Francisco nasceu em 9 de março de 1860 na cidade de Paranaguá, Paraná, filho de Luís Fortunato Mendes e América Lobo da Costa, fez seus primeiros estudos em Paranaguá.
Mudou-se para o Rio de Janeiro de modo a ingressar na Escola Naval.
Aprovado pelo externato da Escola da Marinha foi considerado \”Apto\” para o serviço militar em 22 de fevereiro de 1877.
Em 1878 já aparece como Guarda Marinha no Almanake Industrial do Rio de janeiro em sua edição 00037 página 317.
Em 11 outubro de 1883 casou-se com, Alcina Dias da Matta e Silva no Rio de Janeiro e desta união com ela teve três filhos Renato de Costa Mendes que chegou ao posto de General do Exército e ainda tiveram duas filhas uma de nome Eunice e outra de nome Elda, depois de ter ficado viúvo casou-se com Angelina Carneiro Mendes.
No ano de 1884 já como 2.º tenente passou a lecionar a matéria Hidrografia.
Em 1885 foi transferido para a \”Repartição Hidrográfica\” da Marinha como auxiliar.
Foi comissionado em 1887 para a Canhoneira Traripe o 2.º Tenente Francisco César da Costa Mendes.
No mesmo ano de 1887 Francisco foi transferido da Canhoneira Traripe para o Encouraçado \”Javary\” \”Monitor de Oceano\” que em 1894 aderiu a \”Revolta da Armada\” e, em 22 de novembro, sob o comando do Capitão Tenente Afonso Augusto Rodrigues de Vasconcelos, entrou em combate com as fortalezas da barra, e foi posto a pique na baia do Rio de Janeiro.
Em 1892 o Ten Francisco foi comissionado para um navio civil de nome Urano que teria grande importância na história do Brasil e, na história do Sul principalmente.
O Urano era um navio frigorifico da Companhia Frigorifica e Pastoril Brasileira, aparentemente este navio já estava nos planos dos militares que iriam se rebelar em 1893, por isso talvez o comissionamento de Francisco César da Costa Mendes.
O Urano foi construído em 1892 e era categorizado como Navio de Carga e Passageiros, seu construtor foi Walker Shipyard , W.G. Armstrong. Mitchell and co. Para a Companhia Frigorifica Brasileira, ele levava passageiros e carne congelada pela costa do Brasil, as dimensões dele eram:
Comprimento 240 pés (ca. 73 m), largura 31 pés (ca. 9 m) e, altura 15 pés (4,57 m) foi construído com seu navio irmão o Júpiter o qual temos a foto abaixo, foi construído de aço.
Em 1893 o Jornal \”O Tempo\” do Rio de Janeiro nos informa em sua edição 0932 de 1893, que o Ten. Costa Mendes já era dado como desertor acompanhando o Almirante Custódio de Mello nos Navios da Esquadra Revoltada participando dos eventos que se seguiriam.
A Revolta da Armada começou no dia 6 de setembro de 1893, na baia de Guanabara, liderada por oficiais superiores da armada como o Almirante Saldanha da Gama e Custódio de Melo, que ambicionava substituir Floriano Peixoto no posto de Presidente.
O Jornal \”O Paiz\” descreve da seguinte forma o movimento da esquadra:
\”Os navios da esquadra ao amanhecer estavam de fogos acesos, fato que desde logo despertou a atenção dos passageiros que se deslocavam de Nitheroy em direção a esta capital.
Depois se soube que o contra-almirante Custodio José de Mello estava a bordo do Aquidaban e que todos os vasos de guerra se sublevaram.
Pela madrugada do dia anterior, aquele almirante, que havia estado no teatro Lyrico, em companhia do Sr. capitão de mar e guerra Frederico Lorena, embarcou no couraçado Aquidaban, a bordo qual se achavam também os srs. capitão de fragata Alexandrino Faria de Alencar e os deputados Retumba, Seabra e Amphrisio Fialho, Jacques Ourique e o 1.º tenente Mattos.
As 10 horas da manhã já se achavam em poder dos revoltosos os Cruzadores República, Trajano, Orien e Guanabara; vapor Júpiter, da Companhia Frigorifica, e as torpedeiras de alto mar Araguary e Marcilio Dias.
Mais tarde, incorporaram-se a esquadra diversos rebocadores do Loyd brasileiro, com os quais foram rebocados o cruzador Sete de Setembro, que está na Armação, o vapor Amazonas e couraçado Javary.
O Aquidaban arvorou o pavilhão do contra-almirante Custodio de Mello.
Cerca das 3 horas da tarde a esquadra, que se conservou sempre de fogos acesos, compunha-se dos navios já citados e dos vapores, Urano, Venus e Marte da Companhia Frigorifica, já armados em guerra, e de um rebocador da Companhia Lage.
O Vapor Curityba, que entrava com carregamento de carne seca, foi aprisionado pela esquadra, assim como o Vapor Pallas.
Estão também em poder dos revoltosos e cruzando a baia as Torpedeiras ns. 1,2,3,4 e 5. Também cruzou a baia durante todo o dia a Torpedeira de alto mar Iguatemy.
A esquadra ocupava ontem a tarde a seguinte posição: Republica, Aquidaban, Guanabara, Trajano, e Jaguary, em linha desde a ponta da Ilha das Cobras até a fortaleza de Villegaignon, do lado desta capital; Jupiter, Marte, Urano, Amazonas, e Javary, ao lado do Nitheroy.
Ainda, os revoltosos tinham se apropriado de 18 navios mercantes e, rebocadores, entre estes navios estava o Urano que teria entrado para o conflito.
Encontramos durante esta pesquisa um registro feito pelos jornais da época sobre detalhes desta batalha o que iremos transcrever abaixo.
\”Esboço de uma epopeia naval.
Forçando a barra pela passagem de quatro navios da esquadra, dos quais dois mercantes, tinha de tentar pela quinta vez passar pelos canhões da ditadura, o Vapor Urano, da Companhia Frigorifica, armado para a guerra, era um deles.
Às três horas da madrugada do dia 14 de setembro, madrugada clara e veranesca, no silêncio produzido pela expectativa de grandes eventos, suspendeu ferro o Urano, com destino ao Porto do Desterro.
Comandava o Urano o intemerato e corajoso 1.º Ten. Costa Mendes, um exemplo de bravura e sangue-frio nas mais arriscadas ocasiões.
Singrava as águas da baía com a placidez de quem ia cumprir um dever, quando pouco aquém da ilha Cotunduba foi atingido pelas balas dos inimigos da república e da Pátria.
Por fatalidade a bala que o fez parar na sua rota, atingira o Urano no flanco, entrando pela sala de máquinas e arrebentando a caldeira, matara e ferira gravemente, quer por estilhaços, quer por queimaduras, diversos foguistas e maquinistas.
