Ady Tramujas Samways

hamilton |05 março, 2024

Blog | Rastro Ancestral

 

Ady Tramujas Samways Foto: Arquivo da família.

Nascida em Paranaguá dia 03 de setembro de 1921, filha de  José Rodrigues Tramujas e Albina Tramujas nascida Martins e morou lá quase a vida toda.

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Começou a carreira de professora em São Mateus do Sul, em 1941, mas logo voltou para a cidade natal.

Confiante de que Deus estava ao lado dela, foi para a avaliação que a tornaria professora.

“Ela tinha estudado muito. Antes da avaliação, alguém falou que estavam criando a “gasolina azul” para aviões e que não era para ela se esquecer dessa informação.

Ady nunca tinha ouvido falar nessa gasolina, mas ficou com aquilo na cabeça.

No fim do concurso, o avaliador perguntou se era verdade que estavam criando o produto e ela respondeu que sim”, contam os netos.

Casou-se em Paranaguá em 14 de dezembro de 1943 com Laudelino Samways.

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Ao todo, foram 55 anos em sala de aula.

Diretora do Colégio Estadual José Bonifácio, em Paranaguá, lutou para que a Praça Portugal, ao lado da escola, não abrigasse bares.

 

“Dizia que tiraria os alunos da sala”, contam os filhos.

Quando deixou o colégio, os bares foram abertos e ela lamentava presenciar que tantos alunos estavam na praça.

Dedicada à educação, quando soube do ataque aos professores em 29 de abril, em Curitiba, disse a uma das netas que gostaria de prestar solidariedade aos colegas.

Os 93 anos da professora Ady Tramujas Samways foram muito ativos.

Era catequista, ministra da Eucaristia, legionária de Maria e ainda tinha outras atividades na rotina.

A idade não era empecilho e mesmo depois dos 90 mantinha a agenda quase inalterada.

Quando estava em Matinhos, no Litoral do Paraná, caminhava 13 quilômetros todos os dias e ainda reclamava se os netos não acompanhassem o ritmo dela.

Os trabalhos sociais e os hobbies da Vó Ady
Além da creche, Ady desenvolvia um trabalho social na Vila do Povo.

Lá, ela ajudou a construir a igreja e as casas de quem não tinha onde morar. Também levou cestas básicas, roupas e encaminhou as crianças para a escola.

“Se hoje sou o que sou é por causa dela.

Eu não tinha nem roupa e ela me vestiu; e ainda me mandou para a escola”, contou um rapaz aos familiares no dia do velório.

A caridade foi ensinada aos filhos, netos e bisnetos.

Eles são reconhecidos na rua como “a família daquela senhora” quando levam as doações nos mais diferentes lugares.

Apaixonada pelo mar ensinou os netos e bisnetos a “pegar jacaré” na praia.

“Ela ia para a praia, esperava uma onda mais forte e se jogava”, lembram-se os familiares.

Boa cozinheira, Ady fez para cada uma das cinco netas um caderno de receitas personalizado.

O caderno da filha ficou incompleto, não houve tempo para terminar.

Aos 75 anos, ela ainda levava grupos de alunos para fazer excursões no caminho dos jesuítas e contava o início da história do Paraná.

Aos 80, levava as catequistas para passeios em cidades de turismo religioso e para formações.

Depois das 18 horas, quando saía da creche e voltava para casa, ficava incomodava em não fazer nada.

Para passar o tempo, gostava de ler os romances de Jorge Amado e Agatha Christie.

“Tinha vezes que ela estava chorando e dizia: ‘ah… João morreu!’ A gente perguntava quem era João e ela contava que era um personagem do livro.

Era íntima dos personagens”, recordam. (DMA)

O amor pelas crianças era gritante.

Decidiu criar uma creche, em 1978, para que as mães pudessem deixar seus filhos e trabalhar.

O terreno foi doado pelo prefeito da época, José Vicente Elias.

O aterro para o local também foi doação. “Os caminhões da cooperativa (que são usados no porto) vinham ajudar com o aterro, quando estavam sem serviço”, destacam os filhos.

Por fim, na Páscoa, fez ela um “pedágio” para arrecadar o dinheiro da construção do centro de educação.

A creche Nossa Senhora do Rosário foi inaugurada em 1980. Hoje, são atendidas 75 crianças de 2 a 6 anos.

Foi homenageada em Curitiba com a medalha “Bragrinho de Ouro” em 1979, aonde discursou.

Ady fazia questão de servir o almoço das crianças e ainda levava sobremesas nos bolsos. Ao fim de cada refeição, os pequenos ganhavam balas, pirulitos, bombons; cada dia havia uma “surpresinha” diferente.

Liderança de muitos movimentos na Igreja Católica, ela apresentou a Pastoral da Criança e a Liga do Câncer para a cidade. “Levava a Comunhão para quem não podia ir à igreja.

A parnanguara saía para visitar os “velhinhos” de 70 anos, mas já tinha 90”, brinca a família.

Os idosos e os enfermos também ganhavam docinhos.

Ady (ao centro, de blusa laranja) com os familiares Arquivo da família participava da Catedral Diocesana de Paranaguá e do Santuário de São Francisco das Chagas.

O padre André Buchmann, responsável pelo santuário, foi aluno da mulher que, mais tarde, se tornaria uma das grandes incentivadoras de sua vocação.

“Quando me encontrava na rua, ela dizia: ‘estou rezando por você’. Depois de ordenado, dizia: “continuo rezando por você’”.

É o santuário que vai dar continuidade às atividades da creche.

Como gostava de viajar, estudava cada lugar e deixava os guias turísticos boquiabertos.

“No final, as pessoas aplaudiam a “Vó Ady” e não os guias, pois eles falavam tudo decorado e ela, porque conhecia”, orgulham-se os netos.

Falando apenas o português, conheceu vários países, até a China.

Mas Ady tinha verdadeira paixão pela cidade de Nova York.

Planejava os passeios que queria fazer e, na volta, fazia um diário de viagem.

A devota incansável de Nossa Senhora tomava sopa de legumes todas as noites.

“Não cansa?”, questionavam.

“Quando eu chegar ao céu e Jesus me perguntar o que eu quero, vou responder: “tudo, menos sopa de legumes’”, respondia.

Dona Ady estava fraca e passou duas semanas internada.

Com toda a família reunida, foi ao encontro de Deus.

O médico que cuidou dela no período em que esteve no hospital teve aulas com a senhorinha antes de ir para a faculdade.

3 de abril de 1988

Velada no Santuário de São Francisco das Chagas, de onde era benfeitora, a igreja permaneceu cheia o tempo todo.

“Era uma pessoa muito conhecida, empreendedora, e uma mulher de coragem”, destacou o padre André Buchmann.

Deixou dois filhos, nora, genro, oito netos, 13 bisnetos, os alunos, as crianças da creche, os catequizandos e os velhinhos que visitava.

Faleceu dia 28 de junho de 2014, aos 93 anos de idade , de causas naturais, em Paranaguá.

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Referências:

Gazeta do Povo

Matéria de Débora Mariotto Alves

24/07/2015
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/curitiba/falecimentos/ady-tramujas-samways-uma-vida-dedicada-a-educacao-e-a-fe-c7pzrrzx3cb26ru3d9sgqycer/
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