Abdon Petit Guimarães Carneiro
Primeiramente considero uma honra escrever sobre um homem da estatura de Abdon Petit Guimarães Carneiro, médico humanista e maçom, nascido dia 29 de Outubro de 1876, na cidade de Paranaguá, filho de Manoel Ricardo Carneiro e Délphica Guimarães Carneiro, conforme encontramos no site Genealogy, fez o curso preparatório em Curitiba e matriculou-se no ano de 1893 na Academia de Medicina da Capital do País na época (Rio de Janeiro). Formou-se em 1898, dedicado estudante tanto no curso propedêutico, como no ensino superior. Nos últimos anos de sua vida acadêmica foi interno, na Escola de Medicina, de Francisco de Castro, grande mestre dos médicos brasileiros, após formado, veio clinicar no Paraná, onde casou-se com Francisca Martins Erichsen.
Registros Matrimoniais FamilySearch Brasil Paraná Registros Civis 1852 1996 Curitiba Bacacheri.
No Paraná, logo ao iniciar a sua atividade profissional, teve destacada atuação numa epidemia de varíola, que acometeu a população de Paranaguá em 1899, sua cidade natal, como noticia o Jornal “Diário da Tarde” de 25 de Abril de 1899. Segundo Aníbal Ribeiro Filho em seu livro “A História do Clube Literário de Paranaguá”. Abdon Petit Carneiro foi Presidente do Clube em 1900, em 1901 foi para São Paulo trabalhar no Instituto Bacteriológico, sob a direção do genial Adolfo Lutz, acompanhado de Vitor Godinho, Carlos Meyer, Bruno Rangel Pestana e outros, e foi também médico da Santa Casa, tendo como assistente Rubião Meira. Na Capital Paulista foi grande colaborador do grande médico Vital Brazil, na organização do Instituto Serum-Terápico ou Butantan. É o grande ofidiologista patrício quem diz numa página de sua “Memória Histórica do Instituto de Butantan”:
“A 23 de fevereiro de 1901, sendo presidente do Estado de S. Paulo o Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves e Secretário do Interior o Dr. Bento Bueno, foi, por força do decreto nº 878 – dada organização oficial a esse estabelecimento e, nesse mesmo dia, foram nomeados como diretor o Dr. Vital Brazil e como ajudante o Dr. Abdon Petit Carneiro“.
Inclusive apesar de contar com um só técnico, que era o Dr. Abdon Petit Carneiro o Dr Vital Brazil, começou a preparar o Butantã para a produção em escala de soros “antipeçonhentos“, lançando inclusive as bases dos estudos que julgava indispensáveis para dar sustentação técnica a esta meta: processos de dosagem, elaboração de provas de paraespecificidade, experimentos de neutralização de venenos diversos por soros homólogos e heterólogos, visando uma preparação dos tipos adequados às diversas regiões do Brasil, e quem sabe da América.
Dada a organização oficial do Butantan, a 23 de fevereiro de 1901, menos de quatro meses depois, isto é, a 11 de junho do mesmo ano, já o instituto entregava ao consumo os primeiros tubos de soro antipestoso.
Jornal O Comercio 10 de Março de 1902, edição 2870 página 3.
Pois bem, sabemos que a preparação de soro antipestoso para combater a peste negra foi a principal razão da fundação, não só do Butantan, como de Manguinhos. E agora perguntamos:
Quem foi a pessoa encarregada de aplicar, pela primeira vez, o soro fabricado pelo Butantan a fim de lhe provar a eficiência curativa?
A pessoa encarregada foi o primeiro assistente do Instituto, o médico Dr. Abdon Petit Carneiro que, nos meses de novembro e dezembro de 1901, tinha sido ele designado pelo diretor do serviço sanitário, Dr. Emilio Ribas, a se dirigir para a cidade de Campos, assolada por grave epidemia de peste bubônica, afim de estudar, “in-loco“, a ação curativa anti-pestífera do soro elaborado pelos Institutos Butantan, Pasteur, de Paris, e de Manguinhos, dois meses, durou a perigosa tarefa do Dr. Petit Carneiro em Campos. Enormes foram os serviços que prestou à população sofredora dessa grande cidade açucareira do estado do Rio.
