Dr. Randolpho Pereira Serzedello, natural do Rio de Janeiro, veio para o Paraná no ano de 1890 por convite de seu primo, o então Major Inocêncio Serzedelo Correia, governador provisório do Paraná para estudar alguns problemas de saúde pública que afligia o estado.
Mais tarde, foi designado para médico inspetor do porto de Paranaguá onde muito trabalhou para não permitir a entrada da febre amarela, que graçava em Santos e Rio de Janeiro. (NICOLAS, 1984, p. 193).
Nascido em 23 de Fevereiro de 1862, filho legitimo de José Antonio Serzedello e, de sua mulher Candida Pereira Serzedello, neto pela parte paterna de José Antonio Pereira Serzedello e de sua mulher Maria da Natividade Serzedello, naturais e batizados na Freguezia de S. Paulo, da Cidade de Lisboa neto pela parte materna de João Antonio Serzedello e de sua mulher Josepha Pereira Serzedello, Dr Randolpho casou-se com Prescilliana de Siqueira Serzedello em 18 de Março de 1918.
Formado em medicina pela Academia do Rio de Janeiro no ano de 1890, foi chamado por seu primo o General Innocencio Serzedello Correia, então Governador do Paraná para desempenhar melindrosa missão em Tamandaré, onde reinava mortífera epidemia de varíola.
A dedicação com que se saiu desse encargo, lhe valeu o renome que sempre gozou no Paraná, onde, em outras epidemias como a
da peste bubônica em Paranaguá e, a varíola em Curitiba, por mais de uma vez, teve ocasião de demonstrar a sua energia, valor e competência cientifica.
Em 1892 participou ativamente da Constituinte Republicana no Paraná.
Médico iniciado na maçonaria na Loja Perseverança de Paranaguá.
Em Paranaguá, chegou mesmo a conduzir em sua pequena viatura, um doente fortemente atacado de peste bubônica (de cujo mal veio o mesmo doente a falecer) para o posto de isolamento, afim de evitar a propagação do mal á população, demonstrando com este ato o seu abnegado altruísmo e desapego á vida.
1891 Periódico Diário do Comércio.
Em 1893, foi nomeado Inspetor de Saúde dos Portos do Paraná, tendo ocasião de, pela sua energia e esforços, impedir a importação da febre amarela reinante em Santos e Rio de Janeiro. Em politica militou sempre ao lado do Partido Republicano, de que era chefe o Dr. Vicente Machado.
Era um Florianista na ocasião da Revolução Federalista.
Como medico prestou relevantes serviços à legalidade durante a revolução federalista de 1894.
O Dr. Serzedello não fugiu da luta, improvisou uma enfermaria e passou praticamente sozinho a atender os feridos de ambos os lados onde caía um ferido estava lá para atender ou mesmo transportar para a enfermaria. Isto lhe deu o respeito não só dos pica-paus, como também dos maragatos.
O humanitário médico, passava noites e dias atendendo aos homens da revolução, que esqueceram que o Brasil precisava de muitos Doutores Serzedello.
No memorável combate de 15 de Janeiro do mesmo ano, quando mais acirrado era o ataque da esquadra ao mando de Custodio de Mello, contra as forças que defendiam as trincheiras de Paranaguá, por entre o troar dos canhões e no momento decisivo da ação, ali apareceu a cavalo o humanitário medico a cumprir com o seu dever sacrossanto, animando os combatentes, atendendo os feridos e, providenciando a remoção destes para as enfermarias. Era inspirador ver este homem destemido a cumprir a nobre missão que lhe fora confiada, quando a luta já era desesperadora e, os combatentes se achavam visa-vis separados apenas por um espaço inferior a cem metros de distancia.
Dois dias antes, quando o Batalhão da Guarda Nacional de Paranaguá, trabalhado por elementos da oposição, se revoltara contra as autoridades, com o fim de dar braço forte á esquadra revoltada que, já cruzava a Barra, no momento em que se operava a reação, quando a infantaria da mesma milícia se preparava para dar o ataque contra os 150 revoltosos referidos, que se achavam entrincheirados na costeira, tendo a seu dispor quatro canhões Krupp e numerosa munição, entre os combatentes da legalidade
surgia a figura sugestiva e simpática do Dr. Randolpho Pereira Serzedello, sem se preocupar com o risco que corria a sua vida, nesse combate formidável.
