Albino José da Cruz nasceu em 28 de abril de 1822 em Paranaguá, foi batizado na Matriz aonde recebeu os santos óleos, filho de Bento Jozé da Cruz, natural de Malgaço Arcebispado de Braga Portugal e, de Miquelina Romana natural da Freguezia de Santa Izabel da cidade de Lisboa, nos conta o assento da igreja do Vigário João Chrysostomo de Oliveira Salgado Bueno.
Imagem: meramente ilustrativa
Conforme descrito pela transcrição abaixo.
Referência
Certidão de Batismo. Livro n.º 10 de Assentos de Batizados da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá – PR. Cúria diocesana de Paranaguá.
Anotações
Transcrição: “Aos vinte e oito de Abril de mil oitocentos e vinte e dois nesta Matriz da Villa de Paranaguá, foi baptizado, recebeu os santos óleos o inocente ALBINO, filho legitimo de Bento Joze da Cruz, natural de Melgaço Arcebispado de Braga, e de Dona Miquelina Romana natural da Freguezia de Santa Izabel da Cidade de Lisboa: Avós paternos Joze da Cruz, e Maria Rodrigues, naturaes taobem de Melgaço, e maternos João Antonio, e Rita Luciana, naturaes da mesma Cidade de Lisboa. Forão Padrinhos o Capitão Antonio da Costa, solteiro, e Dona Maria Monteiro de Matos, cazada. Do que fiz este assento. O Vigrº João Chrysostomo de Oliveira Salgado Bueno”.
Por meio deste registro, sabemos que Albino era filho de Bento José da Cruz e de Dona Miquelina Romana, ele natural de Melgaço e ela de Lisboa. Era filho de portugueses que compunham um segmento atuante na política local. O batizado de Albino em 1822, já na cidade de Paranaguá, donde podemos concluir que a imigração de Portugal para o Brasil tenha ocorrido antes de 1817, que explanamos na sequência.
Abaixo segue os Maços da Igreja de Paranaguá do ano de 1817, aonde encontramos registro do seu pai Bento, provavelmente Albino ainda não era nascido.
Inciamos seguindo os indícios das relações e, lugares sociais ocupados por seu pai Bento José da Cruz e, assim podermos traçar as influências na formação de Albino José da Cruz.
Temos no ano de 1831 sua primeira presença na memória Histórica, da Cidade de Paranaguá de Antonio Vieira dos Santos (1951), sabemos que Bento foi um dos cidadãos que compareceu à reunião da Câmara para fazer uma contribuição voluntária‖ para construção de estrada da vila de Paranaguá a Morretes (SANTOS, 1951, v. I, p. 249).
O registro dos nomes e os valores das contribuições permitem compreender a dinâmica social de interpenetração entre vida pública e privada no Brasil oitocentista em Paranaguá.
Neste caso, cidadãos que compunham a administração local, contribuíram voluntariamente para a construção de uma estrada, um bem público que interessava de diferentes formas aos vários cidadãos que fizeram a subscrição.
A participação como cidadãos parnaguenses será uma das formas de reconhecimento e integração às redes de poder, micropoderes descontínuos e dispersos (FOUCAULT, 2009), da vila; mesmo cidadãos menos afortunados, como o professor Hildebrando, marcaram sua presença com doações mais modestas.
Bento da Cruz também foi relacionado na Sinopse dos cidadãos paranaguenses da principal nobreza que serve os cargos da governança da mesma Cidade desde o ano de 1800 a 1850‖(SANTOS, 1951, v. II, p. 36-37).
Antonio Vieira dos Santos não especifica quais cargos de governança‖ eram esses e, não temos informações mais precisas para o caso do pai de Albino.
Na descrição geral da Cidade de Paranaguá, suas ruas, travessas e edifícios públicos, o nome de Bento é precedido por capitão.
Em 1850, a família residia à: Rua da Cadeia e tem o seu início próximo ao colégio e, em meia curvatura vai finalizar na ribanceira junto ao estaleiro, toda rua é fechada de edifícios, entre os quais os mais notáveis são o dito colégio, a casa da Câmara e um edifício antigo da casa da fundição do ouro, que existiu até 1819, ou 1820, e também a capela da Ordem 3.ª de São Francisco das Chagas.
