Bilontras e Belzebuth

hamilton |05 fevereiro, 2024

Blog | Rastro Ancestral
O Banho a Fantasia, maior evento do pré-carnaval de Paranaguá, mobiliza diversos blocos e atrai foliões de todo o Estado do Paraná, como o próprio nome indica ele se realiza através da caminhada com vários blocos cada qual com sua própria música e ornamentos (fantasias), termina em um banho de mar no Rio Itiberê.
Tarefa hérculea tentar explicar a origem e o desenvolvimento desta tradição litorânea, mas vamos lá:
Imagem Cristian Barbosa anos 1936 e 2020.

Segundo informações divulgadas no Jornal Diário do Comércio nos dias 21 e 22 de março de 2012, o Banho de Mar à Fantasia teve início em 1930, quando Antônio Benedito da Cunha, recém-chegado a Paranaguá vindo de Santos, introduziu a ideia na cidade. Antônio, que era remador e jogador de futebol no Clube Saldanha da Gama em Santos, trouxe a tradição após participar de um bloco fantasiado chamado “Dona Dorotéia Vamos Furar Aquela Onda”.

Imagem: IHGP ano de 1956.

Em conjunto com outras pessoas, ele organizou o primeiro “Banho à Fantasia do Santa Rita”.

Nos primeiros anos, os participantes celebravam o evento ao som de batuques e marchinhas, vestindo fantasias criativas muitas vezes feitas de papel crepom.

Na concentração da Santa Rita, preparavam uma mistura de diversas bebidas em um caldeirão.

A alegria e diversão eram prevalentes, culminando no tradicional mergulho no Rio Itiberê.

Por volta de 1949, Antoninho Moura, um carnavalesco notável e sua família, fundaram a renomada escola de samba Junqueira, desempenhando um papel significativo na coordenação e animação do Banho de Mar à Fantasia.

Apesar de algumas contestações quanto à autoria e data de criação, é lembrado o respeito e admiração pela família Moura.

Desejamos um excelente Banho de Mar à Fantasia a todos os seus entusiastas.

Agora iremos voltar um pouco no tempo para entender que esta tradição em outro formato pode ser muito mais antiga do que se pensava,  existia o “Carnaval de Rua” e, o próprio carnaval em Paranaguá no inicio era feito só de desfiles nas Ruas, depois passou a ser em salões.

No ano de 1887 um grupo de amigos chamado Bilontras já organizava os festejos do Carnaval em Paranaguá.

O Comercial 1887.
Periódico Diário do Paraná 6 de março de 1897.

“De todo sem sal não quero dizer que esteve o carnaval de 1887, porém bom, imponente e sublime, não esteve não.

Os anúncios e os preparos nas vésperas foram mais que outra coisa.

É ocasião de dizer, mais o barulho foi tudo.

No sábado gordo, não saíram os “Zé Pereiras” ás ruas por causa do grande temporal que desabou.

Foi um sábado gordo que passou, mesmo por haver tanta agua.

O domingo gordo apareceu radiante, graças a duas bandas musicais dos grupos Bilontras e belzebu, que ao alvorecer do dia se fizeram ouvir.

A tarde fez-se o grupo Bilontras e nos carros com algumas criticas regularmente arranjadas e, dignas de nota, dois ou três discursadores com discursos análogos à folia chamavam a atenção do Zé Povinho, e provocavam risos, durante a passseata dos bilontras, já se sabe, tocava a musica do nosso Lima, que saiu-se perfeitamente bem.

Não se viu o grupo Belzebuth a não ser a noite, com um Zé Pereira em grande escala, formidavel até”.

Relato do jornal Commercial de 1887 edição 00053 pág 4.

Grupo dos Bilontras

Ao considerarmos o Carnaval, retrospectivamente, olhamos através do,  passado não remoto, no período em que Paranaguá teve o seu primeiro e real surto de progresso, entre os anos de 1920 a 1930, transformar-se de festa de salão, em que de há muito se mantinha, em festejo de via pública, organizando-se em corsos, nos quais tomavam parte extensas filas “de veículos repletos de mascarados”, de que resultavam fofos tapetes de serpentinas e confetes, estendidos pelas ruas principais da cidade, mercê do emprego profuso desse material carnavalesco. 

Datam dessa época os primeiros “cordões” de rua, exibindo danças próprias, em coreografia típica, de mistura às cores berrantes dos respectivos disfarces. 

Já era clássico ver se à frente desses cortejos e seu grupo de índios, enfeitados de vistosas plumagens, aos saltos e trejeitos, lembrando, quem sabe?,

no inocente disfarce, a herança dos antepassados. 

(Coisas Nossas de 1886)  Manoel Viana. 

Paranaguá, na expressão típica de um grande advogado, foi  sempre a “terra das grandes coisas”.

 E entre “as grandes coisas”  que se há feito neste pequenino  e decantado torrão, salientam-se os memoráveis carnavais de outrora.  

Eles também pertencem a «coisas nossas», por isso passaremos  a falar neles, e, com eles, dos “grupos carnavalescos” que tanto impressionaram  a sociedade de então . . . 

Lembraremos, entre outros, o “Grupo dos Bilontras”, fundado  em 1886, por um pugilo de rapazes da nossa melhor sociedade.

Reunia-se a rapaziada aos domingos, na antiga casa do velho Maravalhas, à rua 13 de maio, sede da “Sociedade Dançante Recreio da Mocidade”, e ali, animada pelo grande folião, fazia as suas vesperais e serões com a melhor das cordialidades. 

O velho Maravalhas era o mestre de danças da “Sociedade Recreio da Mocidade”, ensinando aos rapazes e moças a arte de Terpsícore.

Encerrando podemos apresentar grandes feitos que aconteceram em Paranaguá a cidade mãe do Paraná e, que a memória não nos falte nunca para que memoremos as tradições que formaram a cultura Parnanguara, as tradições musicais sempre estiveram presentes no povo do Litoral.

As transformações através das gerações se olhadas pela ótica da história podem nos levar a um melhor entendimento das “Coisas Nossas” atuais.

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

 

 

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