Francisco da Costa Pinto

hamilton |06 abril, 2025

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Francisco da Costa Pinto

Francisco da Costa Pinto nasceu em Antonina, em 1865. De acordo com registros, era filho de escravos, mas nasceu livre.

Desde jovem, demonstrou grande talento intelectual, destacando-se como aluno no Seminário Diocesano de São Paulo, uma das mais importantes instituições de formação clerical do Brasil no século XIX. Conhecido como Padre Pinto, não se limitava apenas à vida religiosa. Poeta e escritor, era um homem de pensamento aguçado, apreciando debates de ideias e discussões políticas. Publicava frequentemente no jornal católico A Estrella, onde expressava duras críticas à Maçonaria.

Diario da Tarde (PR) – 1899 a 1983 edição 112 pag 2.

Com notável eloquência, conquistou fama como pregador, tornando-se uma figura respeitada em Curitiba, cidade onde permaneceu após concluir sua formação. Em 1898, foi nomeado vigário na Lapa, onde exerceu grande influência religiosa e social.

Ao longo de sua trajetória, participou de diversas celebrações religiosas em Antonina e esteve entre os oradores na inauguração do mercado municipal da cidade, ao lado de Ermelino de Leão.

No entanto, sua vida teve um desfecho trágico.

Na noite de 19 de abril de 1900, enquanto retornava para casa após sair da farmácia do senhor Olympio Westphalen, na Lapa, foi vítima de um atentado. A cidade estava mergulhada na escuridão, e o clima, apesar do frio suave, era ameno. Ao atravessar a Rua da Boa Vista, ouviu alguém chamá-lo:

— Seu Padre, faça o favor.

Quando se virou para ver quem o chamava e se aproximou da voz, um disparo ecoou na noite. Em um instante, sentiu um forte calor no peito.

O atirador fugiu rapidamente pela escuridão, desaparecendo em um beco. Alertados pelo estampido e pelo grito do padre, alguns homens que ainda estavam na farmácia correram para fora e encontraram-no de pé, banhado em sangue, mas ainda consciente.

— O que aconteceu? — perguntou um deles.
— Quem fez isso? — indagou outro.

Padre Pinto conseguiu apenas descrever seu agressor: um homem baixo, de pele morena, corpulento e vestindo um pala.

Diante da comoção, foi levado para sua residência, enquanto os médicos Mendes Ribeiro e João José de Carvalho foram chamados com urgência. Embora gravemente ferido, manteve-se lúcido por algum tempo. Em suas últimas palavras, declarou perdoar seus inimigos e pediu absolvição por qualquer falta que pudesse ter cometido. No entanto, o ferimento era fatal, e a intensa hemorragia o levou à inconsciência. Nas primeiras horas de 20 de abril, faleceu sob os cuidados do doutor Evangelista, aos 35 anos.

A morte de Padre Pinto causou grande impacto. Sua atuação na Lapa, marcada por sua forte oposição à Maçonaria, havia despertado debates acalorados nos jornais da época. Além disso, enfrentava politicamente o coronel Joaquim Lacerda, uma figura de destaque no Partido Republicano Federal do Paraná. O coronel, ao lado do general Carneiro, havia liderado tropas governistas contra os maragatos de Gumercindo Saraiva durante a Revolução Federalista de 1893-1894.

Na virada do século, a Lapa ainda carregava as marcas de um período de conflitos e rivalidades políticas. O assassinato de Padre Pinto, brutal e misterioso, refletia esse ambiente de tensão.

Jamais se chegou a uma conclusão sobre os responsáveis pelo crime. Naquele tempo, no Paraná, era improvável que os autores do assassinato de um opositor político fossem investigados ou punidos. A pacificação da região após a Revolução Federalista fortaleceu a elite política local, que, de certa forma, ainda exerce influência no estado.

A história de Padre Pinto — sua atuação, suas batalhas e sua trágica morte — representa um importante capítulo para a compreensão do contexto político e social do Paraná e do Brasil no início do século XX.

Referências:

Efemérides Antoninenses: Fatos e Homens da História de Antonina. Curitiba, 2015, Alceu Pinto de Almeida.

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