Na extensão desta rua de um lado e do outro lado tem casas de sobrado: 1.ª do Capitão Hipólito José Alves, a de melhor perspectiva que tem a Cidade, tanto pelo seu local como por ser feita ao gosto moderno, por Caetano de Sousa Pinto […] 5.ª a do Capitão Bento José da Cruz (SANTOS, 1951, v. II, p. 14, grifos meus).
Gostaria de destacar que na rua em que morava Albino e sua família, situava-se o antigo colégio dos jesuítas e a capela da Ordem 3.ª de São Francisco das Chagas guardemos estas informações para interpretação posterior.
O fato de ser Bento Jozé da Cruz denominado capitão, pode sugerir algum vínculo militar, à guarda nacional talvez. Bento da Cruz marca sua presença, relativamente discreta, na esfera administrativa da governança de Paranaguá, nos anos 1800.
Bento Jozé da Cruz tinha posse de um sobrado na principal rua da cidade, de terras e de escravos conforme os ” Maços da Igreja de 1818″ isso tudo coloca Bento José da Cruz entre os Proprietários principais que tem a Cidade de Paranaguá e seu Município que eram divididos entre “Proprietários principais negociantes” e “Proprietários fazendeiros”.
Entre estes últimos, Vieira dos Santos descreve. “Outros muitos proprietários que tem suas fazendas de agricultura e nelas fábricas de cana, arroz, mandioca e a maior parte com propriedades na Cidade e senhores de 15 a 30 escravos”.(SANTOS, 1951, v. II, p. 304), na lista encontramos Bento José da Cruz.
José Augusto Leandro (2003), em tese intitulada Gentes do grande mar redondo: riqueza e pobreza na comarca de Paranaguá, 1850-1888.
Analisa as hierarquias sócio econômicas e os aspectos da composição do patrimônio dos denominados “bem afortunados”, “afortunados e minimamente afortunados”.
Embora o pai do professor Albino não tenha sido um dos protagonistas da análise de Leandro (2003), por não possuir uma das maiores riquezas de Paranaguá, figurava entre os 15 maiores proprietários de escravos no ano de 1844 conforme quadro abaixo.
De posse dessas informações, identificamos o pai de nosso futuro professor padre Albino como um bem afortunado.
Conforme Leandro (2003), os dois principais indicativos de riqueza eram, como bem registrou Vieira dos Santos, os prédios urbanos e a escravaria (LEANDRO, 2003, p. 87).
A nacionalidade portuguesa e as posses o qualificavam na classe […] dos brancos e sobretudo daqueles que por sua posição constituíam o que se chama a boa sociedade‖ (RESENDE apud MATTOS, 2004, p. 126) que se diferenciavam do povo mais ou menos miúdo e dos escravos.
Enfim, a família Cruz, uma família portuguesa muito provavelmente branca, usufruía do direito à propriedade um dos sustentáculos de uma sociedade estruturada sobre a desigualdade, a hierarquia e a escravidão.
Além da presença na esfera administrativa municipal e das riquezas que o distinguiam, Bento José da Cruz foi arrolado, também, como um dos Provedores, escrivães, procuradores e tesoureiros que tem servido na Irmandade do Seminário do Santíssimo Sacramento da Cidade de Paranaguá que existia desde o ano de 1762, inclusive estando como escrivão em 1850 e, como escrivão em 1842-43 e provedor no ano 1845-46.
Os provedores ofereciam a festividade da semana santa com toda a pompa e grandeza‖ (SANTOS, 1951, v. II, p. 102).
Ou seja, a família Cruz também se encontrava inserida numa associação leiga, um espaço devocional de sociabilidade importante desde o Setecentos.
A memória que nos lega Vieira dos Santos traz sinais de que este tipo de inserção social conferia prestigio um dos possíveis elementos da posição na boa sociedade àquele com condições materiais e generosidade para as doações, e, ao fazer parte de uma irmandade, toda uma gama de relações que se intercruzava com outras oriundas de diversificadas esferas sociais estabeleciam-se e firmavam laços.
