AQUIDABÃ

admin |16 março, 2021

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Acervo: Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha

Encouraçado construído nos Estaleiros Samuda & Brothers, Inglaterra, sob fiscalização do Chefe de Divisão José da Costa Azevedo, posteriormente Barão de Ladário. Em maio de 1883, foi iniciada sua construção e, apesar do empenho do futuro Barão de Ladário, somente em 17 de janeiro de 1885 foi lançado ao mar em Poplar, Inglaterra, sendo submetido à Mostra de Armamento em 14 de agosto de 1885.

Recebeu do Governo Imperial o nome de Aquidabã, em homenagem ao riacho afluente do Rio Paraguai, às margens do qual se travou a batalha de primeiro de março de 1870, que pôs fim à Guerra do Paraguai.

Suas características principais eram:

Suas medidas eram 85,40 m de comprimento; 15,86 m de boca; 5,60 m de calado à vante; 5,55 m de calado à ré; 5.029 t de deslocamento.

Era armado com quatro canhões de retrocarga Armstrong de 234 mm, em duas torres dispostas diagonalmente; quatro canhões de 146 mm no convés superior, dois na proa e dois na popa; dois canhões de tiro rápido; e 15 metralhadoras Nordenfelt.

Tinha cinco portinholas para lançamento de torpedos Whitehead, duas por banda e uma popa.

As máquinas, caldeiras, paióis de pólvora e bombas hidráulicas para mover as torres, eram protegidas pela couraça do costado de aço, com embolo de madeira, cuja espessura variava de 7 a 11 polegadas, e por um convés também encouraçado de 12 polegadas.

As máquinas eram inteiramente independentes, compound, de ação direta e de três cilindros, de 6.200 HP; as caldeiras, em número de oito, estavam instaladas em quatro compartimentos.

O navio tinha combustível para 23 dias, andando a dez nós e velocidade máxima de 15,5 nós.

Às duas torres que giravam com as meias torres eram revestidas com uma couraça de aço de dez polegadas.

Era aparelhado a Galera, com velas envergadas em três mastros e uma só chaminé. Seus planos foram traçados pelo notável Engenheiro Naval Sir Edward Reed, com as modificações de engenheiros brasileiros, Trajano de Carvalho e outros.

As máquinas foram construídas pela firma Humphreys & Tenant.

A capacidade das carvoeiras era de 600 toneladas em carga natural, de 700 em sobrecarga, permitindo ao navio um raio de ação superior a 4.500 milhas em velocidade econômica.

Seu custo, na época, foi de 345 mil libras esterlinas.

Como categoria de navio, foi muito discutido em seu tempo, e os planos mereceram as melhores referências, entretanto, a propósito de sua couraça, suscitou-se entre o seu primeiro comandante, o Capitão de Mar e Guerra Custódio José de Mello, nomeado a 14 de fevereiro de 1885, e o Almirante Barão de Ladário, que foi o Chefe da Comissão fiscalizadora, forte polêmica, que ocasionou para o navio o batismo de couraçado de papelão. A ironia da sorte, porém, reservou ao próprio autor desse qualificativo o destino de se abrigar em sua muralha de aço quando em luta contra o governo do Marechal Floriano. Partiu de Londres em 16 de dezembro de 1885 e, com escalas em Lisboa e Bahia, chegou ao Rio de Janeiro em 29 de janeiro do ano seguinte.

O Aquidabã foi um navio que sempre esteve em serviço ativo, fazendo parte das divisões mais importantes que evoluíram ao longo de nossa costa com diversos chefes.

Esteve por duas vezes em comissão nos Estados Unidos: a primeira (vez) comandado pelo Capitão de Mar e Guerra Júlio César de Noronha e arvorando a Insígnia do Almirante Balthazar da Silveira e a segunda, acompanhado dos Cruzadores República e Tiradentes, sob o Pavilhão do Contra-Almirante Júlio César de Noronha, de modo a representar o Brasil na Revista naval de Hampton Roads, por ocasião da Exposição de Chicago, durante a presidência de Stephen Grover Cleveland.

Participou do movimento revolucionário de 23 de novembro de 1891, sob a chefia do Contra-Almirante Custódio José de Mello, fazendo um disparo para terra que atingiu o zimbório da Igreja da Candelária.

O navio foi chefe no movimento revolucionário de 6 de setembro de 1893, sob a direção do Almirante Custódio José de Mello, sendo comandado pelo Capitão de Fragata Alexandrino Faria de Alencar.

