Cordula Rodrigues França nasceu em 1750, a informação sobre esta data de nascimento veio através dos maços da Igreja de Paranaguá de 1808, o qual nos informa que sua idade nesta época era de 58 anos conforme abaixo. A data de seu casamento com o Sargento-Mór Custodio Martins de Araújo fica entre 1765-1768. Cordula era filha do Capitão José da Costa Rezende e Maria D. O. Rodrigues Costa Rezende (nascida França) e, teve com Custódio Martins de Araújo os seguintes filhos: Capitão José Martins de Araújo FrançaMaria Clara Rodrigues Correia (nascida Araújo França)Joaquina do Espírito Santos de FrançaJoão Martins de Araújo França Seu marido Custodio Martins de Araújo, era natural da Freguezia de S. Miguel do Alcaide de Braga – Portugal. Custódio foi Sargento-Mór do Regimento de Ordenanças em Paranaguá, em 1768 era Alferes em Paranaguá e, foi escolhido por Afonso Botelho para acompanhar a reforma na Fortaleza da Barra. Custodio Martins de Araújo faleceu em 1798 em Paranaguá deixando Cordula viúva. Revista do Iphan 1940 n 04 pág 375. Cordula veio de uma família de desbravadores tinha descendência do Capitão-mor João Rodrigues de França, ultimo Governador e Sesmeiro da Capitania de Nossa Senhora do Rosario de PARAN(A)GUÁ e das 40 leguas de costa do sul. Gazeta Paranaense periódico do Partido Conservador 1886 edição 243 pág 2 A História do Paraná. “Dentre as mulheres Dona Cordula era a maior proprietária de casas, eram sete e contabilizava na época 59$160 réis em aluguel por ano, duas na Rua do Chargo e cinco na Rua do Terço, todas elas alugadas, sendo que em uma destas casas era alugada ao Real Contrato das Canoas e na outra residia, uma valiosa casa térrea tendo arbitrado o aluguel em 15$000, sua propriedade urbana mais rentável, podemos dizer que em 1808, 20% das casas urbanas estavam em mãos de 6% dos proprietários. Como resultado, o aluguel era a principal forma de residir na vila. Eram 138 as casas alugadas, o que representava 47% das relacionadas na Décima. Em todas as ruas, a exceção a Rua da Praia, os inquilinos eram em igual ou maior número do que os proprietários-moradores que representam 76 casas, ou 26% do total (na Rua da Praia eram em número de seis). Em São Paulo de 1809, o número de casas alugadas representava 50%, uma situação semelhante à Paranaguá, apesar da diferença de tamanho das cidades. Já as casas onde o proprietário residia em São Paulo, representavam 36% do total. Há ainda casas que, em Paranaguá, 44 no total, aparecem nas fontes como fechadas. Tratavam-se de propriedades em que o proprietário “mora quando vem a vila”. Em São Paulo as casas fechadas representavam 5% enquanto em Paranaguá, 15%. A diferença é significativa. No entanto, ainda não foi possível desenvolver uma hipótese que aponte para o entendimento dessa desigualdade. Existiam ainda oito casas onde havia o inquilino, mas estava anotado que este “mora de favor”. Enquanto em São Paulo essas casas cedidas representavam 3,46% em Paranaguá eram 2,72%. Somem-se a todas essas casas, onze inabitáveis “por estarem por cair”, duas em construção, duas em que não é indicado se o proprietário reside ou aluga, três edifícios que são apenas armazéns e outro que é somente venda, sete casas sem alugadores ou alugadas por dia, e um casa do falecido Antonio Manoel de Macedo que permaneciam fechadas e sem valor de aluguel/imposto porque não tinha herdeiros. Essas casas foram relacionadas na categoria “outros” a qual agrega os edifícios em que não habita ninguém ou por ser comércio ou por naquele momento não estarem aptas para moradia ou aluguel.” Cordula aparece nos censos da época na condição de chefe do domicílio, provavelmente porque já era viúva e, ainda