Igreja de Nossa Senhora do Rocio 103 anos de inauguração.

hamilton |30 maio, 2023

Blog | Rastro Ancestral

Rainha do Paraná

Quando chega a primavera, eu vejo a minha tapera

Toda enfeitada de flor.

A rosa me faz lembrar do Porto Paranaguá.

Aquele ninho de amor,

Da Igreja do Rocio, onde o romeiro pediu

Uma graça e alcançou.

Não há nada mais divino que o rocio cristalino

Da noite que serenou.

Era o mês de novembro, diz a história, eu me lembro

A natureza floresceu.

Num lindo campo de rosas, uma Santa Milagrosa

Certa noite apareceu.

Ali ergueram um Santuário, onde a Virgem do Rosário
Aos aflitos atendeu.

Com o orvalho que caiu. Santa Virgem do Rocio
Este nome recebeu.
I
Quando chegam os marinheiros, nossos irmãos brasileiros,
No Porto Paranaguá,

Ao deixarem o navio, vão à Igreja do Rocio

Suas bênçãos implorar.

Pedindo felicidade, que acalme a tempestade

Que desaba sobre o mar.

Pedem paz e proteção, pra que nunca falte o pão

Na mesa de um pobre lar.

Santa Virgem do Rocio, quem te vê e quem te viu

Nunca mais a esquecerá,

Com seus milagres profundos que, aos filhos deste mundo,

Vós não cansais de mostrar.

Pela graça recebida, a lembrança prometida

Os romeiros vão levar

Pra Senhora Imaculada que, um dia, foi proclamada a Rainha do Paraná!

 

Em 1920 foi inaugurado o novo campanário, data considerada para o aniversário da Igreja.
A conclusão total da obra aconteceu em maio de 1924, através de trabalhos exaustivos dos que a si tomaram a guarda desse patrimônio, e que ainda hoje lutam para que não decaia, nem desmereça a tradicional devoção, que tem sido hoje e continuara a ser o alento e a esperança das futuras gerações pautadas na fé em Nossa Senhora do Rocio.”

Tão antiga é a devoção tributada a N. Sra. do Rocio que seu início se perde nas brumas do tempo,

chegando até nossos dias através de piedosos relatos que a fé e a crença enfeitaram de poesia.

Duas lendas contam como foi encontrada a Imagem miraculosa e uma terceira faz referência à escolha do Iodai onde foi construída a primeira Capela e se encontra hoje seu majestoso Santuário.

 

 

Manoel do Rosário Correia divulgou uma poética lenda que ficou conhecida como

“A LENDA DAS ROSAS-LOUCAS”.