Durante esse movimento, por três vezes forçou a barra, sob o canhoneio dos fortes da entrada, sem maiores danos, e foi, finalmente, atingido pela Torpedeira Gustavo Sampaio, a 16 de abril de 1894, na barra norte de Santa Catarina, quando guardava o Porto do Desterro e, sozinho, assistia aos ataques da Flotilha legalista, resultando-lhe enorme avaria. Abandonado, foi aprisionado pela Esquadra adversária, recebendo do Almirante Jerônimo Gonçalves o nome de \”Dezesseis de Abril\”, homenageando a data do combate em que ocorreu sua prisão, sendo substituído pouco depois pelo de \”Vinte e Quatro de Maio\”, maior batalha campal da América do Sul ‒ Tuiuti, para voltar ao primitivo nome, após acalmados os ânimos políticos, por Aviso de 19 de abril de 1898.

Ligeiramente reparado, foi trazido para o Rio de Janeiro e, em seguida, enviado, sob o comando do Capitão de Mar e Guerra Nunes Belfort, para sofrer os reparos necessários no casco e máquinas, nos Estaleiros alemães da Companhia Vulcan, em Sttetin, e na artilharia nos de Elswick, em Newcastle-on-Tyne, na Inglaterra. Com a reforma que sofreu, terminada em 1897, o armamento do navio passou a ser: de quatro canhões de 203 mm, modelo Armstrong, nas duas torres, cujos aparelhos foram todos reparados; e mais quatro de 120 mm, tiro rápido, do mesmo modelo; além de oito de menor calibre para defesa contra torpedeiras; e quatro automático Maxim no passadiço. A cinta couraçada era de 11 polegadas com embono de 2 pés acima da linha d\’água. A proteção das torres era de 11,5 polegadas (29,21 centímetros) do mesmo aço compound.

A torre de comando tinha 10 polegadas de espessura, recebendo nessa reforma dois mastros militares.

O ano de 1903 marcou a fase de renovação na Marinha. O Aquidabã, exceto na artilharia das torres, que era considerada excelente, tinha pouca marcha e precisava ser modernizado.

As reformas foram realizadas no Dique Santa Cruz, na Ilha das Cobras. Obedecendo à doutrina corrente do não armamento dos encouraçados com tubos de torpedo acima da linha de flutuação, à frente da qual estava o Estado-Maior Naval Estadunidense, foram retirados os dois tubos ainda assim posicionados no Aquidabã, e também os dois pesados mastros militares, permanecendo apenas um mastro de sinais. Nesta terceira fase, o encouraçado serviu em experiências de telegrafia sem fio, tendentes a introduzir na Marinha a modernização das comunicações, realizando também diversas viagens de instruções.

Ainda em 1903, fez uma viagem de 20 dias com aspirantes até a Ilha Grande de São Sebastião e Santos. A 5 de Abril de 1904, zarpou novamente com guardas-marinha. De volta, entrou no dique saindo a 22 de junho. Foi o “navio chefe” de diversos almirantes, fazendo várias viagens ao longo da nossa costa, em instrução de aspirantes e guardas-marinha e esquadras de evoluções. Em 1906, fazia parte da Primeira Divisão Naval chefiada pelo Contra-Almirante Rodrigo José da Rocha. Num dos seus cruzeiros à Ilha Grande, sob o comando do Capitão de Fragata Arthur da Serra Pinto, abalroou o Cruzador Trajano, sofrendo pequenas avarias. Partiu para a Ilha Grande na tarde de 20 de janeiro de 1906, fazendo exercícios e experiências de telegrafia sem fios com o posto da Ilha das Cobras, indo fundear na Enseada das Palmas à meia-noite. Na tarde do dia 21, recebeu ordem para ativar os fogos e, seguindo as águas do navio almirante, fundeou na Enseada de Jacuacanga.

Uniu-se à divisão comandada pelo Almirante Rodrigo José da Rocha, que ali se encontrava com o objetivo de concluir os estudos para o estabelecimento do Arsenal de Marinha ‒ o chamado Projeto do Porto Militar ‒, pois a Armada, em fase de renovação, necessitava ser apoiada por modernas instalações para construção e reparos, e a Ilha Grande preenchia satisfatoriamente os requisitos necessários à instalação do porto.

Na noite do dia 21 de janeiro de 1906, às 20:45, ocorreu uma explosão no paiol de munições da torre de ré do navio bipartindo-o e afundando-o, primeiro a ré e o restante em poucos minutos.

Os socorros foram imediatamente prestados, mas, prejudicados pelos redemoinhos, o Aquidabã submergiu com 212 homens de sua tripulação, inclusive parte da Comitiva Ministerial que procedia a estudos sobre a localização do novo Porto Militar, seu comandante e grande parte da oficialidade. Salvaram-se 96 pessoas.

Entre os mortos, os Almirantes Francisco Calheiros da Graça, Rodrigo José da Rocha e João Cândido Brazil; o comandante Capitão de Fragata Arthur da Serra Pinto; e o imediato, capitão-Tenente Luiz Henrique de Noronha.

Em 1913, rendendo homenagens às vítimas do desastre, foi inaugurado, em Angra dos Reis(RJ), um monumento para onde foram transferidos os despojos das vítimas, com o consentimento de suas famílias.

