Fernando Machado Simas
Nasceu em Paranaguá, dia 24 de abril de 1851, filho de Manoel Ignacio e Simas e Francisca Romana Falcão de Simas. Fez seus primeiros estudos em sua terra natal Paranaguá e, após este período foi para Curitiba estudar Humanidadaes.
Após o curso de Humanidades em Curitiba, transferiu-se para o Rio de Janeiro, então capital do Império.
Em 1873 concluiu o curso de farmácia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e desta maneira tornou-se o “primeiro paranaense diplomado nesta profissão“.
Esteve como secretário na Sociedade Lotérica Theatral de Paranaguá.
Este grupo de teatro na cidade o fazia viajar com frequência para a Corte, de onde possivelmente voltava ainda mais inspirado para redigir suas críticas à monarquia, à escravidão e à tradicional elite escravocrata de sua época.
Iniciou sua profissão em Antonina e depois em Paranaguá aonde começou a vida de comerciante ao abrir a “Pharmácia Simas” e, nesta desenvolveu dois produtos farmacológicos que obtiveram sucesso de vendas e, que em 1882 foram premiados na Exposição Industrial; são eles: o “Vinho de Mate e Glicerina”, que substitui o óleo de fígado de bacalhau e o “Licor de Mate”.
Os livros contam sobre ele que pela excessiva bondade era estimado por todos, principalmente pelas pessoas de baixa renda que por ele eram socorridos, não só com as consultas como também com medicamentos e alimentação.
Em sua adolescência, teve seu primeiro contato com um jornal de nome “Imprensa Livre”, um periódico no qual apresentava perspectivas democráticas e, os anos que ele passou na capital do País, convivendo de perto com a família real e contrários ao governo imperial, contribuíram para que Simas tivesse, ao longo de sua vida, firme convicção em uma ideologia republicana.
Sendo assim em 1881 Fernando e outros republicanos assinam a publicação “Declaração Republicana Paranaguense” e um ano depois um grupo maior de anti-monarquistas espalharam um manifesto pelas ruas de Paranaguá intitulado “Manifesto ao Paranaguense”, também encabeçado por Simas, com a clara intenção de semear o novo conceito político aos cidadãos do litoral.
Em 1882 foi nomeado Delegado do Termo de Paranaguá.
Em 1882 foi eleito Juiz de Paz m Paranaguá.
Teve, filhos com Dona Escolástica Pereira Alves: Epaminondas (nascido em 28/02/1880; conhecido dentista e protético), Antiocho (nascido em 15/10/1881; farmacêutico).
Casou em 7 de Janeiro 1882 com a uruguaia Helena Gutierres Simas do casal foram 6 filhos.
Fernando casou-se em 07/01/1882 com Helena Gutierrez, advindo os seguintes filhos: Otto (nascido em 23/08/1882); Hugo (nascido em 23/06/1883) e Raul (22/12/1884) todos nascidos em Paranaguá. Loé, o mais novo, nasceu em Petrópolis em 05/01/1889.
Simas após associar-se a Guilherme Leite e Eugenio Machado e criam, em julho de 1883 o jornal “Livre Paraná” que é considerado o precursor da campanha republicana na então província do Paraná.
O órgão apresentava-se como empresa da tipografia de Fernando Machado de Simas, mas fortes indícios fazem crer que outro republicano que era José Cleto fosse sócio fundador do mesmo jornal e redator de algumas matérias indiretamente endereçadas aos seus adversários políticos. Art. de Noemi Santos da Silva.
Fernando Machado de Simas, por sua vez, além de farmacêutico era jornalista e, assim como Cleto, despertava desamores com as elites de Paranaguá.
O slogan do Jornal “Livre Paraná” era bastante forte, era:
“POVO! TU PARECES PEQUENO PORQUE ESTAS DE JOELHOS! LEVANTA-TE !!! “.
Para os redatores do “Futuro“, órgão de imprensa claramente oponente político do Livre Paraná, sua farmácia era o ponto de encontro de “Cletos e Eugênios”.
A autoria de polêmicas matérias no periódico o tornaram réu no tribunal da cidade, por crime de calúnia e abuso de liberdade de imprensa, devido uma difamação da empresa comercial “Visconde de Nácar Filho”, propriedade do Visconde de Nácar.
Quando se referiu a “Eugenios”, em relação aos sujeitos frequentadores da farmácia de Fernando Simas, o jornal O “Futuro” falava de José Eugenio Machado Lima, promotor público de Paranaguá e também membro da Sociedade Redentora Paranaguense.