Entre os feridos graves, estava o maquinista Braga, um distinto profissional e um grande patriota, que mesmo naquele estado, conseguiu fechar a válvula de comunicação do vapor de uma para a outra caldeira, impedindo por este fato uma maior destruição.
Em vista de tal sucesso, não teve nenhuma dúvida o bravo comandante Costa Mendes, tanto mais que naquele momento as correntes marítimas carregavam o navio para ficar ao alcance das baterias do Forte de Santa Cruz, não havia outra providência a tomar, a não ser largar ferro de modo a reparar as graves avarias que acabavam de ser feitas a bordo de seu navio.
Conhecido este fato, o panico foi medonho, o terror foi enorme, não pelo receio da morte, porque os tripulantes do Urano não o temiam, jogaram com a morte em diversas ocasiões, mas, pelo resultado que poderia advir do aprisionamento do navio e dos tripulantes que não pudessem obter uma morte gloriosa a bordo.
Enquanto cenas das mais dolorosas se passavam no navio, trezentas bocas de fogo vomitavam \”ferro e metralha\”, sob o Vapor Urano indicado pela luz brilhante dos holofotes da Tirania.
E o Navio Urano desafiando aos canhões das fortalezas, assim que findou os reparos começou a levantar ferro e seguir seu destino, recebendo, em cerca de cinco horas que esteve fundeado em reparos, mais de duzentos tiros de canhão, perdendo com isto diversos tripulantes.
Da tripulação, alguns correram em escaler de modo a recolherem-se sob a saraivada da infantaria inimiga direcionada aos navios revolucionários, não chegando a obtenção do seu desideratum, pela morte que os arrebatou.
Ao amanhecer, o oficial de quarto do Aquidaban, reconheceu e anunciou “Navio a Vista” na altura da ilha de Cotunduba, declarando ser este o bravo navio Urano.
Estava ele com a popa derreada, e a pouca fumaça que saia de uma única chaminé (este navio tinha duas chaminés) indicava haver uma séria avaria no compartimento estanque de popa e, em uma das caldeiras.
O Almirante Mello apenas teve conhecimento do sucesso que não esperava, por que \”Além do sinal que fizera o Urano do boa passagem, por todos visto pela esquadra. já era visto que os inimigos atiravam e atiravam sempre a esmo e ao acaso para fazer crer que perseguiam o que não viam\” , mandou o Almirante puxar os fogos para o Aquidaban, seguindo com este a dar combate e mesmo forçar a barra, a fim de desviar o bombardeio do Urano, alvo mais continuo do tiroteio, ao que respondia de espaço em espaço com valentia e bravura.
Enquanto o Aquidaban investia contra as fortalezas, que fuzilavam covardemente havia cinco horas uma centena de irmãos a canhonadas de 450, já o navio Trajano havia rompido fogo e entrado em combate.
Dante da potência e, da força do reforço que aparecia, recuarão os valentes e, no meio do entusiasmo das guarnições a oficialidade da Esquadra, levantava ferro o Urano e, içando as suas velas brancas, de impulsionado por uma pequena caldeira de sobressalente, deslizava pela vastidão do oceano, deixando na sua esteira tinta de sangue fatricida, o estigma rubro da debridado do poder e da mono monia homicida ditador o Sr. Marchal Floriano Peixoto.
A vitória pertencia ao frigorífico.
Considerado presa infalível , já esperava o Marechal Vermelho, a noticia da ordem que dera pelo telefone para a fortaleza de Santa Cruz, de nada pouparem, de nada salvarem e, por a pique o navio.
Sua Excelência queria ver os cadáveres, queria ter indigestões de carne humana, reunindo ao enorme número das vítimas imoladas ao seu capricho pessoal, mais aquele punhado de bravos.
A providência, porém, não satisfez ao prazer de Sua Excelência e, o Urano, muito embora tivessem noticiado o seu naufrágio, ele veio a cumprir no Desterro sua comissão e ai estão a, sua distinta oficialidade e a sua valente guarnição, continuando a prestar os seus serviços a salvação dos princípios Republicanos espezinhados pelo grupo do Sr. Peixoto.
A bordo do legendário cruzador Aquidaban vinham com destino a capital de Santa Catarina sede do Governo Provisório, diversos concidadãos nossos, ilustres revolucionários e, defensores das nossas liberdades, entre eles notava-se o bravo General Piragibe, Coronel Jacques Ouriques , Luiz Pires e outros.
O chefe da esquadra, em ordem de 14 de Outubro sob o numero 11, ao dar conhecimento deste acontecimento, ao congratular-se com seus camaradas fez grandes votos de louvor a viagem do ousado Urano
Navio construído para o comércio, não tendo construtura naval bastante para resistir a combates, devido só ao denodo e ao heroísmo e a bravura de sua oficialidade, principalmente de seu comandante 1° Costa e Mendes e, de sua briosa guarnição, deve a sua salvação das garras dos abutres do Itamaraty e a glória de ter escrito uma das maiores proezas navais que se tem realizado no oceano.
F. Paranhos\”.
Jornal o estado 1894 edição 00353 página 3 de 21 de fevereiro de 1894.
Ainda relatado pelo General Sebastião Bandeira sobre a \”fuga do Urano\”, ele nos conta estar a bordo deste Navio no fatídico setembro, e conta que escapou o Navio de naufragar por ocasião de sair da barra do Rio de Janeiro alvejado pela artilharia das fortalezas de Santa Cruz e Lage.
Ainda em Desterro anuncia-se a presença de Francisco da costa Mendes.
A Invasão de Paranaguá
Amanhecendo dia 13 de janeiro de 1894, uma névoa envolvia a cidade de Paranaguá essa névoa era vinda do mar, apontou na Barra o Vapor “Esperança”, recebendo fogo do Forte Colonial, aliás esse Forte era muito mal armado, foi repelido retornando ao largo, no dia seguinte ainda sem o sol ter nascido, o Cruzador “República” *entrou pela barra do Sul ao mesmo tempo que os Navios “Esperança” e “Urano” entravam pela barra do norte.
Ao chegarem ao alcance de tiro de canhão da fortaleza, situada na Ilha do Mel , esta disparou contra eles as suas baterias, sendo logo o fogo respondido por aqueles navios.
Enquanto isso o Navio “Pallas” desembarcou uma força expedicionária para a tomada do Forte, do combate a fortaleza deu apenas dezoito tiros, resultou e sua capitulação pelas forças que desembarcaram durante o canhoneiro.
A Guarnição do Forte conseguiu fugir com exceção do comandante Manoel Gonçalves da Silva que foi feito prisioneiro quando tentava evadir-se.
Caindo o Forte o Comandante Federalista do Batalhão “Fernando Machado” deixou ali 30 praças para guarnecer o Forte.