Onde mais temerária era a ação, ali estava o grande medico, na\’ primeira linha.
Na vanguarda, foi sempre o lugar que ocupou em todos os postos, em todos os empregos, em todas as posições que exerceu, durante toda sua preciosa vida.
Em 1897, no governo do Dr. Prudente de Moraes, sendo Inspetor de Saúde dos Portos em Paranaguá, recebeu do Diretor Geral de Saúde dos Portos do Rio de Janeiro, que então era um dos seus melhores amigos, uma carta confidencial na qual o aconselhava a não se atirar abertamente nas lutas políticas, na eleição que se deveria realizar para Presidente da Republica, porquanto, os políticos em oposição ao situacionismo do Paraná, e que então apoiavam o Governo Federal, a este se queixavam contra o Dr. Serzedello, pedindo ao Ministro do Interior providências a respeito.
Escusado é dizer, que, o Dr. Serzedello depôs na mão do Diretor Geral o seu cargo e que, desassombradamente contribuiu para a vitória de seus amigos políticos.
A sua exoneração, sem a nota á pedido foi imediatamente lavrada. No entanto, bastaria que pretextasse um pequeno incomodo de saúde e deixasse de vir votar em Tamandaré, estando em Paranaguá, mas, não era essa a sua norma de proceder.
Em Abril de 1898, foi nomeado pelo Governo do Paraná, para o lugar de Diretor do Serviço Sanitário do Estado, onde teve ocasião de demonstrar a sua competência profissional, aliada a uma energia pouco vulgar. Trabalhador infatigável, desprezava o conforto, passando dias inteiros sem se preocupar com o próprio alimento e repouso necessários, contanto que o serviço nada sofresse. Fez de seus auxiliares verdadeiros amigos, hipnotizados inteiramente por ele e, desta circunstância muito teve a lucrar o publico serviço. Na feliz escolha que fez de seu secretário, Ricardo Negrão Filho, empregado modelar, leal e dedicado, mostrou o seu critério administrativo.
Em 1900, por ocasião da coligação política que derrubou o Presidente eleito Dr. João Cândido Ferreira, dissendiu o Dr. Serzedello desse pacto que, feriu de morte ao partido a que sempre pertenceu e conduziu á vitória.
1903 Diário da Tarde.
No final de 1903 pediu sua exoneração do cargo de Diretor do Serviço Sanitário, que abandonou, apesar das instantes solicitações em contrario, do Dr. Xavier da Silva que se tornou Chefe do situacionismo vencedor.
Nada o demoveu desse intento, e resoluta e voluntariamente se atirou ao ostracismo que durou até sua morte.
Almanach do Paraná – ano de 1904.
Os elementos hostis à política dominante, congregados, o escolheram para chefiar a reação e ele com alta visão política, dirigiu com firmeza o partido da oposição, que, demonstrou valor e união em memoráveis pugnas eleitorais.
Pobre, repartia ainda o pouco que lhe sobrava com os necessitados; a sua mesa era sempre assistida por numerosas pessoas. Médico humanitário, hábil e dedicado, nunca quis receber de seus numerosos clientes, qualquer remuneração, fosse esse cliente rico ou pobre. Isto fazia parte de uma promessa que fizera á seu venerando Pai, no dia de sua formatura.
Tinha no Dr. Francisco Xavier da Silva um dedicado amigo e com ele mantinha assiduamente intimas palestras, mesmo quando aquele se achava na governança do Estado e ele já no ostracismo.
Em uma destas ocasiões o Dr. Xavier ofereceu, com insistência, ao Dr. Serzedello o lugar de Diretor da Penitenciaria do Estado, que se ia inaugurar.
O Dr Serzedello polidamente agradeceu esse alto cargo de confiança que lhe era oferecido, mostrando a incompatibilidade que havia entre a sua situação de oposicionista e cabo político
e o exercido de um cargo administrativo de confiança.