Longe de ser coincidência, José Eugênio Lima foi também transformado em réu na cidade e exonerado do cargo em 1885.
Essas condenações judiciais também afetaram tanto o farmaceutico Fernando Simas como também o professor Cleto os inspirando a ingressar em outro patamar da trajetória de nosso sujeito: o da perseguição política.
Interessante sua nomeação como Capitão da Guarda Nacional, nesta mesma época.
Como redator e diretor do Livre Paraná, Fernando lutou contra os jornais monarquistas e com os próprios integrantes do governo constituído da província.
Seus artigos continham tamanha força de expressão, beleza condoreira e singular picardia que, inevitavelmente, haveriam de exercer poderosa influência no espírito popular.
Houve muitas perseguições por parte dos correligionários do Visconde para com os colaboradores do jornal Livre Paraná e deste longo embate resultou no afastamento de Fernando do jornal e em seguida o farmacêutico foi forçado a deixar a cidade de Paranaguá, pois as represálias se concentraram em seu comércio sendo organizado um amplo boicote ao seu estabelecimento.
As ideias emitidas por tal publicação geraram a reação de personagens da elite política da localidade.
A principal reação foi o processo judicial decorrente do uso do jornal Livre Paraná para tecer críticas aos gestores da firma Visconde de Nácar & Filho.
Essa empresa era comandada por Manuel Antônio Guimarães (1813-1893), detentor do título de Visconde de Nácar, e pelo seu filho João Guilherme Guimarães.
Esses negociantes processaram Simas pelo crime de calúnia, o qual estava tipificado na Seção III do Código Criminal de 1830.
As penalidades previstas para os
condenados a tal crime incluíam a prisão por até dois anos (CÓDIGO CRIMINAL DO IMPÉRIO DO, 1830).
Esse processo estendeu-se de 1885 a 1886, quando os autores desistiram da ação contra Simas (DEZENOVE DE DEZEMBRO, 18 mar. 1886, p. 2).
Os embates entre ele e o Dr Leocádio correia eram famosos, mas vale a pena ler o pequeno trecho de um bilhete publicado no jornal que se diz de autoria de Fernando Simas à respeito da morte do Dr Leocádio.
O episódio do litígio entre a família Guimarães e Fernando Simas teve um caráter de conflito localista. Ou seja, ele foi uma implicação do confronto entre políticos veteranos residentes em Paranaguá e os jovens republicanos que almejavam expandir o seu movimento político para além desse município.
Em 1886 pelo Partido Republicano foi eleito Vereador sendo o mais votado do partido em Paranaguá, segundo nos informa o Jornal “Commercial”, Paranaguá, 03/07/1886.
O ingresso de Simas na Câmara de Paranaguá foi uma oportunidade para ele defender o ideário republicano.
Em tal período, as câmaras brasileiras tinham o encargo de governar os municípios.
A implantação das intendências e prefeituras municipais ocorreu a partir do advento da República. Durante o seu mandato de vereador, Simas participou de deliberações sobre assuntos como a arrecadação de impostos e a condução de obras públicas.
Esses assuntos não motivaram controvérsias de caráter político entre os mandatários daquela instituição (ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE PARANAGUÁ, 1887).
Na época em que tal associação foi criada, os membros do extinto Núcleo não permaneciam politicamente unidos. Assim, cumpre mencionar que a maior parte dos fundadores do Núcleo Republicano de Paranaguá não se envolveu na estruturação do Clube Republicano local.
Ata de Fundação do Clube Republicano de Paranaguá 21 de Agosto de 1887.
Jornal Ultima Hora 5 de Julho de 1960 edição 2531 pág 14.
Apesar da dificuldade de se propagar esses novos ideais republicanos, Fernando Simas conseguiu ser o vereador mais votado.
Maçom
É citado como maçom da Loja Perseverança de Paranaguá, inclusive é citado pelo autor José de Castellani em sua obra “Os maçons e a independência do Brasil”.
Simas desempenhou o cargo na Camara Municipal por apenas nove meses.
Em maio de 1887, às vésperas de o seu editor mudar de cidade, o Livre Paraná ainda existia (DEZENOVE DE DEZEMBRO, 25 mai. 1887, p. 2).
Em setembro de 1887, ele renunciou à vereança e se mudou para a cidade fluminense de Petrópolis.
Em seguida, houve a abertura de uma eleição extraordinária para o preenchimento da vaga da qual ele abdicara (GAZETA PARANAENSE, 28 set. 1887, p. 3).
Em 1887 mudou-se para Petrópolis e a seguir para o Rio de Janeiro. Estabelecido sempre com farmácia, ganhou enorme prestígio profissional.
