a ordem pública , este assumiu como o primeiro governador do Estado do Paraná, no dia 17 de Novembro de 1889, aclamado pelo povo, Exército e Camara Municipal.
O Paraná recebeu a noticia e procedeu como se fosse mais uma derrubada de um gabinete Imperial, às quais já estavam acostumado.
Não houve tumulto, incidentes , passeatas contestações ou regozijos.
O paranaense nessa época era um povo quase que desligado dos acontecimentos dos grandes centros.
O primeiro Governador republicano do Paraná foi um maçom o Coronel Cardoso Junior, que foi iniciado na Loja \”Perfeita Amizade\”, no Rio de Janeiro , em 1864, no Rito Adonhiramita com o nome Histórico de \”Marco Aurélio\”.
Foi efetivado como Grão-Mestre do Grande Oriente do brasil em 5 de Julho de 1882. Durante sua gestão, o Grande Oriente do Brasil ao Vale dos Beneditinos, depois chamado de Grande Oriente Unido, foi incorporado ao Grande Oriente do Brasil em 18 de Janeiro de 1883.
Cardoso Junior sendo Militar por ocasião da Proclamação da República servia em Curiitba como comendante de Brigada 5° Dsitrito.
Ele continou a residir na capital paranaense, participou como maragato, isto é, contra a politica florianista na Revolução Federalista de 1893-1895 e, após o término da sangrenta revolução, após a anistia, deu sequencia a sua carreira militar, promovido a marechal.
Existe em Curitiba uma loja Maçônica chamada \”Cardoso Junior\”, fundada em 1898. Nesta época ele era Athersata do Capítulo \”Fraternidade Paranaense\”.
Continua…………….
Hamilton F. Sampaio Junior.\’.
Biografia
SPOLADORE – História da Maçonaria Paranaense no Século XIX
HIRAN LUIZ ZOCCOLI – Museu Maçônico Paranaense
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/26993/D%20-%20PEREIRA,%20LUIS%20FERNANDO%20LOPES.pdf?sequence=1
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