No dia 15 pela manhã dali zarparam os navios para enfrentarem a cidade de Paranaguá, receberam vivo e renhido fogo de 08 canhões Krupp’s, colocados no litoral da cidade e no Porto.
Os navios então puseram se ao largo fora do alcance das baterias inimigas, aonde ancoraram a fim de esperar o Cruzador “Iris”, que levava o grosso das forças de desembarque.
A uma hora da Tarde deste dia passava o “Iris” a frente das baterias inimigas e nas mesmas circunstâncias que as demais. As balas Florianistas (Legalistas) somente atingiram a chaminé do Cruzador “Urano” e duas granadas arrebentaram em cima do “Iris” espalhando diversos estilhaços pelo toldo, sem que acontecesse nenhuma fatalidade, logo que este navio fundeou junto aos outros o Almirante Mello reuniu-se com os capitães a bordo do “Republica” a fim de traçar os planos da ocupação da cidade, formados em fila todos os Cruzadores e Navios partiram para o ataque e desembarque num lugar denominado “Porto D’agua”.
O “Republica” que seguia a frente dessa linha colocou-se a frente a esse Porto e sustentou o fogo sobre esse local, enquanto os outros navios se aproximavam do local do desembarque o “Urano” teve avaria no leme e o “Iris” teve avarias na casa de máquinas, silenciada as baterias da cidade o desembarque aconteceu sem quase nenhuma resistência, pelo batalhão “Fernando Machado” da Marinha e mais dois corpos do exército Federalista comandados pelo “Coronel Pahim e Franklin” derrotada a guarnição do Porto, o Almirante ordenou aos navios que atracassem nas pontes para uma possível retirada caso fosse necessário, felizmente ao anoitecer a cidade estava em seu poder com exceção da Cadeia Pública o qual um contingente Legalista tinha se entrincheirado, a cadeia foi cercada, mas não foi bombardeada porque lá haviam 50 Federalistas (Maragatos) sendo o Coronel Teophilo e o ten. Souza e Mello que deviam como todos os Maragatos serem fuzilados no dia seguinte com Ordens do General Pego Junior, felizmente nesse dia 16 após negociações com garantia de vida houve a capitulação da tropa Legalista (Pica-Paus).
A solução para o conflito, entretanto, acabou sendo política.
Em 1895, já sob a presidência de Prudente de Moraes, selou-se um acordo de paz em 23 de agosto, na cidade de Pelotas.
Já em 1895 Francisco César da Costa Mendes era \”anistiado\” e solicitava uma licença para se empregar em navios do Comércio em geral.
Aproveitou o benefício da \”Anistia\” que o passaria para a \”Reserva Especial\” da Marinha.
Apesar da \”Anistia\” Francisco ainda em 1900 foi denunciado por crime de \”Conspiração\”, tendo sido inclusive \”preso\” e, posteriormente liberado, solicitou ainda no ano de 1900 sua reintegração ao serviço ativo da Marinha, o qual foi acatado e, no mesmo ano já constando na ativa em 1901.
Esteve preso na \”Ilha das Cobras\” conforme seu próprio relato na sua acusação.
Em 1904 constava da tripulação do Cruzador República.
Segundo a Revista da Marinha Brasileira em 1905, já se encontrava integrado novamente ao serviço ativo.
De 1905 até 1907 esteve como imediato do Navio Escola Trajano.
Foi designado imediato do Contra Torpedeiro Rio Grande do Norte, em idos de 1908 o qual serviu até 1909.
Em 1909 ainda foi designado para ser Diretor do Museu da Marinha.
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Ainda em 1909 foi designado Capitão do Porto do Mato Grosso, segundo Relatórios do Ministério da Marinha do ano de 1909 página 99.
Ano de 1910, talvez o mais conturbado da carreira de Francisco com os eventos que viriam a acontecer, as injustiças, injúrias e muito mais.
Em 7 de outubro foi designado para o Vapor Comandante Freitas.
Em 1910 estava a frente da Capitania dos Portos de Manaus.
O Bombardeio de Manaus
Ocorreu em oito de outubro de 1910.
Foi o inesperado e trágico resultado, de um golpe confuso e mal preparado, tramado em parte na Capital do País no qual o Vice-Governador Sr. Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, depôs o Governador Cel. Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, com uma falsa ata do Congresso do Amazonas, de sete de outubro de 1910.
O Brasil de outubro de 1910 vivia os últimos dias do governo do sétimo Presidente da República o Sr.Nilo Peçanha, que assumiu o Governo após a morte de Afonso Pena em 1909.
O Marechal Hermes da Fonseca com 403.867 votos, era o Presidente eleito, tendo derrotado a Rui Barbosa na eleição de 1º de março sendo a sua posse marcada, como de costume na época, para 15 de novembro.
Rui Barbosa, Senador pela Bahia apoiado por São Paulo, obteve 222.822 votos, fato inédito já que candidatos da oposição não conseguiam mais de 20.000 votos.
Sua campanha civilista, inspirado nas campanhas de Roosevelt (1904) Presidente dos Estados Unidos, foi a primeira campanha presidencial moderna do Brasil, percorrendo vários estados do país fazendo discursos e comícios, e pela primeira vez na República Velha houve uma disputa real pela Presidência. Lembrando que o voto era aberto, e que a fraude era corriqueira.
Hermes da Fonseca venceu com o apoio do Presidente Nilo Peçanha do Partido Republicano Fluminense, mas nos primeiros dias de outubro, antes da posse se aliou ao recém-criado Partido Republicano Conservador do Vice-Presidente do Senado Pinheiro Machado.
Na época o que regia a política brasileira era a política dos estados onde os candidatos a Presidente da República eram escolhidos previamente pelos governadores, e este, uma vez eleito, não interferia nos negócios dos estados e nem os estados interferiam nos municípios, garantindo assim autonomia política a todos, desse modo as oligarquias locais se mantinham indefinidamente no poder.
No Amazonas
Silvério Néri era Senador da República em 1900, quando da eleição para o governo do (amazonas), ele maneja para que seu irmão o Coronel do Estado Maior do Exército Constantino Néri, ocupe o seu lugar no senado e, ele governaria o Estado de 1900 – 1904. Ao final de seu mandato, volta ao senado e Constantino Néri passa para o Governo do Amazonas, 1904 – 1908, porém quando tentaram trocar novamente, o Presidente Afonso Pena impediu o processo, em simultâneo, apareceu na imprensa em Manaus uma série de escândalos administrativos de seu governo, com isso Constantino Néri decidiu retornar a vida militar, e Silvério permaneceu no Senado.
Foram eleitos então para o Governo do Amazonas o Coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt e como vice, o jovem Senador Coronel Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto.
Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt
Bittencourt fora o vice de Silvério Néri durante o seu governo, eram do mesmo partido e aparentemente amigos, mas, em 1903 quando abriu uma vaga no Senado, Bittencourt se candidatou a ela, foi ao Rio de Janeiro, e teve uma votação suficiente para ocupar o cargo, mas, seu nome foi rejeitado por Pinheiro Machado o responsável, então, pela Comissão verificadora dos poderes, o equivalente hoje ao Tribunal Superior Eleitoral ficando a cadeira com o Barão de Ladário. Como era totalmente desconhecido no Rio de Janeiro e com sua história restrita ao Amazonas, os jornais o apelidaram jocosamente de \”Pedro Alvares Cabral\”, pois vinha para descobrir o Brasil. Os políticos do Amazonas envolvidos no bombardeio de Manaus eram ou foram em algum momento do Partido Republicano.
Os Jornais de Manaus
O Jornal \”Amazonas\”. O órgão de divulgação do Partido Republicano Federal. Tinha como seu maior acionista Bittencourt, os outros sócios eram Silvério Néri e Cabo Afonso, depois da expulsão de Silvério e Afonso do Partido, Bittencourt \”vendeu\” sua parte ao Dr. Adelino Costa.
O Correio do Norte O órgão de divulgação do Partido Revisionista, que apoiou a campanha civilista de Rui Barbosa, após a extinção do partido em 3 de setembro de 1910. Foi vendido em 14 de setembro ao deputado Castella Simões e o Sr. Trajano Chacon, um advogado da cidade. Depois foi vendido em 31 de dezembro de 1910, a Germano Bentes Guerreiro, um jornalista independente,
Jornal do Comercio, dito independente, se dizia ligado à Associação Comercial do Amazonas.
A Noticia, dito independente, mas claramente apoiava Sá Peixoto.
Jorge de Moraes, Jônatas Pedrosa e Silvério Néri, eram os Senadores pelo Amazonas.
Comandava o 46º batalhão de Caçadores do Exército o Coronel Joaquim Pantaleão Telles de Queiroz.
O mesmo oficial da \”Questão Telles\” no Rio Grande do Sul, onde:
\”No dia 30 de julho de 1896 assumiu o comando geral da Força o general Salvador Aires Pinheiro Machado, após uma pequena crise em que se viu envolvido o coronel Joaquim Pantaleão Teles de Queiroz que mostrou desejos de amotinar algumas unidades da corporação sob seu comando, em ato de represália contra o governo do Estado, face a incidente pessoal com magistrado do Superior Tribunal, o Dr. Paulino Rodrigues Fernandes Chaves, não logrando seu intento.\”
Compunham a Flotilha do Amazonas em 1910 os navios:
As Canhoneiras: Amapá, Acre, Missões e Juruá.
Os Avisos: Tefé e Jutay. O Vapor de Guerra Comandante Freitas.
Quando da ida do Coronel Joaquim Pantaleão Teles de Queiroz para Manaus para assumir o 46º batalhão de caçadores, este recebeu ordens diretas de Nilo Peçanha para resolver a disputa entre o Governador Bittencourt e Silvério Néri.
Já, o novo capitão do porto Capitão de Corveta Francisco Costa Mendes indicado para Manaus é chamado ao Ministério da Marinha e lá ouve do Almirante Alexandrino que deve atender os pedidos do Senador Silvério Néri.
E dali segue para ao Hotel dos Estrangeiros para se encontrar com Silvério Néri…
Aqui já ia se formando o \”caldo\” que culminaria no Bombardeio de Manaus.
No dia 13 de fevereiro de 1910 Silvério Néri é removido da liderança do partido e em seu lugar é aclamado o governador Sr. Antônio Bittencourt, que, nunca disse ou desdisse se aceitava a liderança. Cabo Afonso também foi removido da direção do partido.
No início de setembro o Governador se mostra propenso a concordar com o Coronel Pantaleão e se reaproximar de Silvério Néri, porém, depois convencido pelos deputados Antônio Monteiro de Souza, Antônio Guerreiro Antony e Raposo da Camara, retrocedeu.
Membros do Congresso do Amazonas sugeriram ao Coronel Pantaleão que retirasse o Governador a força, mas este declinou, dizendo que só com uma ordem vindo do Rio de Janeiro poderia fazê-lo, sugeriram então o problema do Jornal \”Amazonas\”, Bittencourt era o \”proprietário\” do jornal, porém, este também pertencia a Silvério Néri, e o foi, durante todo o seu mandato como governador e nunca foi obstáculo para nada, era, como na maioria dos jornais da época o órgão de divulgação do Partido Republicano da vez, mas segundo a constituição do Amazonas no artigo 43, o governador não poderia…
De qualquer forma Bittencourt tinha a maioria no Congresso do Amazonas e uma proposta de impeachment jamais passaria.
Mas no dia 18 de setembro Pantaleão pede uma reunião com o Capitão do Porto, na reunião Pantaleão informa \”Tenho ordem de depor o Governador Bittencourt e preciso do seu auxilio\” este lhe responde que não pode ajudar pois não dispõe nem de uma \”canoa de um pau só\”[7]. Mas que deve pedir auxilio ao Comandante da Flotilha.
Do Comandante da Flotilha, Pantaleão ouviu uma recusa, pois a mudança de governo no Amazonas só seria benéfica ao Almirante Alexandrino, seu desafeto. Mas que estava pronto a passar o posto a quem o Ministro da Marinha indicasse.[8]
No dia 5 de outubro houve uma grande recepção na casa do governador em comemoração do aniversário de D. Amélia, esposa de Bittencourt, todos compareceram, o inusitado da noite foi que o Dr. Castella Simões pediu a mão de Dalila, filha de Bittencourt em casamento.
Nesse dia chegou a ordem para que os dois capitães de corveta trocassem posto. O Capitão de Corveta Francisco da Costa Mendes sabendo estar para acontecer tentou não se \”imiscuir\” na luta política quando recebeu um telegrama do Ministro dizendo em cifra \”Não TENHA PRUDÊNCIA\” com um erro de pontuação a mensagem original deveria ser \”Não! TENHA PRUDÊNCIA\” e, as 6 da tarde do dia seguinte, recebe outro telegrama sem cifra dizendo \”EXONERADO CAPITANIA ASSUMA IMEDIATAMENTE COMANDO VAPOR FREITAS\”.
A data escolhida era sete de outubro de 1910.
Nesse dia, sete de outubro, às 9 horas, o Deputado Federal do Amazonas Sr. Antônio Monteiro de Souza, chegou a Manaus e para ele se preparou uma grande recepção, que começou no Manaus Harbor & Roadway, como era chamado na época, na qual compareceram 12 dos 19, membros do Congresso do Amazonas, já que cinco deputados não se encontravam em Manaus, o Governador, o Prefeito, Os cônsules dos países amigos, toda a imprensa, a Associação Comercial, etc.
Consequentemente não houve sessão no Congresso, já que não havia quórum (mínimo de doze deputados), e o dia transcorria em paz e festividades.