Conta-se que havia no Rocio, em remota antiguidade viçosas touceiras de “rosas-loucas”
que se cobriam de flores todos os anos em novembro. Eram chamadas “rosas-loucas” pela facilidade com que se despetalavam, mesmo ao sopro da mais suave brisa do mar. Certa noite, os pescadores que residiam no tocai, estando ao largo, na costumeira faina da pesca, viram um facho luminoso que, saindo do mar, descrevia uma curva e mergulhava nas moitas da
margem, justamente onde vicejavam as perfumadas “rosas-loucas”. Pensavam, atónitos, num aviso do céu indicando a existência de algum tesouro enterrado ou um sinal misterioso dado pela Providência e decidiram que no dia seguinte iriam deslindar a estranha aparição. Qual não foi a surpresa, porém, no dia seguinte, quando, ao desbastarem as moitas de “rosas-loucas”, encontraram no meio delas, uma pequeníssima Imagem de N. Sra. aljofrada do orvalho da noite e coberta de pétalas de rosas, que se haviam despencado como uma
chuva. A outra lenda, conhecida como “A LENDA DO PAI BERÊ” nos conta que, no local onde hoje se ergue o Santuário da Virpem, residiam, na margem da baía, humildes pescadores que se dedicavam aos afazeres da pesca. Certa vez, um deles de nome Pai Berê, lutava tenazmente lançando as redes ao mar sem conseguir nem um só peixe pata mitigar a fome dos filhos, e estava para desanimar quando suplicou aos céus que não o desamparasse nessa luta ingrata.
Peia última vez lançou as redes e ao puxá-la sentiu-a pesada, como a prenunciar proveitosa pescaria. Qual não foi então seu espanto, vendo que não havia peixes, mas que nas malhas da rede encontrava-se uma pequenina Imagem de N. Sra. tutilante de gotículas de água que brilhavam como pérolas aos raios do sol nascente. Com piedosa devoção recolheu a Imagem à sua modesta choça, colocando-a num tosco oratório; e conta a lenda que desse dia em diante, os humildes pescadores não mais passaram privações, pois a pescaria se tomou farta e abundante para todos. Pai Berê e os outros pescadores passaram a se reunir diante da Imagem, para rezar e agradecer os favores concedidos pela Providência Divina por intercessão da querida Santinha. Das duas lendas, esta última recebeu a consagração da crença popular por ser mais verossímel, condizente e natural, pelas circunstâncias do achado da Imagem, pescada do mar nas malhas da rede de um pobre pescador, simples devoto e temente a Deus. De qualquer forma, ambas são acordes quanto ao achado da Imagem, no mesmo local e pêlos mesmos pescadores que aí residiam.  E o fato de N. Sra. ter sido encontrada entre as roseiras ou ter surgido do meio das ondas, justifica os Títulos com que Ela é saudada na Ladainha: “Rosa Matutina e “Estrela do Mar”. Uma terceira tradição popular transmitida oralmente, de geração a geração é aquela que nos conta da escolha feita por N. Sra. do local onde deveria ser levantada a primeira capela em sua honra. Conta-se que a devoção a N. Sra. do Rocio havia se difundido tanto, pela fama dos milagres operados e dos favores concedidos, que atraia devotos de todas as partes ao oratório da choça de Pai Berê, na esperança de encontrarem, junto à Virgem, lenitivo para seus problemas e dificuldades. Tanto isso era verdade que, tendo a Vila de Paranaguá &pen:.s 38  anos de fundação, já seus habitantes, conforme relata o historiador  Vieira dos Santos, “haviam, em 1686, recorrido aos favores da Virgem do  Rocio para que os livrasse de terrível peste que assolava o litoral”, nessa época. Estando a Imagem de N. Sra. numa pobre palhoça aos cuidados de um velho pescador, e crescendo dia a dia sua fama e sua devoção, desejaram os moradores de Paranaguá, trazê-la para a Vila, colocando-a na Igreja Matriz, onde condignamen-te pudesse ser venerada como merecia; e movidos por essa piedosa intenção, assim o fizeram, entronizando-a num altar e celebrando um ato litúrgico em sua homenagem. No dia seguinte, para espanto de todos, a milagrosa Imagem desapareceu de seu nicho, e depois de incansáveis buscas, foi encontrada pela manhã, na ribanceira do mar, no local onde havia sido achada, no longínquo arrabalde do Rocio. Suspeitaram ter sido a Imagem retirada da Matriz, durante a noite, pêlos inconformados pescadores que a possuíam há tanto tempo, e com maiores precauções foi ela de novo transportada para a Matriz da Vila onde cuidaram de sua mais eficiente segurança. Pela segunda vez a Imagem desapareceu misteriosamente e a população da Vila, foi prevenida pela ocorrência anterior, correu pressurosa para o Rocio, constatando, surpresa, que lá na relva defronte o mar, coberta pelo orvalho da noite e iluminada pelo sol da manhã, estava a querida Santinha com seu sorriso meigo e bondoso. Tal fato foi interpretado como desejo da Mãe de Deus que naquele lugar se fixasse o centro de sua devoção e foi então levantada uma rústica e humilde Capelinha para abrigar a Virgem do Rocio que lá permaneceu sob a guarda d© seus fiéis devotos os pescadores. Esses fatos transmitidos pela tradição popular através das lendas, estabeleceram a tradição religiosa do culto a N. Sra. do Rocio. Sua festa é festa móvel, celebrada no 2. ° domingo do mês de novembro de todos os anos, para comemorar o achado da Imagem. A procissão que se realiza no domingo da Festa transportando N. Sra. do Rocio até a cidade, relembra a intenção piedosa de que tiveram os moradores da Vila, quando transferiram a Imagem para local mais condigno que era, naquela época, a Matriz. E a volta de N. Sra. do Rocio ao seu Santuário, carregada nos ombros, em piedosa romaria, pela população católica da cidade, significa a aceitação tácita da vontade cia Mãe ás Deus em permanecer no seu trono erguido no Rocio.
por: Annibal Ribeiro Filho

Referências:
Annibal Ribeiro Filho
Junior, Vicente Nascimento; Crônicas e Lendas; Paranagua; 1980
Freitas, Waldomiro Ferreira de, História de Paranaguá: das origens à atualidade. Paranaguá, IHGP, 1999 560 p.
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