Portanto, o menino Albino pertencia a uma família de imigrantes portugueses com posses: terras, prédios urbanos e escravaria; que circulava por instâncias administrativas e devocionais e estabelecia laços de compadrio com outros indivíduos com participações também diversificadas, conforme verificamos a partir do registro de batismo ao conhecermos seus padrinhos. Capitão Antônio da Costa e Dona Maria Monteiro de Matos.
Ter um filho que se tornou padre indica que a bem afortunada família Cruz preocupou-se em oferecer algum tipo de escolarização aos seus descendentes.
A historiografia da educação vem apontando a heterogeneidade das práticas educativas no Brasil oitocentista, o que abre possibilidades diversas de escolarização para o menino Albino.
Ele poderia ter sido educado em casa por familiares ou particulares (educação doméstica), ter frequentado a escola pública do professor Hildebrando que se tornaria seu colega de profissão na instrução pública posteriormente, ou ter sido aluno em alguma aula particular (oficialmente temos fontes que indiciam apenas uma, mas é provável que existissem outras).
Ao que tudo indica, sua família escolheu a terceira opção.
Nas relações de alunos de 1829, 1830,1834e 1836, o professor particular Francisco Felix arrola um menino de nome Albino da Cruz. Nas quatro relações, o professor informa apenas o número e o nome dos alunos (a filiação não era informada).
Na primeira delas, em 1829, Albino é o vigésimo aluno, logo após o menino Francisco da Cruz provavelmente, o irmão mais velho por ser registrado primeiro, mesmo nome encontrado no início desta biografia, nos “Maços da Igreja de Paranaguá de 1818”.
Em 1830, os dois irmãos Cruz vinham seguidos por um terceiro, Arnaldo da Cruz.
Não foram localizadas as relações de 1831 a 1833. Em 1834, Albino era o segundo da lista indício de que os alunos matriculados há mais tempo vinham no início Francisco e Arnaldo já não estavam, mas outro José da Cruz marcava presença, era Oristeo José da Cruz, que também foi aluno de Francisco Felix nos anos de1836, 1837, 1838 e 1839.
Em 1836, o primeiro aluno da lista do professor Francisco Felix é Albino Jozé da Cruz. Desta vez, o professor Francisco Felix registrou o nome completo daquele que, muito possivelmente, era o seu aluno mais antigo.
Nesta relação de alunos, vemos Albino como o primeiro da lista e seu irmão Oristeu como o oitavo. Albino demorou-se nas primeiras letras. Foi oito anos de escolarização elementar (pode ter havido interrupção entre 1831 e 1833, já que não temos as relações destes anos, mas achamos pouco provável).
Que sentidos estariam relacionados com esta longa permanência?
Ele começou a frequentar a escola bastante pequeno, a demora talvez estivesse relacionada com a pouca idade no ingresso?
Com o seu adiantamento nos estudos?
Teria ele permanecido por não existir outra aula a frequentar naquele momento?
O seu tempo de escolarização contrasta com o de seus irmãos Francisco, Arnaldo e Oristeu.
O primeiro permaneceu pelo menos dois anos na aula de primeiras letras e o segundo por, no mínimo, um ano. No entanto, em 1834, nenhum deles estava mais, enquanto Albino continuou até 1836.
Já Oristeu (talvez, o caçula) frequentou a aula de Francisco Felix por quatro anos.
Verificamos que uma mesma família ofereceu diferentes experiências de escolarização para seus herdeiros entre um e oito anos de frequência à escola particular de primeiras letras.
Esta oferta diferenciada estaria relacionada com planos para o futuro dos filhos?
Uma possibilidade que podemos apenas sinalizar, pois, as fontes não oferecem elementos para investigá-la, é a de que Albino tenha se demorado simplesmente por gostar de estudar e, deste modo, após alguns anos tenha se tornado um assistente do professor Francisco Felix, um aluno-mestre.
Sua trajetória posterior e a opção pelo magistério reforçam esta possibilidade.
A sua trajetória escolar não se encerrou por aí. Entre os anos de 1837 e 1839, ele aparece nas três relações anuais de alunos de Joaquim José de Sant‘Anna , professor público da aula avulsa de Gramática Latina.