De volta ao Paraná, em 1902, novamente instalou seu consultório em Paranaguá, dirigindo, ao mesmo tempo, o Hospital da Santa Casa de Misericórdia e o Serviço de Higiene Municipal. Em 1905, se mudou para Ponta Grossa, onde clinicou até fins de 1910, deixando, nesta cidade, grande número de amigos dedicados, entre os que viviam em Ponta Grossa e lhe cultuam, com saudade, a memória. Em 1911, mudou-se de Ponta Grossa e veio residir em Curitiba, durante vinte anos, prestou serviços médicos à classe ferroviária.
O Dr. Petit Carneiro, teve, como traço marcante de sua personalidade de professor, a camaradagem que sabia manter com os discípulos que o estimavam e respeitavam. A sua paternal bondade chegava ao ponto de prelecionar á noite, o que lecionara de dia, sem o menor enfado.
Jornal O Comercio 9 de Abril de 1898, edição 1811 página 2.
Nos informa o Jornal “O Comércio” em sua edição de 1911 que foi Diretor da “Gota de Leite“, por muitos anos, e foi Diretor do Hospital Nossa Senhora da Luz, a cujo nosocômio*(2) dedicou-se de corpo e alma por mais de dois decênios; Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, Médico da Maternidade. “Dr. Victor do Amaral” e Vice-Diretor da Faculdade de Medicina do Paraná.
No início da criação da Universidade do Paraná. Devido a carência de mestres, o doutor Petit como era carinhosamente chamado pelos demais professores desdobrava-se dando aulas, muitas aulas…
Graças aos abnegados mestres como o nosso biografado, a casa de ensino ideada pelo Prof. Rocha Pombo e fundada por Nilo Cairo, não pereceu.
Aí ele está como autêntico atestado de quanto pode o trabalho de homens de boa vontade:
Doutor Abdon Petit Guimarães Carneiro, era o Diretor do educandário João Coelho de Moreira de Paranaguá, enquanto morava lá, ele foi sem dúvida alguma um dos pioneiros da Pediatria do Paraná.
Em Curitiba, por muito tempo, dirigiu o serviço médico da Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviário da R.V.P.S.C.
Em 1912, o Dr. Petit Carneiro foi um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná.
Pode-se dizer que, da Universidade que ajudou a fundar, não arredou o pé um só momento, até pouco antes de morrer de todas essas disciplinas, aquela que se dedicou, inteiramente, durante seus 28 anos de docência, foi a Histologia*(1). Repitamos: Os anos mais fecundos da vida do Doutor Petit Carneiro foram, não há negar, aqueles vinte e oito de assíduo exercício do magistério superior. No magistério, como em nenhum outro setor de suas múltiplas atividades, foi que ele deixou traços inapagáveis de sua personalidade.
Foi Vice Presidente do Clube Curitibano em 1912.
Foi o idealizador e criador da primeira Policlínica Infantil de Curitiba, isso em novembro de 1919.
Era Vice-Presidente da Cruz Vermelha no ano de 1921.
O Maçom
Delegado do Grande Oriente do Brasil, no Paraná de 13 de junho de 1919 à 1º de Maio de 1928.
Iniciado na Loja Perseverança nº 0159, de Paranaguá no dia 28 de abril de 1900.
Foi Orador da Sessão fúnebre do Ir∴ João Gualberto realizada na Loja Luz Invisível em dezembro de 1912, relatado no periódico Ramo de Acácia em seu número 32.
Homenagem do Periódico Ramo de Acácia ao Dr. Petit Carneiro como se escreve:
“Médico ilustre, dentro da sua reconhecidíssima modéstia, fulge um luminoso espírito cientificamente disciplinado. A sua profissão é um sacerdócio; se sacrifício for mister, ele o fará, sem ambições e sem alardes, unicamente no cumprimento do dever. O sentimento da solidariedade e da amizade para o ilustre médico e distintíssimo maçom é uma verdade, ele o cultua imáculo.
*2 Nosocômio- Hospital
“Universidade Federal do Paraná, orgulho do Brasil”.
Alma branca, de uma suavidade essênia, não conhece a salsugem do ódio que envenena, as pequeninas paixões que degradam, não as conhece.
