Em “Notas Antoninenses do Periódico A República de 10 de maio de 1915”, encontramos:
“Daqui, da minha tenda de trabalho onde escrevo, estou ouvindo o alarido que está fazendo a rapaziada ruidosa da Universidade, que alegre e prazenteira, cheia de vida e de camaradagem, aguarda o inicio das aulas.
O dia está inspirado. A noite lentamente se aproxima.
Ophelia, a formosa e branca rainha da noite, surge, podo por sobre esta opulenta terra paranaense, um reflexo de luz finíssima, cujos raios brandamente se escoam por entre o verde negro dos pinheirais que balouçam sonolentos.
Apoiado na janela, reclinei a cabeça a mão, e como que narcotizado por mil recordações amarguradas e torturantes, senti um melancólico recolhimento íntimo e com o olhar abismado para o crepúsculo que de mansinho tudo envolvia, elevei o meu pensamento aos paramos do além, tendo a alma invadida por uma dolorosa tristeza e presa por uma comoção sútil e com os olhos cujos cílios velam-se de lágrimas, as cristalinas pérolas da vida, mirava a solene paz da misteriosa natureza, enquanto o pobre coração suspirando, cheio de recordar sincero, diz numa expressão muda e de sentir, como já disse o imortal José de Alencar:
“Tudo passa sobre a terra” !,..
3 de maio de 1909!…
Seis anos são passados que a morte, surgindo dentre os escombros tétricos da desolação rude e sinistra, colheu em suas garras fatais, esfolhando o derradeiro lírio de uma existência fidalga, roubando o brilho de um olhar bom e fazendo aparecer um sorriso amigo e consolador, numa serenidade de justo, o distinto e inesquecível paranaense cujo nome querido em cima destas pálidas linhas que traço repassadas de saudade.
Antonio José Leite Mendes nasceu em Antonina no dia 15 de janeiro de 1860, e ainda muito jovem seguiu para o Rio de Janeiro onde foi praticar o comércio, voltando logo ao seu torrão natal. Educado esmeradamente no trabalho, fez-se homem, e na luta pela vida mostrou que, sem os atavios intelectuais, pôde-se perfeitamente compreender o cumprimento do dever.
Ainda bem moço começou a prestar à causa pública relevantes serviços, tendo empregado o seu meio século de vida em fazer o bem à sua terra e aos seus semelhantes.
Como abolicionista foi “Totó Mendes” um dos mais sinceros e entusiastas sendo que em 1883 quando faleceu seu pai o inesquecível Comendador Joaquim Leite Mendes Junior, regular fortuna em dinheiro e escravatura, o insigne democrata num gesto nobre impulsionado pelo seu grande coração seu carta de liberdade a todos os seus escravos que eram em mais de cem, dando-lhes ainda em seus armazéns comerciais da firma Leite Mendes & Cia, e em sua fazenda do Rio do Meio ou Sitio do mendes, necessário trabalho pagando-lhes salários idênticos aos demais empregados.
Ocupou muitíssimos cargos de destaque em seu torrão natal, tendo em todos eles emprestado concurso eficaz de sua dedicação e amor por Antonina, cuja população sempre recorda o seu nome com reconhecimento e saudade.
No entanto ali não há sequer uma lembrança de homenagem ao prestante cidadão!
Uma praça ou uma Rua da formosa cidade litorânea devia ostentar o nome do Coronel Antonio José Leite de Mendes, e aí Antonina e o seu bom e laborioso povo terá pago a um dileto filho que já se foi, um tributo de gratidão.
Antonina e todos aqueles que amam a simpática “Princesa do litoral”, adorável terrinha de Nossa Senhora do Pilas, o dia de hoje é de recordações por assinalar o desaparecimento, dentre os vivos, de um benemérito servidor daquela pitoresca cidade, o autor destas esmaecidas linhas compartilha, enviando a sua dextra para um ósculo de amizade.
3 de maio de 1915
Um Capelista”
Octavio Secundio em uma coluna no Jornal “O Dia” de 10 de Outubro de 1943 edição 06188 de Curitiba página 7, nos faz menção ao nosso personagem quando explana sobre a abolição e seus exemplos:
Cita ele “Antonio José Leite Mendes em Antonina Paraná, tendo em 1885 como herança de seu pai o Comendador Joaquim Leite Mendes, entre parte dinheiro e imóveis, recebido 114 escravos, estes vieram da fazenda do Rio do Meio trazer-lhe presentes, e o espírito abolicionista do Sr. Mendes, em retribuição ao presente que lhes traziam seus cativos, que eram trabalhos de taquara e ramalhetes de flores, no mesmo dia, no notário Antonio da Costa Ramos Flores, assinou a carta de alforria de todos os 114 escravos.
Então assim iremos discorrer sobre nosso personagem que podemos dizer tinha uma alma de aço, mas um coração de menino.
O Piratininga 31 de Agosto de 1849 página 3 edição 14-São Paulo.
Em 1849 o Paraná ainda fazia parte da Província de São Paulo, devido a isto os jornais eram todos da Província de São Paulo. O avô de Antonio José Leite Mendes tinha seu mesmo nome e era Capitão da Guarda Nacional e foi eleito com 350 votos para Antonina, e era apoiador do gabinete de Ouro Preto.