Soma-se, portanto, aos oito anos de escolarização elementar três anos frequentando uma aula avulsa de ensino secundário. Aula de latim, idioma caro à igreja católica, oferecida por outro padre-mestre.
Mais uma vez, as memórias históricas de Vieira dos Santos nos ajudam a avançar.
No parágrafo dedicado à instrução pública, ele dá notícia sobre a Aula de gramática latina e instituição dessa cadeira de ensino em Paranaguá‖.
Criada em 1768, nove anos após a lei de 28 de junho de 1759 do rei D. José I que proibia o método de ensino que praticavam os padres jesuítas, a cadeira foi ocupada por oito professores três deles padres.
Ficou vaga várias vezes, situação na qual se encontrava desde 1829, quando o padre-mestre Joaquim José de Sant‘Anna a assumiu, justamente, em 1837.
Neste mesmo ano, Albino passou a frequentá-la.
A permanência prolongada na aula de primeiras letras pode ter sido a opção possível para acesso à escolarização naquele momento.
O avanço para o ensino secundário parece não ter ocorrido antes pelo simples motivo de que não era oferecido na vila de Paranaguá entre os anos de 1829 e 1837. Quando a possibilidade surgiu uma aula avulsa secundária de gramática latina Albino deixou o professor particular Francisco Felix que acompanhara ao longo de oito anos para aprender latim com um professor público.
É interessante notar que alguns anos depois, Albino abraçaria o mesmo ofício que seus mestres apresentando algumas semelhanças com cada um deles.
Os exemplos dos professores parecem ter, portanto, construído a experiência docente de Albino e suas opções no processo de constituição de sua identidade docente. Os indícios sugerem que os espaços escolares vivenciados pelo sujeito Albino José da Cruz e, os diferentes modelos de docência (VIDAL, 2010, p. 711-712), permitiram-lhe construir um caminho possível para a sua formação naquele momento em que as escolas de formação de professores iniciavam-se timidamente em alguns pontos isolados do Império.
A Relação dos Alunos que frequentaram aula no final do ano letivo de 1837 do professor de Gramática Latina Joaquim José de Sant‘Anna era composta, tal como as dos anos seguintes, pelas seguintes categorias:
Tornou-se um professor de primeiras letras como Francisco Felix; no entanto, não optou pela atuação particular, ocupou uma cadeira como professor público e, também foi um padre-mestre como Joaquim Jose Sant‘Anna.
Nomes, Filiações, Dia da Matrícula, Idades, Saídas, Frequência ou faltas, aproveitamento e Observações.
Segundo o professor Joaquim, Albino José da Cruz tinha 13 anos, em 1837, era filho do Capitão Bento Jozé da Cruz, matriculou-se em 4 de abril de 1837, faltou 16 dias e meio, estava na tradução do 1.º dos livros clássicos e nas observações informava o professor que o aluno “Muito se aplicava“.
Dos dezessete alunos matriculados na aula de gramática latina, nove haviam frequentado a aula de primeiras letras do professor Francisco Felix. Mais da metade, portanto. Levando à interpretação de que parecia haver uma tendência, para os alunos da aula particular, a continuar os estudos, quando esta possibilidade existia.
Nos anos seguintes, o professor não fez avaliações positivas do aluno considerando-o pouco aplicado e que faltava sem causa justa. Aliás, a avaliação de quase a totalidade dos alunos foi a mesma. O que teria mudado em tão pouco tempo? Não temos indícios para responder a este tipo de questão, podemos, entretanto, aventar algumas hipóteses.
A avaliação dos alunos estaria relacionada com as dificuldades próprias do aprendizado da língua latina? Significava uma resistência dos alunos ao novo professor?
As faltas teriam alguma relação com o fato de ser uma aula pública que permitia o acesso mais amplo das diferentes camadas da população?
Lembrando que muitos deles vinham de uma aula particular, na qual a restrição econômica estava posta. Mais uma vez, as fontes permitem colocar questões, mas não dão elementos para a elaboração de uma resposta. Talvez, Albino já tivesse iniciado ou se preparando para começar a formação religiosa para ser padre e, estivesse enfrentando dificuldades para conciliar a aula de latim e o noviciado.