consta que a mesma vivia de aluguel de embarcações e também do aluguel de seus escravos, a maioria destes escravos trabalhava de jornaleiros. Maços Paroquiais de Paranaguá em 1810. Maços Paroquiais de Paranaguá em 1812. Seus rendimentos eram provenientes de seus 23 escravos que recebiam pela prestação de serviços. No plantel de Cordula França, havia cativos que atuavam ainda como carpinteiros, agricultores de mandioca e empregados no serviço doméstico. No Brasil oitocentista, a atuação de escravos tanto como carpinteiros, agricultores, estafetas e como jornaleiros era recorrente. Essa atuação era consentida tanto por abastados quanto por pequenos proprietários de escravos. Em 1801 Cordula Rodrigues França era uma das maiores escravistas, não só entre as mulheres, como também entre os homens chefes de domicílio, dispondo de um plantel de pelo menos 23 escravos. O mesmo cruzamento de informações sugere que o plantel cativo dessa proprietária foi fruto da herança legada por seu marido português. Podemos dizer que ela era uma das maiores rentistas urbanas de Paranaguá naquela época. A Intentona Separatista de Bento Vianna A despeito de todas as contradições dos homens, a História é uma reabilitadora cita Francisco Negrão em sua obra “Genealogia Paranaense volume 2 pág 57”. O Documento que se segue, é uma carta de Dona Cordula, datada de Paranaguá aos 16 dias de Julho de 1821, dois dias após o fato, com a assinatura reconhecida pelo Tabelião de Notas da cidade de São Paulo e, que denota que andou servindo à investigações das autoridades da época. É a seguinte: “José. Como me déste notiça da vossa chegada estimarei que achasse a vossa casa em paz. Pelo João Bandeira recebi um recado vosso em que me pedias um bocado de fumo e tabaco. Remeto por Bento Alves, de Campo Largo, hum embrulho com 4 varas. Estimarei saia bom, pois melhor o que não ha (quando haja remeterei). Por aqui presentemente, ha algumas novidades – em Santos as tropas se levantou e deu um saque e morrerão algumas pessoas sendo m o Bott. (?), e me dizem qeu alguns destes ladrões tem aparecido no Barrado (Varadouro). Aqui, no dia de hontem esteve coaje no mesmo em ocasião de jurar as vozes da Constituição – que queirão aqui Governo Provisório e tendo virado os Melicianos todos para que não estivessem pelo Governo de São Paulo. “Mas algumas pessoas prudentes desvanecerão tudo, sendo o Brito (?) o que mais trabalhou a semelhante respeito para desvanecer a tropa. E não achando para seu partido senão Francisco (?) Bento e José Ricardo (?). e Capm Mór, e Paulinha (?), e Padre Vicente e Antonio José da Costa e tudo mais a favor, e tudo ficou em paz. E já até com deputados aqui nomeados, sendo authores de tudo o Sargento-Mor Roch e o Sargento-Mor Lustoza; para Presidente tinhão o Governador, e Ouvidor para Vie-Presidente. O Sá, dessa para secretário da Guerra, par ao interior José luiz Pereira. Deputados, pela Agricultura, Bento Gonçalves e José Gonçalves; pelo Comércio, Capm.-Mor e Bentóte; pela Marinha o Capitão Amaral. Do Pilar e pela tropa do Coronel dessa, Jacintho e Sargento-Mór Bastos e pelo Clerigo o Padre Antonio dos Morretes e Padre Manoel. Mas não poderão conseguir tudo isto, o que se deve a Bentóte, e o Alves, e o Brito em que tem tido athé dos seus Emulos vivas pela maneira e valor com que se portou. Querendo estes maos homens dividir isto de São Paulo sem pés nem cabeça, dia que aqui houve muito medo e no fim não faltarão calças b….. a ponto que Floriano falou ficando como hum negro, e não sei o que se passará com estes cabeças de motim. Maneco (?) foi para São Paulo e padre Manoel e Chrispim (?) e sendo hum nomeado vigário, mas agora deu parte de doente e