Intransigente em as suas convicções, calmo porém firme nas manifestações dos seus ideais, o Dr. Petit Carneiro, dentro e fora dos Templos Maçônicos, vem afirmando e propagando, pelo exemplo sereno que dignifica, a excelsa grandeza do seu ideal, que é o nosso ideal, que é o ideal do espirito moderno: a redenção absoluta da consciência universal. O retrato do ilustre médico, e digníssimo Ven∴da Bem∴ Loj∴ Luz Invisível, estampado no Ramo de Acácia, é público testemunho da afetiva homenagem que rendemos ao belo companheiro e dedicado Maçom”. *1 (J.P)
Esteve no Congresso Maçônico no Rio de Janeiro em 07 de Janeiro de 1925, o qual os paranaenses que estiveram lá voltaram motivados a formar o Grande Oriente Estadoal do Paraná.
Dia 21 de abril de 1925, o Delegado do Grande Oriente do Brasil Petit Carneiro, envia correspondência aos Veneráveis das Lojas de Curitiba, para reunirem-se em sua residência à Rua Brigadeiro Franco nº 61, no dia 26 do corrente, as 16:00 horas, para tratar assuntos de interesse da Ordem.
Conteúdo conforme à época
“Delegado do Grão Mestre, Abdon Petit Guimarães Carneiro, nomeado pelo Grão Mestre Luiz Soares Horta Barbosa, em 13 de Junho 1919, pelo Ato nº 0448 e reconduzido ao cargo até então, convida os Veneráveis das Lojas de Curitiba, para uma nova reunião em sua residência no início de setembro de 1925. O Orador da Loja Luz Invisível nº 0749, o Irmão Dario Persiano de Castro Vellozo, na reunião do dia 9 de novembro de 1925.
Refere-se à fundação do Grande Oriente do Paraná, mostrando as conveniências que haviam em tal fato, sendo marcada uma reunião especial para tratar sobre este assunto, no dia 16 de novembro as 7 horas da noite. Nesta reunião, discutiram o assunto e foi aprovado por unanimidade a criação do ” Grande Oriente Estadoal do Paraná“.
Participou, como fundador, ou como membro das Lojas:
Luz Invisível nº 0749 e Dario Vellozo nº 1213, e Amor e Caridade II do Oriente de Ponta Grossa.
(Livro Atas nº 6 pág. 50 da Loja Luz Invisível nº 0749 ).
Periódico Ramo de Acácia pág. 40.
(Livro Atas nº 6 pág. 50 da Loja Luz Invisível nº 0749 ).
*1 J.P Pode significar Júlio Pernetta que era na época redator do “Ramo de Acácia”.
Ramo de Acácia pág. 282 ano 1911.
Em 19 de Outubro de 1927 o Soberano Grão Mestre Geral, autoriza a criação do “Grande Oriente Estadoal do Paraná”, sendo seu primeiro Grão Mestre foi o então presidente da Província do Paraná, Dr. Affonso Camargo que ocupou o cargo por 20 dias e renunciou. *1
Após a renúncia do Dr. Affonso Camargo, Abdon Petit Carneiro foi Grão Mestre Adjunto em exercício de 07 de Maio de 1928 até Julho de 1928, quando é eleito Grão Mestre, exercendo o mandato até 30 de Abril de 1931. Dr. Petit Carneiro, notório médico paranaense, que dirigiu o Grande Oriente Estadoal do Paraná até 1932.
Texto Retirado do Periódico “Ramo de Acácia”.
O SEGREDO DA MAÇONARIA . . .
“Acompanhando a evolução social, a Maçonaria, apesar da venerabilidade de suas tradições, não hesita em aceitar praxes e cerimônias rituais postas ao nível da mentalidade contempôranea.
Assim, identificada com o organismo social possue, como ele, armas de defesa – as intrínsecas virtudes vitais que inutilizam os elementos nocivos, cujos olhos jamais conseguem passar por sobre os próprios interesses.
Eis o segredo pelo qual a Maçonaria prospera sempre e a prova inconcussa é a inauguração de hoje.