Foram seus Comandantes:

Capitão de Fragata Eliezer Coutinho Tavares 04/06/1884 a 14/02/1885

Capitão de Mar e Guerra Custódio José de Mello 14/02/1885 a 13/12/1886

Capitão de Mar e Guerra Joaquim Antônio Cordovil Maurity 13/12/1886 a 02/10/1889

Capitão de Fragata João Justino Proença (interino) 02/10/1889 a 07/04/1890

Capitão de Mar e Guerra Dionysio Manhães Barreto 07/04/1890 a 09/05/1890

Capitão de Mar e Guerra Júlio Cesar de Noronha 09/05/1890 a 19/08/1891

Capitão de Mar e Guerra Eliezer Coutinho Tavares 19/08/1891 a 16/09/1891

Capitão de Mar e Guerra Júlio Cesar de Noronha 16/09/1891 a 19/09/1891

Capitão de Mar e Guerra Eliezer Coutinho Tavares 19/09/1891 a 25/11/1891

Capitão de Fragata Rodrigo José da Rocha 25/11/1891 a 27/09/1892

Capitão de Mar e Guerra Gaspar da Silva Rodrigues 27/09/1892 a 03/08/1893

Capitão de Fragata José Manoel Pereira Sampaio 03/08/1893 a 09/10/1894

Capitão de Mar e Guerra Álvaro Nunes Belfort 09/10/1894 a 29/03/1898

Capitão de Fragata Joaquim José Rodrigues Torres 29/03/1898 a 01/12/1898

Capitão de Fragata José Gonçalves Leite 01/12/1898 a 25/05/1899

Capitão de Mar e Guerra Francisco Calheiros da Graça 25/05/1899 a 23/06/1900

Capitão de Fragata João de Andrade Leite 23/06/1900 a 14/11/1900

Capitão de Mar e Guerra Francisco Calheiros da Graça 14/11/1900 a 29/05/1901

Capitão de Fragata Arthur da Serra Pinto 29/05/1901 a 21/01/1906

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Efeito de um Torpedo na Proa do Encouraçado Aquidabã, 1894, Marinha do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil – Marc Ferrez
Rio de Janeiro – RJ
Fotografia

Em novembro de 1891, o Aquidabã cumpriu um papel decisivo na consolidação do golpe de estado, contra a Monarquia, pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Foi de um de seus canhões que saiu o tiro de advertência à Esquadra de São Bento, chegando a danificar o campanário da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores no centro do Rio de Janeiro. O encouraçado atingiu o ápice de sua carreira em 1893, no início da Revolta da Armada, quando voltou a ter a bordo o agora Almirante Custódio de Melo, na chefia de uma rebelião contra o governo do Marechal Floriano Peixoto. O navio cruzou três vezes a baía de Guanabara, resistindo à artilharia de costa e, ainda por cima, levando a bordo o oficial que o chamara de Encouraçado de Papelão. A partir daí, o seu apelido passaria a ser Casaca de Ferro.

Em Abril de 1894 encontrava-se nas águas da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina. Durante o combate naval de 16 de abril, junto à Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, foi torpedeado pelo Contratorpedeiro Gustavo Sampaio, vindo a afundar parcialmente. Posto a flutuar, foi levado ao Rio de Janeiro para reparos superficiais. O navio rumou em seguida para a Alemanha e para a Grã-Bretanha, para sofrer as recuperações necessárias no casco e máquinas e na artilharia. Somente em 1897 o voltou a navegar, com um armamento ainda mais poderoso: dois canhões Armstrong de 203 mm, quatro de 120 mm e 15 metralhadoras Nordenfeld.

Atualmente os destroços repousam a uma profundidade entre 8 e 18 metros de profundidade, ao largo do monumento em homenagem às vítimas da tragédia, inaugurado em 1913 na Ponta do Pasto. A visibilidade para mergulho no local dificilmente ultrapassa os dois metros de profundidade, podendo chegar até cinco metros em dias excepcionais. Deve-se tomar cuidado em função dos vergalhões expostos.

Referências:

AQUIDABA: aquidaba. In: BRASIL, Marinha. Aquidaba: encouraçado. 1. 1. ed. Ministerio da Marinha: Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, 1885. Disponível em: https://www.marinha.mil.br/dphdm/sites/www.marinha.mil.br.dphdm/files/AquidabaEncouracado1885-1906.pdf. Acesso em: 16 mar. 2021.

A TRAGÉDIA de Desterro: aquidaba. In: TONERA, Roberto. A Tragédia de Desterro: encouraçado. 1. 1. ed. Ministerio da Marinha: Roberto Tonera, historiador e arquiteto, 2004. Disponível em: http://www.ivopitz.pro.br/?arquivo=texdesterro. Acesso em: 8 jan. 2021.

Wikipédia

Marinha do Brasil

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