Depois das três horas da tarde, tendo assumido o comando do Comandante Freitas e tendo sido informado por ofício do Vice-governador Sá Peixoto que o Congresso do Amazonas havia deposto o Governador Bittencourt, o Capitão Francisco da Costa Mendes deixou o Vapor e voltou à terra para dar posse ao novo Capitão do Porto, o ex comandante da Flotilha, isto feito, seguiu para o Palácio para se apresentar ao Governador, como de praxe.
No caminho recebeu um segundo Ofício de Sá Peixoto, requisitando a força do seu comando para garantir a autoridade dele e do Congresso.
Chegando ao Palácio ele se depara com Bittencourt no cargo de Governador, ele se apresenta, de praxe, como o novo Comandante da Flotilha, e é recebido, depois, conversando com Bittencourt, se diz surpreso por não ser recebido por Sá Peixoto, por que de acordo com o ofício tal…
Bittencourt, surpreso, diz que vai \”pensar\” sobre o assunto e se despede cordialmente do novo comandante da Flotilha.
O Capitão, então, segue para o Posto do Telégrafo para comunicar ao Rio de Janeiro os ocorridos naquela tarde, mas encontra já o posto fechado e com policiamento à porta.
Bittencourt e o vice-governador eram muito próximos, mas, imediatamente mandou o comandante da polícia militar reforçar a segurança do Palácio e fechar o telegrafo.
Relata o Comandante da Flotilha, que Sá Peixoto e os membros do congresso chegados a ele teve ordem de prisão decretada. Depois informou por telegrama, o Presidente da República.
“Dr. Nilo Peçanha, Presidente Republica – Rio.
Acabo de ser prevenido que forças federais pretendem depor-me hoje de madrugada.
Cumpro o dever de trazer a v.excª.
De modo a tomar as providências que couberem no caso, declarando que procurarei cumprir meu dever, defendendo a autonomia do Estado, certo V.Excª. Não consentirá tal atentado ao regime republicano.
Saudações.
Bittencourt”.
O Presidente Nilo Peçanha e seus ministros militares estavam no Curato de Santa Cruz (zona oeste do Rio de Janeiro) assistindo às manobras finais daquela guarnição e só retornariam ao Palácio do Catete no final da tarde do dia seguinte.”
De propósito? Não se sabe.
A mensagem do Almirante Alexandrino \”EXONERADO CAPITANIA ASSUMA IMEDIATAMENTE COMANDO VAPOR FREITAS\” ao Capitão Francisco Costa Mendes talvez explique.
Sabe-se sim, que a ata do Congresso era forjada. Várias das assinaturas eram falsas.
Sabiam disso, os comandantes Militares em Manaus? Não se sabe.
Às oito da noite Sá Peixoto e três deputados entre eles o Presidente do Congresso com as famílias se asilam a bordo do Vapor Comandante Freitas.
Às cinco e meia da manhã do sábado oito de outubro, Manaus é acordada com o bombardeio pelos navios da Flotilha, sem comunicação ou intimação, às seis horas um grupo de marinheiros tentou tomar pelos flancos o Palácio do Governo enquanto soldados do exército atacavam pela frente, ambos sofrendo baixas, morre o Tenente Lins. A polícia militar defendeu como pode o Palácio e logrou êxito rechaçando as várias investidas daquela manhã.
A outra versão, do Coronel Pantaleão, é que tentando entregar o ofício ao governador, soldados e marinheiros foram recebidos a bala pela polícia, ocasionando a morte do Tenente Lins. Quando então houve a ordem de atirar para se defender.
A questão é: entregar o ofício antes das cinco e meia da manhã? No Palácio?
A esta hora do dia, na casa do Governador talvez fosse mais verossímil. Atirar para se defender, com canhão, a partir da Flotilha? Às cinco e meia da manhã?
A primeira tentativa de tomar o palácio ocorreu pouco antes das seis horas, um grupo de marinheiros desceu pela rua Bernardo Ramos enquanto soldados do Exército vinham pela Av. Municipal, foram recebidos pela polícia militar com um intenso tiroteio.
Às dez horas, como as tropas federais ainda falhassem em tomar o Palácio, o Comandante Pantaleão enviou um emissário, o 2.º Tenente Pantaleão Telles Ferreira, seu sobrinho ao quartel da polícia onde estavam O Governador Bittencourt, o Prefeito Adrião Ribeiro Nepomuceno e alguns Cônsules das nações amigas acreditadas em Manaus, dizendo que o Congresso do Amazonas em sessão do dia sete de outubro havia decretado a perda do mandato de governador e que este deveria passar para o substituto legal, o vice-governador.
Como era de conhecimento geral que no dia sete não havia tido sessão no congresso, todos ficaram pasmos, pouco depois, outro emissário o Tenente Coronel Coriolano de Carvalho e Silva, informava que o vice-governador requisitara ao comandante do exército que intimasse o governador a passar o cargo, e Bittencourt responde dizendo que não reconhece a competência do Coronel Pantaleão Telles para lhe dar ordens, ao que o Coronel Coriolano retrucou, dizendo ser \”Uma ordem que vinha de forma reservada do Governo Federal\”, o que causou estranheza, porém foi dito que se fosse mostrado o documento então este seria acatado.
Às onze e trinta e cinco da manhã, outros telegramas dirigidos ao Presidente da república, jornais, aos comandantes da Marinha e Exército nacional, a governadores de outros estados, foram enviados pelo governador e pelo prefeito, dando conta do que se passava em Manaus.
Telegrama do Governador Bittencourt ao Presidente Nilo Peçanha
\”Acaba de ser atacada a guarda do Palácio por forças desembarcadas das canhoneiras fluviais.
O Quartel da Força Federal foi ostensivamente artilhado.
Confirmando telegrama de ontem, aguardo, providencias enérgicas, urgentes de v.excª, a fim de restabelecer o sossego público perturbado.
Por minha parte manterei a toda força os princípios constitucionais.\”
Telegrama do Prefeito Adrião Ribeiro ao presidente Nilo Peçanha.
\”O Município de Manaus protesta, perante todas as autoridades federais e a imprensa de todo o País, contra o inaudito atentado perpetrado pelas forças de terra e de mar federal, bombardeando uma cidade indefesa como se a população amazonense fosse cidade inimiga da Pátria. O Coronel comandante da inspeção mandou ao governador declarar por ordem reservada do governo federal que arrasará a cidade caso não queira entregar governo ao vice-governador.\”
Telegrama do Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino Faria de Alencar ao Superintendente de Manaus Adrião Ribeiro.
\”Se verdadeiro for vosso telegrama, será demitido o comandante da flotilha e responsabilizado por estar procedendo contra as ordens do Governo.\”
As reuniões se sucedendo e o bombardeio continuava, mortos e feridos, o Antigo Palácio do Governo já bastante danificado…
Pouco depois da saída do Coronel Coriolano, o bombardeio cessou, e foi distribuído nas ruas de Manaus um panfleto pondo a culpa do que ocorria no governador.
