Francisco Vilela Barbosa

hamilton |10 janeiro, 2023

Blog | Rastro Ancestral

O Ministro Francisco Vilela Barbosa nasceu em 20 de novembro de 1769, no Rio de Janeiro.

Francisco Vilela Barbosa, natural da província do Rio de Janeiro, filho de Francisco Vilela Barbosa, tendo terminado os estudos preparatórios, seguiu para Portugal, a fim de estudar matemática na universidade de Coimbra.

Depois de formado nessa faculdade, assentou praça na armada nacional, no posto de 2º tenente, em 1797, na idade de 25 anos, onde prestou bons serviços, principalmente no cerco da praça de Túnis, e na tomada dos piratas argelinos, no Mediterrâneo.

De volta a Lisboa foi nomeado lente da Real Academia de Marinha, por proposta da congregação dos lentes da universidade de Coimbra, segundo a lei; passando para o real corpo de engenheiros, em agosto de 1802, no posto de 1º tenente, sendo em dezembro do mesmo ano promovido a capitão e a major em julho de 1810.

Sendo já membro da Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica de Lisboa, foi eleito sócio da Academia Real das Ciências na classe das ciências exatas, em dezembro de 1814, sendo em 1818 eleito vice-secretário, com exercício de secretário, que serviu até demitir-se, em 1823.

Além dos trabalhos acadêmicos, Francisco Vilela Barbosa procurou dotar as ciências com alguns de seus escritos.

Escreveu para a Real Academia Elementos de Geometria com um tratado de geometria esférica, 1 vol. em 8º, do qual a academia tem feito quatro edições, já extintas. O 6º tomo, part. 1ª das memórias, e história da Academia Real das Ciências de Lisboa, traz a Primavera, sublime cantata, feita por Vilela Barbosa.

Assim como o tomo 8º das mesmas memórias contém os discursos recitados pelo vice-secretário Vilela Barbosa na sessão pública da academia, a 24 de junho de 1821, e no paço de Queluz a el-rei o Sr. D. João VI, em 9 de julho do mesmo ano, por ocasião da sua chegada a Lisboa.

A mudança de sistema de governo facilitou aos fluminenses a ocasião de distinguirem ao seu comprovinciano, que em Portugal tantas provas dava de seu talento; Francisco Vilela Barbosa foi eleito deputado às Cortes constituintes, pela sua província natal.

Porém, apenas os deputados portugueses justificaram a independência do Brasil, com a sua conduta imprudente e provocadora, Vilela Barbosa provou que tinha um coração brasileiro; que o amor da pátria que nele palpitava, não tolerava a menor ideia de opressão para o Brasil; e unido à falange dos Andradas, dos Linos Coutinhos e, de todos os outros brasileiros, reconheceram que as vistas do congresso eram hostis ao Brasil; que o Brasil, que principiara a ser livre em 1808, não podia mais voltar às cadeias coloniais e, com eles assinou, a 18 de setembro de 1822, a declaração proposta pelo digno paulista Fernandes Pinheiro, depois Visconde de São Leopoldo, de que não jurariam a Constituição, porque na sua discussão haviam votado contra ela; e também porque entendiam ter cessado os seus poderes,  pedindo Vilela Barbosa em sessão do congresso, a urgência para a discussão dessa declaração.

Porém, apresentando a comissão de Constituição do Congresso o famoso projeto de decreto, que não só cassava os poderes delegados ao príncipe real no Brasil, como anulava seus atos, lhe marcava o prazo de quatro meses para voltar a Portugal, prazo que na discussão foi reduzido a um mês, depois da intimação; ordenando a “El-Rei”, que no caso de recusa do príncipe, fosse ele desautorado e, constando em Portugal o decreto do príncipe real o Sr. D. Pedro, para a convocação das cortes constituintes no Brasil, Francisco Vilela Barbosa, depois de declarar ao Congresso português, que rumava ao Brasil, para tomar parte na sua independência, atravessando, se possível fosse, o oceano com a sua espada na boca, solicitou ao governo português a demissão de todos os seus empregos e postos, o que só lhe foi concedido por decreto de 17 de maio de 1823, quando regressou para o Brasil. Sem nos fazermos cargo de historiar os dias da nossa Constituinte, “diremos, como coevo imparcial, como brasileiro desinteressado, que tem acompanhado todos os partidos políticos desde 1822”, sem nunca haver a eles pertencido, que não tardou em mostrar a Constituinte que não havia compreendido a sua alta missão; a Constituinte, cujos membros haviam sido feitos pela única eleição vestal, que o Brasil tem tido, desde a sua emancipação.