Não localizamos nenhum outro rapaz com o sobrenome Cruz nos mapas enviados por Joaquim José de Sant‘Anna; o que sugere que apenas Albino tenha frequentado o ensino secundário público em Paranaguá.
Em 1839, Albino completava 11 anos de escolarização, de acordo com as nossas contas. Segundo Vecchia (2006, p. 67), na já emancipada província do Paraná o ensino secundário formava cidadãos que pudessem disputar os cargos públicos e defender os interesses da Província junto à Corte.
Para a 5.ª Comarca, esta interpretação também parece apropriada, Albino foi um dos filhos da família Cruz que percorreu um longo percurso de escolarização, inicialmente numa aula de primeiras letras particular, e, posteriormente, frequentou o ensino secundário encaminhando-se para a vida religiosa e letrada no serviço público prática recorrente entre as famílias com meios do período.
Não temos fontes sobre o período de 1840 a 1845. O fato de já ser padre quando foi nomeado professor da 2.ª cadeira é indício de que sua formação foi concluída num seminário católico.
Por meio do seu inventário, sabemos que Albino foi ordenado pela Sagrada Ordem de Presbítero em doze de maio de mil oito centos e quarenta e cinco 12/05/1845, sendo o Bispo celebrante o Padre Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade tornando-se Presbítero Secular do Bispado de São Paulo.
Já sabemos que o professor de Gramática Latina, Joaquim José de Sant‘Anna, foi outro padre-mestre de Paranaguá e lançamos a hipótese de Albino tê-lo como uma referência de professor na construção da sua experiência docente.
Mais do que isso, é preciso considerar o status da educação religiosa na sociedade oitocentista. A Igreja Católica era uma importante força educativa e as instituições religiosas eram espaços privilegiados, socialmente legitimados, de formação escolarizada. Nesse sentido, a mobilização da população de Paranaguá para a construção de um colégio de jesuítas na vila a partir do final do século XVII é bastante elucidativa. As atas da Câmara, citadas indiretamente por Vieira dos Santos, registram os esforços empreendidos pelos Paranaguenses:
“1690 A Câmara de Paranaguá, por estes anos, unida à representação do povo, solicitaram do Provincial da companhia de Jesus, a vinda de seis Padres religiosos da mesma Companhia, prometendo de lhes fazer Colégio, para suas residências a custas dos povos, dar-lhes dinheiros para compra de escravos e doações de terras para seus estabelecimentos de agricultura, visto que eles dessem aulas de ensino primário e de latinidade e ensinassem à mocidade os dogmas da Religião.(SANTOS, v. I, p. 60)”.
“Trajetórias dos Professores de Primeiras Letras 5 Comarca da Provincia de São Paulo e da Província do Parana MUNHOZ, FABIANA GARCIA”. Texto acima.
O padre Albino José da Cruz foi professor da segunda cadeira de primeiras letras da cidade, provido em janeiro de 1845.
Em 1846 o Padre Albino fez o Batismo de Brasílio Itibere.
Foi Professor de figuras ilustres de Paranaguá e do Brasil abaixo segue o testemunho do Dr Leocádio sobre o Padre Albino ter sido seu professor, foi professor de Cleto da Silva gigante abolicionista, se não o maior de todos os educadores do Paraná certamente um dos maiores.
Carta de nomeação ao Reverendo Albino José da Cruz professor da Escola de Primeiras Letras da Cidade de Paranaguá com ordenado de 400 mil réis por ano.
Despacho de 28 de janeiro de 1845. Foi examinado e aprovado na forma da lei. AESP EO 0799 Folha 5828-jan-1845.
Não localizamos a data em que o professor deixou o magistério, tampouco sabemos se ele se aposentou como professor. O último vestígio localizado do padre como professor é de 1856 e, em 1861, substituiu Ricardo Augusto da Silva Rego no cargo de subinspetor da instrução pública de Paranaguá.