AVISO A POPULAÇÃO.
Insistindo o Sr. Governador do Estado em não passar o exercício ao seu substituto legal, após ter perdido o mandato, em virtude do disposto no art. 43 da constituição, conforme o reconheceu o Congresso do Estado, as forças de terra e mar, solicitadas pelo vice-governador em exercício, avisam a população que vão bombardear a cidade, a começar de uma hora da tarde, de modo que todos tomem as devidas precauções para garantia e segurança de suas vidas.
(Assinado) Antônio Gonçalves de Sá Peixoto, vice-governador em exercício, coronel Telles Queiroz, comandante da 1ª Região Militar, Francisco C. da Costa Mendes, comandante da flotilha.
Em 8 de outubro de 1910.
Em resposta, logo depois foi impresso outro, convocando a população a pegar em armas para defender a legalidade.
\”POVO AMAZONENSE
As nossas liberdades estão perigando! Os grandes interesses do Estado, sacrificados a sanha gananciosa de um grupo de despeitados prestigiados pela força. É necessário reagir quanto antes, em defesa de desses direitos periclitantes. O Governo do benemérito coronel Antônio Bittencourt confia e espera a solidariedade do povo amazonense. Cada cidadão deve ser um defensor desse Governo de honestidade. Às armas, povo amazonense! No quartel da polícia há armamento para a defesa do Governo.
Manaus, 8 de outubro de 1910.\”
Lembrar que, Sá Peixoto tinha ao seu dispor a gráfica do Correio do Norte e Bittencourt a do Amazonas.
À uma hora da tarde, como anunciado, o canhoneiro recomeçou.
Às duas da tarde já com o clima de guerra civil instalado, os cônsules das nações amigas e da Associação Comercial intervieram, argumentando que se a ordem vinha do Rio de Janeiro não havia nada a fazer, mas se não, certamente seria remediada em pouco tempo, o importante era salvar a cidade e as vidas tanto dos dirigentes quanto da população.
O Coronel Coriolano retorna, trazendo um ofício assinado pelo comandante militar, afirmando ser uma ordem do Presidente da república.
\”Inspeção Permanente da 1ª Região Militar.
Gabinete. Nº
Objeto: Comunicação e Intimação.
46º Batalhão de Caçadores, em Manaus, 8 de outubro de 1910.
O Coronel Joaquim Pantaleão Telles de Queiroz, inspetor permanente da 1ª Região Militar, Ao Exm. Sr. Coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt:
Exm.Sr. coronel.
De ordem do Governo Federal, intimo a v. excª.
A passar imediatamente, o Governo do Estado ao exm. Sr. Dr. Antonio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, vice-governador do Estado.
Saúde e Fraternidade, coronel Joaquim Pantaleão Telles de Queiroz.\”
Como ainda não obtivera resposta do Rio de Janeiro, o governador cede, sob protesto, mas cede. Mas antes registra uma ata em juízo, da reunião que tivera com os cônsules e os relatos dos enviados militares naquele dia.
Segue para a sua casa e depois a noite avisado que seria preso, vai pelos fundos para a casa vizinha do Cônsul da Argentina.
O Comandante da Flotilha diz que o bombardeio cessou às três horas da tarde.
Já Bittencourt diz que o bombardeio prosseguiu até depois das cinco horas da tarde.
Ao fim do bombardeio haviam sido atingidos o Teatro Amazonas, o Palácio do Governo (depois Paço Municipal 1917, Paço da Liberdade 1956 e atual Museu da Cidade), o Hospital Beneficente Português, o Ginásio do Amazonas (hoje Colégio Estadual D. Pedro II), o Mercado Municipal, a Igreja dos Remédios, O Quartel Geral da polícia Militar, além de várias residências entre elas a do Dr. Simplício Rezende e casas comerciais como o Bazar Amazonense, com mortes de civis e militares de ambos os lados e dezenas de feridos. Assim que retornou ao Palácio do Catete, Nilo Peçanha convoca os ministros militares e envia imediatamente um telegrama ao Governador Bittencourt.
Telegrama de Nilo Peçanha ao Governador Bittencourt.
\”Exmo. Governador Bittencourt Acabo receber telegrama V.Exª. Comunicando-me que forças federais de mar e terra promovem a deposição de V.Exª, e que a guarda de Palácio foi atacada. Governo Federal não se conforma com tal atentado à autonomia do Estado e por intermédio de seus ministros da marinha e da guerra já fez ciente as mesmas forças de que se de fato é verdadeiro e V.Exª for deposto, mandará repô-lo como me cumpre em obediência à constituição e a lei. Saudações cordiais.
Nilo Peçanha.\”
Este foi o último telegrama recebido por Bittencourt, que já estava deposto.
No início da noite, por volta das oito horas, o ofício, entregue ao Coronel Coriolano, finalmente chega as mãos o vice-governador informando formalmente da decisão, então nomeia um novo Superintendente o antes intendente municipal Coronel Carlos Studart que era farmacêutico e em sua farmácia o Deputado Castella Simões que também estava a bordo e era médico, fazia consultas das sete às dez, como dizia sua propaganda no seu jornal.
Depois, Sá Peixoto desembarca e vai para casa, pois o Palácio estava bastante destruído.
O importante é que a noite depois das oito horas o Posto do Telegrafo muda de mãos.
Só então chegam as respostas do Rio de Janeiro.
Telegrama do Ministro da Marinha ao Comandante da Flotilha, Capitão Francisco da Costa Mendes.
\”Telegrama do superintendente (Prefeito de Manaus) comunica que flotilha bombardeia a cidade de modo a depor o governador. Se, na verdade, estais procedendo tão inaudito atentado, sereis responsabilizado e preso, considerando-vos desde já demitido\”.
Telegrama do presidente Nilo Peçanha ao Vice-Governador. Bittencourt que só toma conhecimento deste pelos jornais já em Belém do Pará.
\”Não posso dar responsabilidade da União à situação de fato que ai se criou. Não tenho nenhuma comunicação com o Congresso do Amazonas, a que V.Exª. aludiu. Deve V.Exª. passar a administração ao governador coronel Bittencourt, nesse sentido dou ordem a guarnição\”
Com este telegrama se deduz que Sá Peixoto enviou um telegrama a Nilo Peçanha, explicando o acontecido e informando sobre a ata do Congresso do Amazonas.
Como já estava descartada a \”Ata\” do Congresso do Amazonas por Nilo Peçanha neste telegrama, Sá Peixoto precisava encontrar um novo meio de legalizar a sua posse.
Em nove de outubro, dá posse, a um novo chefe de polícia Sr. Jorge Maranhão que era, cunhado de Silvério Néri, e convoca o agora ex-governador para uma reunião em sua casa.