Já na cidade de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, reabriu a “Pharmácia Simas” a acompanhou, de perto, o fim do regime monárquico.
Com a Proclamação da República os estados constituídos resolveram dissolver as Câmaras Imperiais e, em seu lugar, instalar os “Conselhos de Intendência“, que teriam a responsabilidade, entre outras, de organizar eleições para a composição da primeira Câmara eleita pelo voto no novo regime republicano.
A Câmara de Petrópolis foi, assim, dissolvida em 1890 e em 8 de agosto deste ano o governador fluminense nomeia “Fernando Machado Simas” para fazer parte deste conselho na cidade serrana.
Em 1891 foi eleito Deputado Constituinte Federal pelo estado do Paraná, com mandato de maio de 1891 a dezembro de 1893 e, transfere novamente, residência e comércio, agora para a capital federal Rio de Janeiro.
Após seu mandato de deputado, fazendo parte da elaboração e da promulgação da primeira carta magna do Brasil republicano.
Encerrada a legislatura manteve-se na capital federal, onde deu continuidade ao seu trabalho, mantendo aberta sua “Pharmácia Simas” .
Na cidade carioca conheceu, entre outras personalidades, Ruy Barbosa, do qual ficou amigo pessoal e, através deste entrou para a diretoria do “Clube Frontão Brasileiro“, fundado na década de 1890.
Esteve como Sócio Honorário do Clube Literário de Paranaguá, em 1901, apesar de não viver mais na cidade recebeu o título.
Da sua ilustre descendência, importa destacar a figura de Hugo Simas, seu filho, que se tornaria dos maiores juristas brasileiros, primeiro ocupante da Cadeira 23 desta Academia (Academia Paranaense de letras). Cadeira esta que o patrono era seu pai Fernando.
Vitoriosos os dois movimentos, Fernando Simas elegeu-se deputado à Constituinte Republicana Estadual. Liberal por excelência, incorporou-se, mais tarde, à Campanha Civilista de Rui Barbosa. Voltou às colunas da imprensa para dar à mocidade vacilante e à velhice indecisa o exemplo da sua perseverança cívica.
Pioneiro da propaganda, nunca lhe morreu o ideal do passado, conservando-o, em verdade, mais revitalizado à medida que via perigar a República.
De ilustração pouco vulgar, de energia ferrea e de grande tenacidade, foi homem que nunca se curvou. Hugo Simas assim se refere a seu Pai, em carta : “Pede-me um estudo politico sobre meu pae . . . .. Quando pude apreciai-o nas suas spartanas qualidades, já não era elle um político, mas, apenas, o estu dioso impenitente, que se conservou até á morte. «Só conheci meu Pae no gabinete de estudo, fosse entre godets e retortas, campanulas e provetes , na investigação experimental da biologia ou da botanica · fosse entre livros, já resolvendo problemas de philo~ logia, já estudando sciencias sociaes, já versando estatísticas para solução de assumptos financeiros ou economicos, sobre os quaes escreveu largamente na imprensa diaria desta Capital. « Do homem político só tenho uma reminiscencia . «Moravamos nós na praia do Russell, quando meu Pae nos abraçou a todos, mais longamente do que de costume, beijando-nos para sahir. Nesse dia seguiam para Cucuhy os deportados políticos, e elle não se julgava isento de ser incluído na leva, quando fosse dar aos deportados o seu abraço de despedida. «Quando conversava sobre os problemas sociaes era para elucidai-os, á luz da sua critica, mas com absoluta extranheza ás correntes políticas. « Vê o meu amigo que o politico desappareceu muito cedo. Só o vi interessado em Jucta política por occasião de se consagrar o grande bahiano nas urnas, para se ter, como lição, o fracasso da democracia e da liberdade nesta Republica de escravos. “
Fernando também foi poeta, sem muita expressão, e por conta disto e seus trabalhos como jornalista paranaense tornou-se patrono da cadeira número 23 da Academia Paranaense de Letras.
Dado seu grande preparo em Física, Química e Botânica, foi nomeado auxiliar do Jardim Botânico do Rio de Janeiro então Distrito Federal, onde faleceu dia em 17 de setembro de 1916.
Hamilton Ferreira Sampaio Junior
Referencias:
Biblioteca Nacional
Artigo de Noemi Santos da Silva “O professor Cleto e o movimento abolicionista de Paranaguá”
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Revista Brasileira de História & Ciências Sociais – RBHCS Vol. 11 Nº 22, Julho – Dezembro de 2019