No seio da Constituinte manifestou-se um grupo, que eivado da demagogia, parecia querer lutar com o poder.

Essa luta era, sem dúvida, funesta ao país; a existência da Constituinte era um mal.

Ao chefe do estado foi indicado o corretivo; porém, generoso como era, a ponto de ser tolerante, entendeu que o remédio era violento; e então procurou em ocasião oportuna, com palavras sinceras, como amigo fanático do Brasil, que ele emancipara neutralizar as idéias que pareciam exageradas de um dos membros mais preeminentes desse grupo; mas a decepção foi completa!

A resposta dessa capacidade foi audaz, chegou a parecer insultuosa!

E foi então, que o imperador o Sr. D. Pedro I, ciente dessa opinião, e recebendo aviso de um dos caracteres mais distintos da Assembléia Constituinte, em saber e moderação, de que, se o remédio fosse demorado, produziria o efeito inverso, resolveu dissolvê-la, com o decreto de 12 de novembro de 1823. Francisco Vilela Barbosa, recém-chegado de Portugal, defensor corajoso da monarquia, e da liberdade legal, não desejava ver reproduzidas no seu país as cenas da constituinte francesa de 1789 e 1790: aceitando a responsabilidade moral do ato da dissolução, com ela aceitou no dia 10 desse mesmo mês a nomeação de ministro e secretário de Estado dos negócios do império; passando para ministro da Guerra no dia 14, e no dia 17 para ministro da Marinha, cujo ministério serviu até 16 de janeiro de 1827, data em que talvez a firmeza de seu caráter o fez solicitar e obter a sua demissão; tendo sido durante esse espaço novamente ministro da Guerra, de 26 de julho de 1824 a 3 de agosto do mesmo ano e dos Negócios Estrangeiros, de 4 de agosto de 1825 a 21 de novembro desse ano.

Novamente ministro da Marinha, a 4 de dezembro de 1829, deixou essa pasta a 19 de março de 1831, tendo estado também com a pasta de Estrangeiros desde 29 de setembro a 9 de outubro de 1830. Deixou, dissemos nós, a pasta da Marinha a 19 de março de 1831, porque tendo-se violentamente manifestado o partido revolucionário, pretextava, para as suas iras, a existência do Ministério Paranaguá (Francisco Vilela Barbosa havia sido nomeado por seus bons serviços visconde de Paranaguá, e depois marquês).

Sem dúvida, o marquês de Paranaguá não transigia com revolucionários e, portanto ele era um obstáculo para seus fins!… O marquês de Paranaguá deixou pois o poder a 19 de março de 1831, aconselhando porém à Coroa que seria importante à nomeação de um Ministério liberal e, esse Ministério composto em parte de capacidades e, no todo, de pessoas que o seu partido indicava como as mais aptas para satisfazer as suas exigências, ou não tinha força moral para obstar o progresso do mal, que ostentava o seu poder ou traía a coroa e nada fazia.

A exoneração desse Ministério foi decretada a 5 de abril seguinte, e chamado o marquês de Paranaguá.

Mas, o dano estava feito. Só medidas enérgicas podiam salvar o país.

Porém, o Imperador o Sr. D. Pedro I temia o derramamento do sangue brasileiro, no emprego dessas medidas; e generoso e magnânimo, como era, preferiu sacrificar-se, abdicando à coroa em seu excelso filho.

 Manifestada a vontade do Imperador, o marquês de Paranaguá retirou-se no dia seguinte ao da sua entrada, a 6 de abril de 1831.

Dada a abdicação no dia 7 seguinte, ficou o nobre marquês exposto à sanha do partido revolucionário, que a não ser a lealdade de um amigo, que a tempo o preveniu, para abrigar-se na legação francesa, e depois a bordo do Almirante Grivel, ele teria sido vítima dos facciosos, que duas vezes, depois de quebrarem as janelas da sua casa, a invadiram; tendo em uma dessas invasões penetrado, em alta noite, até ao aposento da desolada consorte, que como heroína lhes bradava pela Constituição, lançando-lhes em seus rostos a ferocidade contra uma senhora.