A comissão de inspeção das escolas de Paranaguá elaborou, em 19 de dezembro de 1846, o seguinte relatório sobre as aulas de primeiras letras existentes na cidade. Optei por transcrevê-lo na íntegra, nesta introdução, com o objetivo de apresentar os atores sociais deste estudo, os professores de primeiras letras daquela localidade.
TEMPLUMHOCA EDIFICATUM 1578
(O íntegro vigário padre JOSÉ ADAMO jamais mandaria esculpir tais dizeres, se não tivesse absoluta certeza; pois, uma
“data” em História, é de primordial importância).
A velha Confraria do Rosário, criada 77 anos depois da elevação do Povoado a VILA , teve, de fato, início no ano de 1725.
Em 1732, criaram também a Irmandade do “Santíssimo Sacramento”, e, em 1756, a de “São Miguel e das Almas”; ambas de curta duração.
Nesse ano de 1725 a velha “capela” ameaçava ruínas pois já tinha 147 anos de existência, pelo que a Câmara Municipal representou junto ao rei de Portugal, a fim de que os necessários reparos fossem executados com ajuda de custo dos “cofres reais”.
Estávamos nos meados desse ano de 1725.
A VILA , tendo à frente o Capitão-Mor André Gonçalves Pinheiro achava-se nos primórdios de sua civilização.
A religião católica sendo oficial e obrigatória, as Irmandades se tornavam necessárias, como parte integrante da vida social da vila. Já haviam decorrido 79 anos da ereção do Pelourinho.
Era tempo de se criar uma “Irmandade” que, naqueles tempos tinha um valor extraordinário. Foi quando os homens de maior influência local se reuniram na sacristia da velha igreja e, presididos pelo vigário da Vara Cristovão da Costa Oliveira fundaram a “Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá” (conforme já ficou dito).
Os Estatutos, aprovados pelo bispo do Rio de Janeiro D. Antonio de Guadalupe chegaram a Paranaguá em 16 de junho
de 1727, bem como o “Compromisso” da Associação.
Em 1854 Albino era um dos Diretores da “Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá” .
Em uma das últimas reuniões, a 3 de outubro de 1872 (talvez última), a Irmandade recebeu um ofício do Sr. João Gonçalves de Araújo Triste, ofertando um “sino”, grande, para substituir ao que se achava partido na torre da Matriz.
O Sr. Triste dizia já ter encarregado ao Sr. Manoel Antonio Guimarães (comendador) de mandar vir de Braga, em Portugal, o referido sino.
A Mesa deliberou oficiar-se ao dito Sr. agradecendo tão valiosa quão espontânea oferta. Essa última Ata (do livro rubricado pelo Juiz Municipal de órfãos, João Ladislau Japí-Assu de Figueiredo Mello) traz assinaturas importantes, como as do JUIZ da Irmandade Joaquim Pinto de Almeida; do Escrivão Ricardo Antonio da Costa; do Vigário Albino José da Cruz; e dos demais mesários, como a de João Estêvão da Silva (um dos fundadores do Clube Literário), com descendentes diretos (netos) ainda em Paranaguá, e a de Cândido José Ribeiro, avô dos descendentes da Família Anibal Ribeiro. Outros mais, cuja descendência não pudemos achar.
Albino já era Vigário em 1857.
OS VIGÁRIOS DE PARANAGUÁ
Encontramos no livro de Vicente Nascimento Junior “História Cronicas e Lendas de Paranaguá” uma citação em sua pág. 371, sobre a Paróquia de Paranaguá, que ao tempo da sua criação abrangia todo o território da marinha desde o Varadouro até Santa Catarina e para o Oeste até as missões jesuíticas da margem esquerda do Rio Paraná, foi destacada a seguinte relação dos Párocos que aqui serviram a contar de 1655, pois que antes da criação em apreço aqui exerceram os Vicariatos religiosos sob a jurisdição eclesiástica de Cananéa.