O Historiador Vieira dos Santos em suas memórias em “Genealogia Paranaense Vol. 3 “nos conta que em 23 de julho de 1849, remeteu à Câmara Municipal de Antonina aos cuidados do Capitão Antonio José Leite Mendes (Avô) em a “Memória Histórica de Antonina” de sua autoria.
Nos informa o autor na sequencia que o seu estudo foi devolvido de forma até grotesca.
Genealogia Paranaense página 47 Volume 3.
A Partir deste ponto já falamos de Antonio José de Leite Mendes (Neto) que não levava Neto em seu nome porque provavelmente seu avô já tinha falecido.
Em 1884 encontramos no Periódico THE ANGLO BRAZILIAN TIMES a informação sobre a soltura de dez escravos, provavelmente este número esta errado, pois eram na realidade 114 escravos que eram de seu Pai o Comendador Joaquim Leite Mendes.
31 de Agosto de 1884 THE ANGLO BAZILIAN TIMES pág 3 edição 32 Rio de Janeiro
.
1884 Jornal do Comércio Terça Feira edição 64 página 3 editor Luiz Coelho.
Era sócio da empresa Leite & Mendes sendo seus sócios Joaquim Leite Mendes e Policarpo José Pinheiro.
Casou-se neste período com Balbina Pereira Mendes, segundo registro nos livros paroquiais de Antonina dos anos de 1885-1940 livros 1 a 13 página 70.
Registros Paroquiais Antonina
Participou da Companhia Alimentária de Antonina como acionista em 1887, segundo a Gazeta do Paraná edição 0134. Vereador em 1887
1887 26 de Novembro Folha Comercial edição 92 página 4 editor Manoel M Marinho.
1888 Gazeta Paranaense 23 de Dezembro edição 280 pág 4 editor Benedicto Carrão
Foi nomeado membro da Comissão para formação de um pedágio na Estrada da Graciosa, não aceitando esta nomeação a mesma passou para José Francisco Oliveira Marques.
Foi promovido ao posto de Tenente ajudante servindo como secretário.
1887 Gazeta Paranaense 13 de Setembro edição 208 pág 4 editor Benedicto Carrão.
1888 Gazeta Paranaense 23 de Dezembro edição 280 pág 4 editor Benedicto Carrão
Em 1891 promovido a Coronel da Guarda Nacional.
1891 Gazeta de Noticias 14 de Setembro edição 257 página 3 ,
Tornou-se Intendente Municipal de Antonina ele e Flávio Pinto Chichorro, de ordem do Governador do Estado.
Maçom
Segundo SPOLADORE em sua obre “História da Maçonaria Paranaense no Século XIX ” , nos traz a condição de Antonio José Leite Mendes como maçom iniciado na Loja PERSEVERANÇA em Paranaguá, o seu Pai Joaquim Leite Mendes foi membro ativo da Loja “Estrela de Antonina” bem como seu irmão Joaquim Leite Mendes Jr.
Foi responsável pelo Comissão de Empréstimos de Guerra em Antonina, e devia estar ligado ao Coronel Theophilo Soares no levante de 1894 ocorrido no litoral.
Jornal a Federação 2 de Fevereiro de 1894 edição 5 editor Julio Koch página 3.
1888 Gazeta Paranaense 23 de Dezembro edição 280 pág 4 editor Benedicto Carrão.
Seu nome estava na lista do Marechal Floriano Peixoto como traidor dos legalistas em 1894.
Foi um dos financiadores da construção da Igreja São Sebastião em Quatro Barras em 1895.
Eleito Vereador em Antonina 1904 e reeleito em 1907 foi presidente da (Corporação Municipal) Camara de Vereadores daquele município.
Era membro ativo do Partido Republicano, inclusive um dos organizadores da recepção ao Vicente Machado quando retornou da Europa em 1906.
Faleceu em 24 de Abril de 1916.
Hamilton Ferreira Sampaio Junior
Referências:
Biblioteca Nacional
Jornais Dezenove de Dezembro, A Federação e outros
Alexandre Cássio de Souza – Coronelismo, Guerra Civil Federalista e Contestado: Breve Análise das Relações Políticas no Paranáhttps://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939J-DF33-DC?i=320&cc=2177282 https://portouniao.webnode.com.br/quem-foi-/cel-amazonas-de-araujo-marcondes/https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939J-DF33-DC?i=320&cc=2177282
Bley Waldemiro Júnior, in Genealogia da Família Bley
SPOLADORE HERCULE, História da Maçonaria Paranaense no século XIX
POMBO ROCHA, Para a História
Wikipédia
http://ma.zanon.zip.net/arch2008-05-11_2008-05-17.html
Biblioteca Nacional
SAMPAIO JUNIOR HAMILTON Entre o Compasso e o Esquadro: A Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná no período de 1830 até 1930, pág 301.
SAMPAIO JUNIOR HAMILTON Entre o Compasso e o Esquadro: A Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná no período de 1830 até 1930, pág 32.
SAMPAIO JUNIOR HAMILTON Entre o Compasso e o Esquadro: A Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná no período de 1830 até 1930, pág 60.
ABREU, A. Dicionário (v.I); ALBUQUERQUE, C. Mensagem (1916)
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