O Dr. Xavier da Silva declarou:
Não exijo do Sr. outra coisa que não seja a sua operosidade e competência profissional, para dirigir aquele estabelecimento. Politicamente pode continuar onde está.
O Dr. Serzedello respondeu com polida, mas firme resolução:
“Só poderei aceitar um cargo tal, quando o ultimo dos meus companheiros de lutas políticas estiver bem colocado.”
E irredutível, meu amigo, disse o Dr. Xavier, é demais o seu altruísmo Dr. sacrifica-se por seus amigos. Outra vez, o Dr. Xavier da Silva depois de salientar a sua boa situação pecuniária, a sua situação de estar velho, solteiro e sem herdeiros, depois de salientar a sua velha amizade pelo Dr. Serzedello e, o prazer com que um amigo serve a outro, quando se acham eles nas situações em que os dois se achavam, tentou com insistência fazer-lhe um largo empréstimo, sem juros, sem prazo, sem documentos.
È um empréstimo e não uma dádiva, disse o Dr. Xavier, pois conhecendo a sua altivez e o seu excessivo escrúpulo, não ousaria falar-lhe em dádiva.
Mas, é um empréstimo a largo tempo, sem o desejo de vê-lo amortizado, e sem juros e documentos.
Escusado é dizer que, a oferta não foi aceita pelo Dr. Serzedello que, penhorado agradeceu, alegando possuir reservas que o punham a coberto de qualquer necessidade.
1909
No entanto não era essa a verdade. Certa vez, como medico, acompanhou até pais estrangeiro, a um seu intimo amigo que, para lá seguiu gravemente enfermo, procurando recursos da ciência e, onde esteve alguns meses em tratamento, vindo ali a falecer.
O Dr. Serzedello se conservou sempre à cabeceira do amigo enfermo, esgotando totalmente as boas economias, que então possuía. Cumpriu nobremente com o seu dever para com o amigo, que, ali deixou sepultado, regressando ao Paraná, recusou aceitar qualquer remuneração pecuniária por seus serviços médicos, como recusou também aceitar a reposição do que havia gasto de suas economias.
Pactos como esses, contam-se as centenas na vida do grande homem; mas, poucos na sua situação contam com tantas dedicações. O seu ostracismo veio demonstrar o seu valor político e as sinceras amizades que grangeou. Foi eleito Deputado do Congresso Legislativo por dois mandatos pelo Partido Republicano.
Médico ilustrado, competente e humanitário, deixou com a sua morte, ocorrida a 20 de Março de 1919, um sulco profundo e irreparável na sociedade.
O grandioso acompanhamento que teve o seu enterramento, principalmente por parte dos humildes, falia de modo eloquente, sobre o seu valor social e político.
A sua lealdade e dedicação para com seus amigos, só pôde ser comparada com a sua altiva dignidade, e melindres sem limites. Sua veneranda Mãe D. Candida Pereira Serzedello, já nonagenária e bastante enferma, só pode sobreviver a seu dileto e estremecido filho, apenas 4 meses, pois, veio a falecer no dia 24 de Julho do mesmo ano. Matrona repleta de virtudes, de bondade e sentimentos afetivos, passou pela suprema desdita de sobreviver á seus pais, á seu marido e á todos os seus filhos, suportando esses golpes com estoica resignação.
Na data de 11 de março de 1957, o vereador curitibano Mylto Anselmo da Silva apresenta o Projeto de Lei nº 18/1957 para denominar ruas em Curitiba, cuja justificativa parlamentar para homenagear o Dr. Randolpho foi: “Político eminente, que muito fez pelo bem do Paraná”. Em 13 de agosto de 1957, é aprovada a Lei Ordinária nº 1.447/1957.
Hamilton Ferreira Sampaio Junior∴
Referências:
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SAMPAIO, Hamilton. ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO: Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 e 1930. In: ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO: Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 e 1930. 1. ed. Curitiba: Novagrafica, 2019. v. 1, cap. 1, p. 2. FILHO,
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VIANA, Manoel. Paranaguá na História e na Tradição: Paranaguá na História e na Tradição. 1. ed. [S. l.: s. n.], 1971.
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Arquivo Público do Paraná BR PRAPPR PB001 IIP787.57.
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