 No dia seguinte, a nobre marquesa teve também de exilar-se, para fugir à sanha dos revolucionários do 7 de Abril.

O marquês de Paranaguá era criminoso, por ser amigo do Sr. D. Pedro I, como tantos outros. Amigo da sua pátria, que tantas vezes cantou na lira sublime, que com encanto tangia, só queria para ela o verdadeiro sistema constitucional representativo; e era por isso que os demagogos o tinham como o seu maior antagonista!…

 E a tal ponto chegou a sua sanha, que além de outras afrontosas calúnias, lhe assacaram haver ele mandado buscar ao estrangeiro, e conservar ocultas no Arsenal da Marinha, forças de ferro, para com elas punir aos liberais. Não é um romance que escrevemos; essas acusações foram tantas vezes repetidas pela imprensa revolucionária que brasileiros respeitáveis as acreditaram.

Não há muitas semanas que ouvimos a uma alta personagem a confissão a mais sincera dessa fraqueza: “Eu cheguei a crer”, disse ela, “que de fato existiam no Arsenal da Marinha as tais forças de ferro, mandadas vir pelo marquês de Paranaguá.”.

O marquês de Paranaguá, exilado meses, até cessar o vulcão revolucionário, pois que ainda depois exigiram a sua deportação, entregou-se à vida privada, limitando-se a comparecer às sessões do Senado, do qual era membro desde a sua criação.

Conselheiro de estado, pela lei de 20 de outubro de 1823, foi ele um dos dignos brasileiros a quem o Sr. D. Pedro I incumbiu a revisão do projeto da Constituição, por ele redigido, e que por isso teve a glória de ser um dos seus referendatários, por cujo motivo foi condecorado com a dignitária da Imperial Ordem do Cruzeiro. Em janeiro de 1826 foi o plenipotenciário do Tratado de Amizade e Comércio que o Brasil fez com a França.

O que ninguém sabe é que nosso Francisco Vilela arriscou-se pelas sendas dos poetas, inclusive tendo publicado um livro intitulado “Poemas” em 1794 na cidade de Coimbra e, mais tarde a “Cantata a Primavera”, que ficou muito famosa, muitas de suas “Liras” são de agradável leitura, de um lirismo suave e comunicativo, algumas de suas “cançonetas“, também nos dão mostra do seu estro menos severo e convencional.

Conta-nos Joaquim Manuel de Macedo que quando era quase um octogenário queimou muitas de suas poesias, algumas delas eróticas.

Não teria sido um grande poeta, mas não pode ser esquecido na seleção dos poetas brasileiros.

Eis, a seguir uma das Liras do austero Marques de Paranaguá.

“Auras, que mansas vibrais

As asas nestes retiros

Manda amor, vos alimentem

Meus terníssimos suspiros.

Mas se quereis

Matar ardores,

Temei suspiros

Abrazadores.

Écos, que nestes rochedos,

Há muito estais escondidos,

Manda amor, que vos despertem

Os meus ais e os meus gemidos.

Mas se causar

Não quereis dor,

Não repitais

Queixas de amor.

Regatos que ides correndo

Tão pobres de vossas águas,

Manda amor, que vou aumentem

O meu pranto, e as minhas mãgoas.

Mas se quereis

Puros cristais

Prantos de Amor

Não recebais

Auras, écos e regatos,

Pois amor pode em vós tanto,

Recebei compadecidos

Meus suspiros, ais e pranto.

Amos vos dê

Fresura amena,

Alegres sons,

Onda serena”.

Faleceu em 11 de setembro de 1846.

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Referências:

http://www.arquivodamarinha.dphdm.mar.mil.br/index.php/barbosa-francisco-vilela

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VILELA Barbosa: O PRIMEIRO PARANAGUÁ. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ano 1, v. 1, n. 19880, 29 jun. 2021. 1, p. 1.

https://pt.wikisource.org/wiki/Galeria_dos_Brasileiros_Ilustres/Marqu%C3%AAs_de_Paranagu%C3%A1

TAVARES, Aurélio de Lyra. A Engenharia militar portuguesa na construção do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Biblioteca do Exército, 2000. 218p.

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