Lá, trazido preso por escolta do Sr. Maranhão e militares armados, os dois se encontram e ele exige uma carta de renúncia, que intimidado, temendo por sua vida o ex-governador assina, já que era desnecessária se o congresso o havia deposto, de que serviria uma carta de renúncia…
No dia 10 de outubro, Bittencourt avisado por amigos que sua vida corria perigo, embarca no paquete Bahia que estava pronto para partir, pois, a princípio só embarcaria no dia 13, com sua família no paquete inglês Ambrose com destino a Belém.
Lá chegando recebe ainda no porto de Belém o General Pedro Paulo da Fonseca Galvão que lhe pergunta a pedido do Presidente Nilo Peçanha se sua renúncia havia sido feita de livre vontade.
No Senado da República, Silvério Néri, Rui Barbosa, Pinheiro Machado e outros, discursam a favor da legalidade da deposição de Bittencourt, disseram que o Congresso do Amazonas agira com soberania de acordo com a constituição e tudo mais, apresentaram os telegramas de Sá Peixoto, etc.
Protestaram contra a reação de Nilo Peçanha, que este não devia se envolver, que era uma interferência nos negócios do estado do Amazonas, etc.
A constituição do Amazonas no seu artigo 43, realmente dizia que o governador não podia ter empresa que fosse ligada ao governo, mas não determinava nenhuma sanção, e a pela constituição federal, para se remover um Governante era e ainda é hoje, preciso haver um processo com pleno direito de defesa, etc.
Então ficou patente que a ata do Congresso era forjada, parte das assinaturas eram falsas. Mas o Governador renunciou, lembraram em outros tantos discursos no Senado.
Nilo Peçanha já havia mandado o General Pedro Paulo da Fonseca Galvão perguntar a Bittencourt, se este havia renunciado voluntariamente ao cargo.
O Coronel Pantaleão Telles envia ao Rio de Janeiro um extenso telegrama relatando a sua participação no evento do dia 8 de outubro.
Finalmente, após receber as explicações do Coronel Pantaleão, o General Bormann, Ministro da Guerra envia o seguinte Telegrama:
“Coronel Telles. Manaus
O Presidente acaba de assinar decreto de vossa exoneração.
Em caso algum podeis atender requisição de quem quer que fosse.
Se o Congresso decretou procedente acusação do governador e o suspendeu constitucionalmente só o Presidente da república podia autorizar a execução da medida.
Confessais em vosso telegrama de hoje ao Sr. Presidente que, para evitar derramamento de sangue usaste do nome de S. Exc.
Deveis recolher-vos preso a esta capital.
General Bormann, Ministro da Guerra.”
Bittencourt pede e em 15 de outubro lhe é concedido um Habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal. No mesmo dia o Juiz Federal de Manaus recebe um telegrama com ordem de executá-lo.
No dia 28 de outubro quando tomaram conhecimento que Bittencourt seguia para tomar posse, a polícia militar derrubou Sá Peixoto que desapareceu (pensaram até que havia sido assassinado), mas apareceu depois que os ânimos esfriaram.
O Presidente do Congresso que declarou ter sido forçado a assinar a tal Ata do dia sete, mas era um dos que se refugiaram no Vapor Comandante Freitas, deveria tomar posse, mas se declarou doente, então o Desembargador Benjamim de Souza Rubim Presidente do Superior Tribunal de Justiça assumiu interinamente o Governo, o Prefeito Adrião Ribeiro reassumiu a superintendência.
No dia 31 de outubro de 1910,com a chegada de Bittencourt a Manaus escoltado pelo General Pedro Paulo da Fonseca Galvão (primo de Deodoro da Fonseca assim como Hermes da Fonseca) e seus dois Batalhões, foi reconduzido ao governo. Em 29 de novembro o Congresso do Amazonas anula todos os atos do vice-governador.
\”Lei numero 30 de 29 de novembro de 1910
O congresso dos Representantes do Estado do Amazonas, Decreta e Promulga a seguinte Lei.
Art. 1 Fica aprovado o decreto n.º 946 de 28 de outubro de 1910, que anula todos os atos praticados pelo Dr.Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto durante o tempo que se apossou do Governo.
Art.2 Revogam-se as disposições em contrário.\”
Com a exceção dos dois Comandantes Militares, ninguém foi processado ou punido, Silvério Néri, o Almirante Alexandrino, nem o próprio Sá Peixoto que se tornou desembargador no Tribunal Superior de Manaus.
Dias depois numa pequena vingança, o Prefeito Adrião Ribeiro trocou o nome da Av. Silvério Néri, onde morava o próprio Silvério Néri para Av.Joaquim Nabuco.
Em 15 de janeiro de 1911, Coronel Pantaleão foi condenado a 6 meses de trabalhos forçados.
Já o Capitão de Corveta Francisco Costa Mendes foi rebaixado e demitido da Marinha, mas em 1913 foi reintegrado no posto de Capitão de Corveta pelo Presidente Hermes da Fonseca.
Capitão de Corveta Francisco Barros Barreto, que se recusou a participar do golpe prosseguiu com sua carreira militar, foi Ministro do Superior Tribunal Militar como Vice-Almirante e postumamente chegou ao posto de Almirante de Esquadra.
O Deputado Castella Simões não casou com a filha de Bittencourt.
A Cidade voltou à normalidade, com os seus problemas, que já enfrentava o início da queda do preço da borracha e assim começava a perder o brilho, a pompa e circunstância.
Em 19 de dezembro de 1918 o Sr. Domingos de Matos conseguiu do Supremo Tribunal Federal o direito a indenização pela destruição do Bazar Amazonense, durante o bombardeio de Manaus.
Depois disso Sá Peixoto e Bittencourt saem caminhando muito cordialmente, escoltando-o até a sua casa.
Os Jornais de Manaus no dia 10 assim repercutiram o evento.
Houve um Conselho de Guerra Instalado para julgar as atividades do Capitão Francisco
Pelo Jornal.
Impetrado um Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal
Segue abaixo um pequeno relato sobre a absolvição do Capitão Francisco Cesar da Costa Mendes.
Francisco foi colocado em liberdade em 1912 segundo nos relata o Jornal do Comércio.
Informa o Jornal Diário da Tarde que foi \”reformado\” o Capitão de Mar e Guerra Francisco César da Costa Mendes, a pedido, mas causa estranheza que isso venha logo após o final de seu julgamento, indicando que talvez ele pudesse estar muito decepcionado com a arma da Marinha.
Em 1922 começou em Portugal uma das aventuras que acabaria se tornando um dos maiores feitos executados pelo homem, dois aviadores Cascadura Cabral e Gago Coutinho sonhavam em realizar uma travessia do Atlantico pelo \”Ar\”, iniciaram esta empreitada em 30 de março de 1922 e, constava em um trajeto.