não vai e hoje penço estão em São Paulo todos. Deus queira tudo se arrume em bem. Lembranças a Catharina que com mais vagar lhe escreverei e que recebi pela mulher de Joaquim Antonio o que me remeteu e que escreva, e vós o mesmo, pois eu me é necessário pedir a quem me escreva e por isso o não faço mais miudo. Lembranças a tudo quanto vos pertence e ao Capitão Simão (?) e José Antonio (?) Vossa Maim, Cordula “A margem, no verso desta carta esta escrito. Eu nada fiz. A Senra D. Cordula he quem me quer fazer o favor, assim como outras pessoas por me estimar. He necessario lembrar que dos nomiados nenhum convinha e nem aqui se achavão e seu José Luiz unico que aceitaria para melhor roubar e não pagar a quem devem ou saquião. Brito” Aqui deixamos o cabeço de um capítulo de nossa história. Completem-no melhores investigações. Ébano Pereira (Romário Martins) (Do O Luzitano, de Curitiba, 10 de junho de 1916) Interessante esta carta que se mostra contrária ao movimento, mas foi endereçada a um dos principais líderes deste mesmo movimento, que era o, então tenente José Martins seu filho, que mesmo depois do fracasso não esmoreceu e continuou a servir com dedicação aos ideais paranaenses. Tratava-se de jurar as bases da Constituição decretada pelas Cortes Constituintes de Lisboa e, um dos juramentos a serem proferidos era o de obediência a um Governo Provisório da Província de São Paulo. Contra este juramento rebelaram-se Parananguaras e Curitibanos, que se concentraram em na hora do juramento, o povo prestasse juramento a um Governo Local, que supostamente seria aclamado no ato. No segundo volume da obra “Genealogia Paranaense” a pagina 55 sob o título “A Conjura Separatista“, tratamos desta matrona que se notabilizou por uma carta a seu filho José Martins de Araújo, dando minuciosa noticia sobre essa conjura. Cordula foi sem dúvida uma grande mulher em seu tempo, enfrentou dificuldades e esteve envolvida nos principais eventos que levaram a formação de nossa identidade como “Paranaenses”, deixou registros importantíssimos à respeito da gênese e formação de nosso Estado, talvez motivada para salvaguardar seu filho mas, sem dúvida nenhuma honrou o legado de seus antepassados que foram os grandes desbravadores do Sul do Brasil. Faleceu em 1831 em Paranaguá. Hamilton Ferreira Sampaio Junior Historiador Referencias: ALADRÉN, Gabriel. ASCENSÃO ECONÔMICA DE LIBERTOS NO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO DO SUL: O CASO DO PRETO FORRO PEDRO GONÇALES, INÍCIO DO SÉCULO XIX. O CASO DO PRETO FORRO PEDRO GONÇALES, INÍCIO DO SÉCULO XIX: O CASO DO PRETO FORRO PEDRO GONÇALES, INÍCIO DO SÉCULO XIX, RS, v. 1, n. 1, ed. 1, 1 jan. 1890. NEGRAO, Francisco. GENEALOGIA PARANAENSE: GENEALOGIA PARANAENSE. In: GENEALOGIA PARANAENSE: GENEALOGIA PARANAENSE. 1. ed. Curitiba: Impressora paranaense, 1926. v. 1, cap. 1, p. 169. ISBN 000000000000000000000000. CAVASSIN ALVES, Alessandro. A Província do Paraná (1853-1889): a classe política. A parentela no governo. 2018. Tese de Doutorado em Sociologia. Consultado em 26 de junho de 2018 (Tese de Doutorado em Sociologia. Consultado em 26 de junho de 2018) – UFPR, PR, 2018. Catálogo seletivo de documentos referentes aos africanos e afrodescendentes livres e escravos» (PDF). Arquivo Público do Paraná. 2005. Consultado em 26 de junho de 2018 JUNIOR, Vicente Nascimento. História Crónicas e Lendas: História Crónicas e Lendas. In: JUNIOR, Vicente Nascimento. História Crónicas e Lendas: História Crónicas e Lendas. 1. ed. Paranaguá: Paranaguá, 1980. v. 1, cap. 1, p. 169. ISBN 000000000000000000000000. Ermelino A. de Leão – I.H.G.P. – 1994 – pág. 1154 a 1156 Arquivo Público do Paraná Biblioteca Nacional