Hamilton Ferreira Sampaio Junior
RESUMO
Este artigo aborda a existência de uma Loja Maçônica fundada no início do século XX por ingleses residentes no Paraná, tentando trabalhar com base no craft inglês, e vinculado ao Grande Oriente do Paraná e Supremo Conselho, que a esta altura era uma potência nascida de uma dissidência com o Grande Oriente do Brasil. Curiosamente esta oficina maçônica teve existência efêmera, de acordo com a pesquisa.
Os registros encontrados indicaram um ciclo de vida de apenas um ano, porém intenso, haja vista que houve iniciações, e todas as esperadas cerimônias da ritualística maçônica. Outro fator de curiosidade é a existência de uma “oficina inglesa” quase desconhecida atualmente, todavia amplamente noticiada em jornais da época.
A Loja Duke of Connaught é predecessora da introdução do rito de York no Paraná, quase com certeza trabalhando com o Ritual “PERFECT CEREMONIES|”, o que verdadeiramente só veio a ocorrer no final da segunda metade do século XX.
Palavras-chave: Maçonaria Paranaense. Maçonaria Inglesa. Duke of Connaught.
METODOLOGIA
Este artigo utiliza um amplo levantamento bibliográfico concentrado nos:
Jornais do inicio do século XX, que circulavam na capital do Paraná os quais foram fontes das consultas e das matérias os quais se baseou essa pesquisa fornecendo algumas informações sobre a comunidade britânica na cidade suas atividades utilizando relatos de personagens da época, cronistas, residentes, jornais, da época, além de imagens, para fundamentação desta pesquisa, usei também os Boletins do Grande Oriente do Brasil e tive acesso a alguma documentação junto a Junta Comercial do Paraná, bem como ao Museu Maçônico Paranaense.
INTRODUÇÃO
Segundo informações que sabemos na atualidade, o Craft (Inglês) ou como alguns chamam Rito York, chegou ao Paraná no Grande Oriente do Brasil, em idos dos anos 1990, através da Loja Liberdade filiada a Grande Loja do Paraná, essa é a história oficial.
A grande surpresa porém foi, esbarrar em uma Loja inglesa com o chamado “Rito York”, que funcionou na cidade de Curitiba nos anos de 1910-1920 amplamente noticiada em Jornais da época.
Podemos afirmar que começamos uma intensa busca por informações desta oficina, alguns irmãos consultados achavam que era mais uma “lenda”, outros simplesmente diziam que a Loja não tinha iniciado suas atividades ficando apenas no “Papel”.
Ledo engano como iremos verificar mais adiante, algumas questões foram levantadas, sobre o porquê do surgimento desta Loja e o porquê dela não estarem associada ao Grande Oriente do Brasil, passaremos muito superficialmente pela história de DISSIDÊNCIA de 1902, que começou no Rio Grande do Sul e veio pairar sobre a Capital do Paraná.
Iremos relacionar com a comunidade Inglesa em Curitiba e um personagem que viria a ser o primeiro Ven∴ desta oficina, importante para a Cidade, pois o mesmo estava num momento de modernização das linhas telefônicas da cidade. Esta oficina ficou funcionando por quase um ano realizando diversas atividades, iniciações etc.
Em meados do século XIX, Curitiba, assim como outras capitais brasileiras, entrava num processo de modernização de seu espaço urbano. Esse processo teve seu auge nas décadas iniciais do século XX. As reestruturações operadas na capital paranaense já foram objeto de estudo de diversos historiadores, que se debruçam sobre a história de Curitiba do final do século XIX e do início do século XX.
O Surgimento de uma Loja Maçônica seguindo o CRAFT inglês no Paraná após a formação do Grande Oriente do Paraná e Supremo Conselho (DISSIDENTE) do Grande Oriente do Brasil, quase 75 anos antes do que conta nossa história oficial.
Algumas Lojas foram introduzidas após a formação da DISSIDÊNCIA acima.
Estas Lojas foram e tiveram suas atividades normais por algum tempo, mas a falta de documentação e de arquivamento, nos leva a ter de pesquisar em outras fontes a trajetória destas oficinas e assim termos subsídios para embasar novas perspectivas da gênese de alguns ritos praticados hoje no Paraná, bem como sabermos a “verdadeira” trajetória destes Ritos até os dias de hoje.
Colocaremos em ordem cronológica os eventos da criação desta oficina especificamente num corte temporal de 1910 até 1915.
Veremos que esta oficina surgiu teve plena atividade maçônica, iniciações, etc e num curto período desapareceu.
A referência será também, Boletins do Grande Oriente do Brasil e Grande Oriente UNIDO, Jornais da época e algumas fontes de consulta externa que explanarei em cada caso.
À LOJA MAÇÔNICA DUQUE DE CONNAUGHT
No Paraná no inicio do Século XX, havia uma grande preocupação do Grande Oriente do Brasil com a necessidade de expansão das oficinas.
Podemos observar no quadro acima, o desejo implícito na criação e homogeneização das oficinas no Estado.
Em contrapartida em 1902, é criado o Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná e Supremo Conselho (DISSIDENTE), o qual estava vinculado ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul também (DISSIDENTE), em 1902 quando da criação deste Grande Oriente e Supremo Conselho (DISSIDENTE) o Grão Mestre era Dr. Trajano Joaquim dos Reis, médico dedicado, maçom conhecido e admirado na comunidade Curitibana.
“O movimento operado pela Loja Acácia Paranaense em dias do mês de julho, teve, após o decorrer de um mês, o seu resultado definitivo, assinalado pelo grande acontecimento de 28 do mês findo (Agosto de 1.902)\”.
