Caetano Munhoz da Rocha

hamilton |13 maio, 2024

Blog | Rastro Ancestral

Caetano Munhoz da Rocha nasceu na cidade de Antonina, no dia 14 de maio de 1879.

Foi filho de Bento Munhoz da Rocha e D. Maria Leocádia, que casou em segundas núpcias com Manoel Bonifácio Carneiro.

Casa onde nasceu Caetano Munhoz da Rocha em Antonina, local hoje de um simpático café.

Imagem:  circulandoporcuritiba,2012

Iniciou seus estudos em Curitiba, nos colégios “Parthenon Paranaense” e “Artur Loyola”, matriculando-se depois no “Colégio São Luiz”, em Itu-SP, onde fez o curso de Humanidades, prestando exames preparatórios no curso anexo à Faculdade de Direito de São Paulo.

Em 1896 matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, pela qual se diplomou em 1902, com a idade de 23 anos.

Fixando residência na cidade de Paranaguá, a 14 de fevereiro do ano seguinte casou com D. Olga, filha de Manoel Francisco de Souza e D. Francisca Carneiro de Souza. Desse matrimônio nasceram dez filhos, o segundo dos quais, em homenagem ao pai, seria Bento Munhoz da Rocha Neto, seu ilustre herdeiro político.

Até o ano de 1905, Caetano Munhoz da Rocha clinicou em Paranaguá, onde serviu também como médico da Santa Casa de Misericórdia e, interinamente, como Inspetor de Saúde dos portos de Paranaguá e Antonina.

Nesse ano, fundou com seu irmão, Ildefonso, a firma comercial Munhoz da Rocha & Irmãos, da qual é sucessora, ainda hoje, a empresa Rocha & Cia.

Caetano Munhoz da Rocha ingressou na política levado pelo seu padrasto Coronel Manuel Bonifácio Carneiro, com a idade de 25 anos, quando foi eleito pela primeira vez deputado ao Legislativo Estadual para o biênio 1904-1905, onde participou da Comissão de Instrução Pública, juntamente com Romário Martins e Vieira de Alencar. Nesse ano, Vicente Machado estava assumindo o Governo do Estado, para o qual fora eleito (1904-1908), como grande líder político de um período tempestuoso da vida paranaense.

Ele, que antes já fora companheiro de chapa de Xavier da Silva, e assumira o governo durante a Revolução Federalista, que convulsionou o Estado, ia ter pela frente a sentença do Supremo Tribunal Federal, desfechada contra o Paraná, na questão de limites com Santa Catarina. Nesse momento, os paranaenses se levantariam num grande movimento de opinião para impedir a amputação de seu território. Reeleito sucessivamente para as legislaturas seguintes dos biênios de 1906-1907, 1908-1909, 1910-1911, 1912-1913, 1914-1915, 1916-1917, Caetano Munhoz da Rocha começava a se impor entre os políticos de seu tempo.

Além de participar da Comissão de Higiene, onde deixou importantes pareceres, foi vice-presidente do Legislativo, em 1909, e seu presidente, em 1917, eleito pela unanimidade de seus pares.

No ano de 1907, uma violenta crise política domina o Paraná, em consequência do falecimento de Vicente Machado, ocorrido antes do término do mandato governamental.

Diante de divergências entre o Poder Legislativo e o seu substituto legal, este foi levado a deixar o cargo.

A crise só foi superada em 1908, com a formação da Coligação, que amainou os ânimos e elegeu Xavier da Silva  sempre equidistante das facções em luta  para o Governo do Estado, por ele exercido pela terceira vez.

Nesse ano, Caetano Munhoz da Rocha já era o homem de maior prestígio de Paranaguá, a segunda cidade do Estado, quando foi eleito seu Prefeito para o quadriênio 1908-1912, e reeleito para o período seguinte, de 1912-1916.

Renunciou, porém, em 1915, para integrar a chapa Afonso Alves de Camargo-Munhoz da Rocha à sucessão estadual, quando se transferiu para Curitiba.

Nos sete anos em que foi Prefeito de Paranaguá, a cidade, no dizer de Romário Martins, “lhe deve todo o seu progresso urbanístico”.

Nessa ocasião, revelou-se o grande administrador que o Estado inteiro iria conhecer depois.

Deu nova organização à contabilidade municipal, liquidando a dívida flutuante que encontrou ao assumir a Prefeitura, e mantendo em dia todos os pagamentos.

 

Fez drenar e aterrar grande parte da zona baixa da cidade; executou o serviço de abastecimento de água encanada, captada na Serra do Mar, e construiu a rede de esgotos; abriu novas ruas, alargando outras, e ajardinando praças; pavimentou com paralelepípedos os logradouros centrais e a avenida que vai até ao Porto, traçada ao tempo de sua administração; modernizou os dois mercados, o de peixe e o geral, saneando a praça fronteira com instalações adequadas. Além disso, fez a aquisição do Paço Municipal, um dos melhores prédios de sua época no Paraná, e promoveu a instalação de telefones na cidade.

Como Provedor da Santa Casa de Misericórdia, introduziu nela grandes melhoramentos, assim como no prédio do Colégio São José. Eleito Vice-Presidente do Estado, em 1916, foi um colaborador inestimável no Governo de Afonso Alves de Camargo, ocupando as pastas da Fazenda e a de Agricultura e Obras Públicas.

A exemplo do que fizera em Paranaguá, foi o introdutor da reforma da contabilidade do Tesouro, segundo plano de sua própria autoria, a respeito do qual publicou obra em dois volumes, considerada de grande mérito pelos especialistas da época. Eleito com grande maioria de votos, não obstante isso o Governo de Afonso Camargo foi injustamente combatido logo no início por assinar o acordo que pôs fim à questão de limites com Santa Catarina, causa da luta armada no Contestado, que afinal terminou em outubro de 1916, com a intervenção do Presidente Wenceslau Braz, e a perda definitiva do Paraná desse território.