Não só com a eficiente e bem selecionada biblioteca e com as famosas assembleias literárias, esparzia o “Clube Literário” os benefícios da cultura na cidade, com repercussão pela Província e reflexo na Corte do Rio de Janeiro até onde chegavam os rumores de suas atividades. Também através da palavra escrita espalhava prodigamente os tesouros da inteligência de seus associados, para lustre de Paranaguá. Na época em que se fazia sentir a falta da imprensa como meio de divulgação, o “Clube Literário” criou e manteve publicações por intermédio de tipografias particulares até possuir oficinas gráficas de sua propriedade. Assim, no começo das atividades, fez contrato, em 1873, com a modesta oficina de Evaristo José Córdenas para a publicação de seu primeiro órgão de imprensa o “Echo litterario”. Esse jornal do clube era de tiragem semanal, contando com a colaboração única e exclusiva dos associados, sob controle e orientação de uma Comissão de Redação nomeada pela Diretoria e integrada por sócios.
Em 1873 Albino era um dos mais ativos colaboradores do Periódico “Echo Litterário”.
No ano de 1859 pede sua aposentadoria como professor.
Fixou-se na Política em Paranaguá como Vereador no ano de 1860 conforme nos informa o periódico Dezenove de Dezembro no ano de 1860.
Sabemos que Albino era um Padre de posses, tinha plantações, vendia madeira, e tinha escravos, não ficou muito claro quando ele deixou de ser um escravagista, talvez alguns de seus amigos o tenham influenciado, porque em 1870 ele dá uma guinada em sua visão, tornando-se um abolicionista convicto.
Maçom
Membro ativo da Loja Perseverança de Paranaguá, portava o diploma do Grau 18.
Testemunhou em 1870 a entrega da importância feita pela Loja para Alforria de uma menina escrava de nome “Lucia”, filha da escrava Maria, que pertencia à Sra. Francisca A. Miranda.
No dia seguinte a isto, também foi libertada a menina “Esperança” irmã de Lúcia, além de Zelinda, filha de escrava e pertencente ao cidadão Prudêncio Ferreira dos Santos, tudo isto deve ter ocorrido entre 21-24 de Junho, época em que se instituiu a compra das alforrias pela Loja Perseverança, iniciativa de seu então Ven. Alexandre Bousquet.
Estas Alforrias faziam parte de um programa de libertação de escravas de até quatro anos, mediante a compra de alforria das mesmas pela “Loja “Perseverança”, que se envolveu neste projeto desde 18 de janeiro de 1868, quando por proposta de seu Venerável Alexandre Bousquet foi aprovada em sessão, a criação de um fundo especial para a arrecadação de dinheiro para a compra de alforrias.
Interessante que o Padre Albino participou ativamente da maçonaria paranaense e, não se tem notícias que seus superiores o censuraram.
No ano de 1869 foi definitivamente provisionado como vigário da Paróquia de Paranaguá.
Foi responsável pelas obras da Matriz de Paranaguá no ano de 1872.
Uma declaração sua, feita às vésperas da morte, em março de 1876, junta aos autos do seu inventário, tinha o seguinte teor:
“Albino José da Cruz. Presbytero Secular do Bispado de São Paulo:declaro que sou natural de Paranaguá, que meus pais foram bem conhecidos, que tomei a Sagrada Ordem de Presbytero em dose de maio de mil oito centos e quarenta e cinco, sendo o Bispo celebrante o Padre Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, e que faleceu no anno seguinte. Declaro mais, que sou homem, por isso pecador, tive dois filhos, que os reconheci por escriptura publica se não me falha a memoria em mil oitocentos setenta e treis, cujo traslado está com meus papeis em uma lata na gaveta da Comoda, José Albino das Dores e Maria Joanna da Costa os quaes são meus legítimos herdeiros”.
A questão dos ilegítimos perpassa a sociedade oitocentista atingindo indivíduos de distintos pertencimentos étnicos e sociais, como é o caso do padre-mestre Albino que, a despeito dos votos de castidade, por uma d‘aquelas fragilidades a que estão sujeitos todos os homens neste mundo‖95, experimentou formas alternativas de vivenciar o cotidiano; teve dois filhos, o primeiro com Maria Caetana das Dores e a segunda com Leocádia Maria da Costa96, ambas ―sem impedimento‖, a segunda viúva. Os filhos perfilhados pelo padre nasceram em torno de 1858 e 1866 de acordo com as informações sobre o processo, apresentadas no inventário.