1 – Trecho Lisboa – Las Palmas (Ilhas Canárias)
2 – Trecho Gando (Ilhas Canárias) – São Vicente (Arquipélago de Cabo Verde)
3 – Trecho Porto Praia (Ilha de São Tiago – Cabo Verde) – Penedo de São Pedro (Brasil)
4 – Trecho Fernando de Noronha – Penedo de São Pedro – Fernando de Noronha
5 – Trecho Ilha de Fernando de Noronha – Recife (Pernambuco)
6 – Trecho Recife (Pernambuco) –Salvador e Porto Seguro (Bahia) – Vitória (Espírito Santo) –Rio de Janeiro
Acontece que em Penedo, segundo o relato abaixo os aviadores encontram sérios problemas.
\”Às 17 horas do dia 18 de abril avistaram o Penedo de São Pedro e, a seguir, o navio “República” que lhes dava cobertura na arriscada aventura. A partir daí, tomaram proa diretamente ao vaso de guerra português para amararem próximo dele e não contabilizavam, nesse momento, mais de dois ou três litros de gasolina no tanque. Mas, lamentavelmente, as previsões pessimistas tornaram realidade: o Penedo de São Pedro não proporcionava o abrigo desejável e o mar junto dele, naquela tarde, estava bastante revolto.
Desta maneira, quando a ancoragem estava quase concluída, uma ondulação maior colide frontalmente com um flutuador, acarretando, consequentemente, o afundamento do “Lusitânia” (nome do Hidroplano).
Em que pese a lamentável perda, somada a todos os percalços encontrados nas etapas de vôo realizadas até ali, uma das maiores proezas da História da Aviação acabava de ser empreendida, ou seja, partindo de uma ilha, por via aérea, voando 11 horas sem ver à terra, encontrar, em pleno oceano – após percorridas 908 milhas sobre o mar, em 11 horas e 21 minutos de vôo – um pequeno penedo com 200 metros de extensão e uns 15 metros de altura, somente com o único auxílio do sextante criado especialmente para a arrojada empreitada.
O entusiasmo que esta grande proeza científica despertou em Portugal obrigou que imediatamente fosse enviado aos aviadores outro hidroavião para levar a cabo o ambicioso projeto. Assim se fez e, em poucos dias, embarcou a bordo de um navio brasileiro, o “Bagé”, outro avião “Fairey” de tipo igual ao “Lusitânia”.
Havia o projeto de desembarcar o aparelho em pleno mar, junto ao Penedo de São Pedro e, assim, a Travessia não sofreria interrupção no seu itinerário previamente estabelecido; todavia, uma vez o navio chegando próximo do Penedo, verificou-se a impossibilidade de um desembarque em boas condições.
Ficou, pois, assente que o “Fairey” seria desembarcado em Fernando de Noronha e os aviadores viriam a fazer o percurso Fernando de Noronha – Penedo de São Pedro – Fernando de Noronha e largar dali para a costa brasileira, completando, assim, o trecho que deixara de ser preenchido\”.
Por esse feito em 1922 vários comandantes de navios brasileiros que auxiliaram essa proeza receberam condecorações, entre eles Francisco César da Costa Mendes que era na época Comandante do Vapor Bagé que levou o segundo avião \”Fairey\” de Portugal até Fernando de Noronha para que os intrépidos aviadores concluíssem sua empreitada, sendo Francisco agraciado com a Comenda Ordem de Christo.
Foi agraciado também com a comenda portuguesa \”Ordem de Aviz\”.
Faleceu em 1927 finalmente indo para o \”Sono dos Justos\”.
Hamilton Ferreira Sampaio Junior.
Paulo Roberto Soares Silva.
Em memoria de Luiz Alves Siqueira, 23.03.1946 / 08.02.2018, grande pesquisador Paranaguara.
Referências:
PORTAL DO AMAZONAS, Wikipedia. Bombardeio de Manaus: Bombardeio de Manaus. In: WIKIPEDIA, Wikipedia. Bombardeio de Manaus: Bombardeio de Manaus. 1. Wikipedia, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bombardeio_de_Manaus. Acesso em: 1 mar. 2021.
PARA A História: esboço de uma epopeia naval. O Estado, Desterro, ano 11, v. 1, n. 353, 21 fev. 1894. 3, p. 3.
LETTENS, JOHN. SS Urano: SS Urano (+1895). In: LETTENS, JOHN. SS Urano : SS Urano (+1895) Read more at wrecksite: https://www.wrecksite.eu/wreck.aspx?157516. 1. ed. UK: WRECKSITE, 28 fev. 2017. Disponível em: https://www.wrecksite.eu/wreck.aspx?157516. Acesso em: 23 fev. 2021.
FILHO, Bricio. O Caso do Amazonas: Um Habeas Corpus. O Caso do Amazonas, Rio de Janeiro, ano 1910, v. 1, n. 1318, 3 dez. 1910. 1, p. 1-4.
PRIMEIRA TRAVESSIA AEREA DO ATLANTICO SUL: A PRIMEIRA TRAVESSIA AEREA DO ATLANTICO SUL. 2. ed. RECIFE: BAGAÇO, 2002. 190 p. v. 1. ISBN XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX.
Wikipédia
jornal O Paíz edição de 28 de fevereiro de 1910
jornal O Correio do Norte edição de 15 de setembro de 1910
A questão Telles Um Litigio Tumultuoso do final do século 19 –
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul de Sergio da Costa Franco
Jornal O Imparcial, página 6, 24 de janeiro 1913 Declarações do Coronel Pantaleão
Jornal O Imparcial, página 6, 24 de janeiro 1913 Declarações do Comandante Costa Mendes
Jornal O Imparcial, página 6, 24 de janeiro 1913 Declarações do Coronel Pantaleão
Jornal O Imparcial, página 6, 24 de janeiro 1913Jornal O Imparcial, página 6, 24 de janeiro 1913
Jornal O Correio do Norte edição 6 de outubro, página 1
Jornal O Imparcial, página 6, 24 de janeiro 1913
Biblioteca Virtual do Amazonas. Portal do Amazonas página visitada em 11 de fevereiro de 2014
Jornal O Imparcial, página 6, 24 de janeiro 1913Mensagem lida perante o Congresso do Amazonas na abertura da segunda sessão ordinária da sétima legislatura pelo Exm. Sr. Col. Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt Governador do Estado em 10 de julho de 1911 página 7
Biblioteca Nacional Digital
Instituto Moisés Soares
Jornal O Paiz edição de 9 de outubro de 1910. NO AMAZONAS
Biblioteca Nacional Digital : Mensagem lida perante o Congresso do Amazonas na abertura da segunda sessão ordinária da sétima legislatura pelo Exm. Sr. Col. Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt Governador do Estado em 10 de julho de 1911 página 8.