A verdade é que, com três acórdãos contrários do Supremo Tribunal, a perda do Paraná teria sido maior. Caetano Munhoz da Rocha sucedeu a Afonso Camargo no Governo do Estado, assumindo o quadriênio seguinte de 1924-1928.

Seu primeiro período foi de reorganização administrativa.

O segundo, de realizações. Com menos de um ano de Governo, sofreu a perda da esposa, assim como antes de três filhos maiores desse matrimônio.

Buscou conforto num segundo casamento com D. Domitilia, filha do casal Alfredo Xavier de Almeida e D. Maria Luiza Grein de Almeida. Enviuvando novamente, casou pela terceira vez com D. Sylvia, hoje com 79 anos, filha de Manoel Antônio da Cunha Braga e de D. Vitória Lacerda Braga, com a qual teve numerosa prole.

 

Se a situação era propícia ao assumir o Governo, pelo apoio da opinião quase unânime do Estado, era também administrativamente difícil, pelos pesados encargos do erário, como reflexo dos efeitos negativos da Segunda Guerra Mundial. Mas Munhoz da Rocha soube enfrentá-la, mediante rigoroso saneamento das finanças públicas. Ao fim do primeiro ano de gestão, logrou resgatar o empréstimo do Banco do Estado e fechar o exercício financeiro com vultoso saldo positivo. Concentrou suas atenções prioritariamente sobre dois setores: a instrução pública e o saneamento e a higiene urbana.

Pediu a São Paulo um técnico para reforma do ensino, o professor César Prieto Martinez, que traçou um programa ousado, executado com amplo sucesso.

Os edifícios dos Institutos de Educação de Curitiba, Paranaguá e Ponta Grossa são de sua época.

O projeto de remodelação e ampliação da rede de água e esgotos da Capital foi confiado a um dos maiores especialistas brasileiros, o engenheiro Saturnino Brito. Segundo Romário Martins, o Paraná foi um dos primeiros Estados, senão o primeiro, no Governo Munhoz da Rocha, a enfrentar o problema da infância e da velhice desamparadas.

Criou o Juizado de Menores, construiu o Asilo de Velhos, o Orfanato, o Sanatório da Lapa para tuberculosos e o Leprosário São Roque, em Piraquara.

Organizou a Caixa de Seguros dos Funcionários Públicos e da Polícia Militar. Voltou-se para o aparelhamento do Porto de Paranaguá, que, em 1924, meados de seus oito anos de mandato, inauguraria o fluxo normal dos embarques de café do Norte Pioneiro, com uma exportação de 29.521 sacas, contra apenas 215 sacas no ano anterior e apenas 5, em 1922.

Nesse mesmo ano de 1924, Lord Lovat, integrante de uma missão inglesa no Brasil, e que havia promovido colonização agrícola na Austrália e África, visita o Norte do Paraná. Em 1927, o Governo do Estado firmou com ele o contrato de concessão de 515 mil alqueires para um vasto projeto de colonização.

É fundada a Paraná Plantations que, em consórcio com a Companhia de Terras Norte do Paraná e a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná, dá início à colonização do setentrião em moldes modernos.

Munhoz da Rocha foi um bravo defensor da cafeicultura paranaense, que mal se iniciava. Em 1927, foi firmado o segundo convênio cafeeiro, entre os governos de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Espírito Santo, sob o patrocínio do Governo Federal, visando uma velada limitação do plantio.

Instado a subscrevê-lo, sem dele ter participado, ou não sendo sequer consultado, recusou sua assinatura, por entendê-lo contrário aos interesses do Paraná. Por esse gesto, o então presidente da Associação Comercial, Coronel David Carneiro, que liderava a oposição política no Estado, não hesitou em expressar-lhe publicamente sua solidariedade, ao mostrar-se “digno da posição que ocupa e merecedor de um apoio que, neste momento, todos os paranaenses subscreverão”. Homem leal, estadualmente integrado na estrutura política dominante, que encarnava com ardor o princípio federativo da autonomia dos Estados, Munhoz da Rocha nem por isso era menos penetrado de espírito nacional, entendendo o Brasil como uma sociedade integrada. Sonhava com um Brasil que “somente unido e forte realizará esses destinos”, segundo suas próprias palavras na oração que, em 1922, pronunciou no Teatro Guaíra, em comemoração ao Centenário da Independência. Nessa ocasião dirigiu mensagem ao Legislativo Estadual, propondo a extinção dos símbolos e dos hinos estaduais, como exemplo de civismo às demais unidades da Federação, “para só predominar o sagrado símbolo da Pátria, uma só bandeira, um só escudo e um único hino”.

Ao deixar o Governo, em 1928, foi eleito Senador da República. Desde 1926, o Paraná conquistara e vinha mantendo o lugar nas exportações brasileiras.

Caetano Munhoz da Rocha foi um dos poucos a sobreviver politicamente à Revolução de 1930, quando o presidente Getúlio Vargas combateu as antigas elites políticas estaduais. Na legislatura de 1935-36, foi eleito deputado estadual, o que se dava pela oitava vez, fazendo parte no Legislativo da Comissão Permanente de Finanças e Orçamento.

Em 1939, durante a Interventoria de Manoel Ribas, presidiu o Conselho Administrativo do Estado, órgão de consulta do Governo. Faleceu a 23 de abril de 1944, aos 65 anos de idade, cercado do respeito e da admiração de todos os paranaenses, que lhe tributaram as mais significativas homenagens.

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Referências:

Instituto Moises Soares

Wikipédia

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