Diante do Grande Oriente do Paraná, em penhor de brilhante êxito, estão velhos e dedicados legionários de Hiram, como sejam o dr. Petit Carneiro que empunha com serenidade e ponderação, o malhete de Grão Mestre; o professor Dario Vellozo, o cel. José Carvalho, o cel. Euclides Bandeira, o cel. Francisco Simas e o cel. Isaias Miranda e outros denotados paladinos do livre pensamento.”
Faleceu em Curitiba, 24 de fevereiro de 1940 com 63 anos de idade.
Pesquisa realizada por Hamilton F. Sampaio Junior
hamiltonjuniorsjp@gmail.com
Refêrencias:
SAMPAIO, Hamilton. ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO: Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 e 1930.. In: ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO: Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 e 1930.. 1. ed. Curitiba: Novagrafica, 2019. v. 1, cap. 1, p. 2.
RIBEIRO FILHO ANIBAL “História do Clube Literário de Paranaguá”.
SEARCH, FAMILY. Registros da Igreja Católica. In: Abdon Petit Carneiro. 1. ed. Curitiba, 22 set. 1899. Disponível em: familysearch.org.br. Acesso em: 22 mar. 2019.
Biblioteca Nacional
Genealogia Paranaense
(ZOCOLLI, Hiran. Abdon Petit Carneiro. In: Abdon Petit Carneiro. 1. ed. Curitiba, 18 mar. 2019. Disponível em: museumaconicoparanaense.com.br. Acesso em: 22 mar. 2019).
Ofidiologista (Por semelhança, já que não encontramos em dicionários a palavra mas nos leva a entender que era na época um “especialista” em cobras).
SPOLADORE, Hércule. HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARANAENSE NO SÉCULO XIX: HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARANAENSE NO SÉCULO XIX. In: HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARANAENSE NO SÉCULO XIX: HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARANAENSE NO SÉCULO XIX. 1. ed. LONDRINA: Ruahgraf Gráfica e Editora Ltda, 2007. v. 1, cap. 1, p. 2. ISBN 8590725804, 978859072580.
POMBO, Rocha. PARA A HISTORIA. In: PARA A HISTORIA. 1. ed. Curitiba: IMPRESSORA TYPOGRAFIA PARANAENSE, 1894. v. 1, cap. 1, p. 2.
EDITORIAL, Editorial. A História do Clube Literário de Paranaguá: Clube Literário. In: A HISTÓRIA do Clube Literário de Paranaguá: A História do Clube Literário de Paranaguá. 1. ed. PARANAGUA: DPDDPPF, 1872. v. 1, cap. 1, p. 2. ISBN 00000000000000.
“Editorial. Paranaguá Febre Amarela: Paranaguá Febre Amarela. Paranaguá Febre Amarela, PARANAGUA, v. 1, n. 2, p. 2, 25 abr. 1899”.
PERNETA, JULIO; BRAGA, LIBER; PARANA, SEBASTIAO. Ramo de acacia. Ramo de acacia, Curitiba, v. 2, n. 1, p. 2, 22 mar. 1932.
WIKIPEDIA, Wikipedia. Abdon Petit Carneiro. In: Abdon Petit Carneiro. 1. ed. Curitiba, 18 mar. 2019. Disponível em: wikipedia.org.br. Acesso em: 22 mar. 2020.
Gobnet Newgobnet.gob.org.br
NICOLAS, MARIA. ALMA DAS RUAS. In: PARA A HISTORIA. 1. ed. Curitiba: [s. n.], 1974. v. 2, cap. 1, p. 2.
http://ma.zanon.zip.net/arch2008-05-11_2008-05-17.html
http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/Autoridades_PR/GOEPR928_928-Abdon_Petyit_Guimaraes_Carneiro.htm
ZOCOLLI, Hiran. Abdon Petit Carneiro. In: Abdon Petit Carneiro. 1. ed. Curitiba, 18 mar. 2019. Disponível em: museumaconicoparanaense.com.br. Acesso em: 22 mar. 2019.
SOARES, MOISES. ABDON PETIT CARNEIRO. In: SOARES, INSTITUTO MOISES. ABDON PETIT CARNEIRO: INSTITUTO MOISES SOARES. PARANAGUÁ, 25 fev. 2019. Disponível em: https://msinstituto.blogspot.com/2016/07/abdon-guimaraes-petit-carneiro.html. Acesso em: 22 mar. 2019.