“Declaração de Albino José da Cruz de 17 de março de 1876”.
Autos de inventário dos bens do finado Padre Albino José da Cruz inventariado. D. Maria Joanna da Costa inventariante. 1880. Juizo da Provedoria da cidade de Paranaguá.
Museu da Justiça, p. 29-33.95
Expressão presente na Escritura Pública de reconhecimento de filhos junta aos Autos de inventário dos bens do finado Padre Albino José da Cruz inventariado. D. Maria Joanna da Costa inventariante. 1880. Juizo da Provedoria da cidade de Paranaguá.
Museu da Justiça, p. 34-35:
“Escritura pública de reconhecimento de filho que faz o padre Albino José da Cruz, como abaixo se declarou, saibão quantos este publico instrumento virem que no anno de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oito centos e setenta e treis, aos oito dias do mês de março do dito anno, nésta Cidade de Paranaguá, e em casa de morada do Reverendo Padre Albino José da Cruz, tabelião vim executar e sendo ahi presente o referido padre Albino José da Cruz, por ele me foi dito em presença das ditas testemunhas, adiante marcadas e assinadas, sendo já Clérigo de ordem […], porem que, por uma d‘aquelas fragilidades a que estão sujeitos todos os homens neste mundo, teve com Maria Caetana das Dores, natural desta cidade, mulher solteira sem impedimento algum, e hoje falecida, um filho de nome José Albino das dores, que hoje conta dezenove anos de idade, e é natural d‘esta cidade; e em Leocádia Maria da Costa, viúva de Joaquim Maria da Costa Ferreira, mulher viúva e sem impedimento algum, teve uma filha de nome Maria Joanna da Costa, que conta hoje 14 anos de idade, natural desta Cidade, os quaes ditos seus filhos, é sua vontade perfilhados, como por esta perfilhada os tem e reconhece-os com seus legítimos filhos, para que eles possam ser seus herdeiros e gozar de todas as honras e prerrogativas como se legítimos fossem, em virtude da lei de 2 de setembro de 1847”.
Testamento de Albino José da Cruz.
Faleceu em Paranaguá em 1876 nada melhor que uma publicação no Jornal Dezenove de dezembro sobre quem foi Padre Albino.
“Ante Hontem deu a alma ao Creador o Rev. Padre Albino José da Cruz, vigário de Paranaguá.
A Província não pode deixar de chorar o passamento de tão digno filho.
Natural da cidade de Paranaguá, com devotamento e consciência exerceu os deveres de Ministro de Deus, os de bom cidadão, estremecido filho, sincero e dedicado amigo.
O Padre Albino José da Cruz foi fervoroso levita de três religiões santas, a de Deus, a da Pátria e a da humanidade, sua fonte altiva e nobre pendeu para à terra ao peso dos árduos deveres do ensinamento público, do sublime, mas penoso ministério do altar de Jesus Cristo e da prática das virtudes morais e civis.
Fazendo sua entrega religiosa e literária em tempo em que ela estava ainda mais atrasada do que hoje está, supria pela inteligência e, pelo talento, o que a doutrinação da escola não pode dar-lhe, banhando-se no ornamento do púlpito do altar.
A pena que lhe vota esta merecida homenagem preza a verdade e reverência a máxima de que ante tumulo não se mente.
Tendo feito o padre Albino José da Cruz seu ligeiro transito por esta esfera que compõe a irmandade do universo, rogamos a todos os seus patrícios e amigos que guardem sua memória na terra e que enviem para a salvação de sua alma fervorosa preces ao senhor Deus e Criador, ante cujo tribunal de trEmenda justiça o mesmo justo deve tremer.
O hyno sublime que cheio de unção muitas vezes proferiu de coração o Padre Albino José da Cruz, em favor de seu semelhante, seja aplicado a sua alma.
Facu animae donctur
Paradici gloria
Dae-lhe , Senhor a Bemaventurança do Céu”.
JM
Hamilton F Sampaio Junior
Referências:
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SOARES, Moises. Albino José da Cruz:
Albino José da Cruz. Instituto Moises Soares, Http://msinstituto.blogspot.com/, p. 1, 11 fev. 2016.
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