Reagindo contra a prepotência dos régulos, a Loja. Acácia viu que a Maçonaria Paranaense podia arregimentar-se e dirigir-se por um corpo propriamente seu, a despeito da guerra pouco criteriosa movida pelos interesseiros do poder, que pouco fazendo pelo bem geral e progresso da Inst.´. Julgam-se com direito até de dominar as consciências, imitando esses nossos declarados inimigos que desde séculos passados procuram apagar a luz que os nossos Templos jorram.
Para lutar pela federação maçônica no Brasil, conforme o programa do ser.´. Gr.´. Or.´. do Rio Grande do Sul, que não quer a separação, mas sim a união por um modo todo plausível, deixando a cada Estado sua completa autonomia, tal deve ser o espirito das novas leis que vão ser decretadas, como também todo o esforço desses maçons abnegados que em boa hora proclamam a independência da Maçonaria Paranaense”.
Jornal \”Acacia\”, Ano II, nº 13.
Não iremos nos ater aos fatos sobre a criação desta potência (DISSIDENTE) apenas à criação da Loja Duque de Connaught, loja esta segundo este trabalho funcionava como o CRAFT inglês.
Segundo a voz corrente sobre o Rito York quase com certeza trabalhando com o Ritual “PERFECT CEREMONIES, no paraná este deu entrada no Estado através da Loja Liberdade originalmente sob a égide das Grandes Lojas do Paraná em idos de 1990, isto é o que sabíamos.
Começamos nossa busca através de uma pequena inserção em um Jornal de 1914, aqui começamos a desvendar a existência desta oficina.
Segundo PROBER em seu livro “Achegas para a história da Maçonaria Paranaense em sua página n° 8, ele nos relata saber da existência desta oficina bem como que a mesma funcionava no Rito de York, e que a mesma se situava na Praça do Rosário numero 79”.
Mas é quase certo que esta oficina tenha trabalhado com o Ritual “PERFECT CEREMONIES”.
Várias informações desencontradas e (Lendas) nos informavam existiu, e outras, não existiu etc, um grande desencontro de informações.
República 1914, Dia 5 de Janeiro edição 00003.A
Fundada no Dia 3 de Janeiro de 1914, um sábado a PRIMEIRA oficina a trabalhar no Rito York quase com certeza trabalhando com o Ritual “PERFECT CEREMONIES”, como queiram os especialistas e entendidos apresentarem .
Nota-se no anuncio as palavras “Filhos da Velha Albion”, que pode significar um grupo determinado, da comunidade da Velha Albion de origem “Inglesa”, mostrando algum saudosismo, pela Terra Além Mar. Interessante verificarmos que no mês de Janeiro até Maio de 1914, tivemos a fundação de 8 (oito) lojas sob a jurisdição do Grande Oriente do Paraná e Supremo Conselho (DISSIDENTE).
Segundo nosso Ir∴ Hiran do Museu Maçônico Paranaense esse Título “Duque de Connaught”, foi dado em homenagem ao Grão Mestre da Grande Loja da Inglaterra.
Discurso do Grão Mestre do Grande Oriente do Paraná e Supremo Conselho (DISSIDENTE) , Dr Trajano Drummond Reis, na inauguração da Loja Jaime Reis em Araucária, também sob a égide deste Grande Oriente Independente, neste discurso o mesmo proferia “ A poucos dias tive a felicidade de presidir a regularização no Oriente de Curitiba da Loja Duque de Connaught, decorreu-se apenas poucos dias e estou aqui novamente inaugurando outra oficina”.
Encontramos também registros de atividade desta oficina em Curitiba, informando sobre uma iniciação que ocorreria dia 4 de Dezembro de 1914, e seguindo o raciocínio temos ai 11 meses de atividade da oficina desde a sua inauguração até este ponto (da iniciação).
Diário da tarde 1914, Dia 4 de Dezembro edição 04959.
Sabemos que seu Primeiro Ven∴ foi o Ir∴ Edward John Johnson, que na época era Diretor da Companhia Telephonica Paranaense, sendo que o mesmo estava sendo responsável pela instalação de cabos telefônicos subterrâneos em Curitiba e encontrava-se na cidade desde 1913.
Jornal a REPÚBLICA 11 de Março de 1914 edição 58.
Jornal Diário da Tarde 1913 8 de Dezembro edição 04557.
CONCLUSÃO
Através desta pesquisa podemos concluir que a Loja Duque de Connaught esteve em Curitiba de 1914 até final de 1914 ou começo de 1915, 75 anos ANTES da voz corrente de nossa história que nos mostra idos de 1980-1990, talvez esta oficina tenha vindo a ABATER colunas no início da Primeira Guerra Mundial, faltaram algumas informações sobre os membros da oficina bem como dos iniciados, sabemos que algumas oficinas do Grande Oriente do Paraná e Supremo Conselho que ADORMECEU em 1920, foram absorvidas pelo Grande Oriente do Brasil, mesmo sabendo que esta não foi uma delas , talvez ABATENDO colunas antes disso.
ANEXOS
1913-DIARIO DA TARDE EDIÇÃO 04557 – 8 DE DEZEMBRO DE 1913.
1914-DIARIO DA TARDE Edição 4959-4 de Dezembro.
1914-A-REPUBLICA-EDIÇÃO 00058- 11 DE MARÇO.
Pesquisa: Hamilton Ferreira Sampaio Junior
Referências:
Biblioteca Nacional Acessos dias 04-05-06 Fevereiro de 2019.
Museu Maçônico Paranaense.
Boletim do Grande Oriente do Brasil.
PROBER Kurt Achegas para a História da Maçonaria Paranaense pág 08.