O Ten. Coronel João Manoel da Cunha nasceu em Santana do Livramento Rio Grande do Sul em 1 de fevereiro de 1821, era filho do Ten. Coronel de 1º linha, João Manoel da Cunha que, era comandante da fronteira em Santana do Livramento e, sua mulher Gertrudes Maria da Cunha.
João Manoel da Cunha foi casado duas vezes, a primeira com Dona Maria Lourenço Munhoz e, a segunda com Maria Elisa da Cunha, teve como filhos do primeiro casamento: Maria Brasília da Cunha Luz, Maria Elisa da Cunha, Major Henrique Itiberê da Cunha, Dr. João Itiberê da Cunha e Celso Itiberê da Cunha foram filhos da segunda esposa.
Não precisamos muitas pesquisas para descobrir que esse gaúcho sim, foi um grande ‘Paranista”. (*2)
Foi Membro da Loja União Paranaguense nos anos de 1846, 1847
Foi 2° Diac∴ da Loja Maçônica União Paranaguense no ano de 1846, 1847 e 1848 sendo eleito para o cargo de 2° Diac∴ com 9 votos segundo documento (processo eleitoral) desta mesma oficina para o exercício de 1848.
Ata da Sessão de Eleição da Loja União Paranaguense no ano de 1846.
Sabemos por meio da ATA que João Manoel da Cunha esteve presente na sessão eleitoral da Loja União Paranaguense em setembro de 1847.
A loja “União Paranaguense” funcionava em um prédio alugado na Rua do Fogo, mas entre 1845 e 1847, passou a construir Templo Próprio na Rua da Misericórdia, prédio este que ocupou no ano de 1848.
Nos conta Francisco Negrão, na “Genealogia Paranaense” a trajetória deste importante personagem para a política do Paraná, conta que havendo seu pai obtido a reforma em 1836, veio com sua família para Paranaguá, tendo então seu filho João Manoel seguido para São Paulo, aonde cursou a Faculdade de Direito até o 3º ano, sendo então obrigado a abandonar seus estudos, pois nesse meio tempo seu pai faleceu e, ele por ser o filho mais velho, precisaria ajudar a tomar conta de sua família, composta de sua mãe e cinco irmãos, que rapidamente ficaram sem recursos, pois o meio soldo que recebiam a título de pensão era tão insignificante, que não chegava a ser suficiente para seu sustento.
Antes de sair de São Paulo e prevendo não poder retomar seus estudos, João Manoel tirou a carta de advogado “Provisionado” (*1).
Após isto, participou de um concurso para obter as cadeiras de Latim e Francês em Paranaguá, que haviam vagado pela morte do respectivo responsável (Padre João Joaquim Santana).
Em 1836 foi nomeado “Mordomo” dos presos na Santa Casa de Misericórdia de Paranaguá.
Memória Histórica de Paranaguá Pág. 279 Antônio Vieira dos Santos.
Memória Histórica de Paranaguá Pág. 286 Antônio Vieira dos Santos.
Fez parte da comissão que avaliou a reforma da Fortaleza da Ilha de Nossa Senhora dos Prazeres.
Memória Histórica de Paranaguá Pág. 288 Antônio Vieira dos Santos.
Em 1849 participou das comemorações de 7 de setembro, sendo elogiado no termo de vereança de 12 de outubro.
Foi aprovado plenamente neste concurso e, foi nomeado para a referida cadeira, que regeu em Paranaguá até a separação da Província, quando foi pelo seu primeiro presidente o Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos.
Foi transferido para a capital, aonde continuou a dirigí-la até julho de 1868, data em que pediu e, obteve sua jubilação, após cumprir seus deveres com a maior dedicação por 28 anos.
Periódico Dezenove de Dezembro.
Ficou viúvo no ano de 1855.
Vem a propósito citar as palavras que João Manoel dirigia a seus alunos, quando morria algum vulto notável de nossa Pátria e, estes lhes pediam para, em homenagem ao morto, conceder-lhes suêto:
“Não, senhores, dizia-lhes, este grande vulto desaparecido do rol dos vivos, para chegar a notabilizar-se, muito trabalhou, muito estudou, assim é que, honramo-lhes a memória não interrompendo os nossos estudos e, eu até se me fosse permitido, daria duas aulas em vez de uma”.
Em 1863 aparece como Tenente Coronel do 1° Batalhão da Reserva da Guarda Nacional.
Jornal “A Actualidade” edição 00317 pág. 3. 1863.
Na política sempre militou nas fileiras do partido Liberal, com a firmeza e sinceridade próprias do seu caráter, tendo merecido por seus serviços ao partido, além de outras posições eletivas, uma cadeira na representação provincial nas legislaturas de 1862 a 1863, 1864 a 1865 e, 1866 a 1867, lugar que desempenhou com a sua conhecida capacidade.
Jornal “A Actualidade” edição 00472 pág. 2. 1863.
Foi 4 vezes nomeado Inspetor Geral da Instrução Pública, nas administrações dos Drs. Frederico J. C. de Araújo Abranches, Carlos de Carvalho, Oliveira Bello e Brasílio Machado.
Tornou-se um “Abolicionista” provavelmente por influência de educadores e positivistas em idos de 1836 ou 1850 talvez por influência de sua passagem na famosa Faculdade de Direito de São Paulo, tanto é que curiosamente em 1872 encontramos um anuncio de que libertou às escravas Thereza, Silvia, Deolinda e Eulália.
Jornal “A Reforma” edição 0014 de 1872 pág.1.
De todas as vezes que ocupou este alto cargo, apresentou relatórios que são verdadeiros “tratados “ de literatura filosófica e pedagógica.
Foi também o, Dr. João Manoel, musico distintíssimo conhecendo a fundo a ciência do contraponto e, da harmonia, havendo deixado, principalmente no seu gênero sacro, verdadeiras obras primas, dignas de serem apresentadas pelos mais exigentes e conspícuos maestros.
A sua missa de Nossa Senhora do Rocio, foi cantada em Roma na Basílica de S. Giovanni de Hatterano, obtendo o maior sucesso, sendo nesta ocasião lhe concedida a medalha de Santa Cecilia, distinção essa que só é dada aos compositores de real merecimento.
Era além disto executor brilhante, principalmente no violino, que tocava magistralmente, não gostando no entanto, por sua natural modéstia, de exibir-se publicamente, a não ser nas igrejas, aonde ao lado de seu irmão Jacintho Manoel, Também musico notável e, do Major Antonio Benot de Menezes, seu parente, também conhecido e, talentoso musicista patrício, nascido em Paranaguá em 5 de junho de 1830.
Costumava João Manoel falar às pessoas que se admiravam com o talento musical de todos os seus filhos: “É; a música é um defeito que seus filhos gastavam em estudos e, concertos musicais e, que não raras vezes os distraiam dos seus estudos literários e, mesmo de seus afazeres”.
Jornal “O Globo” edição 0067 ano 1877 pág. 2.
Quando foi a Europa, em visita a seu filho Dr. Brasilio Itiberê da Cunha, naquela ocasião secretário da legação do Brasil, junto a Santa Sé, as instâncias dos eminentes vultos da literatura nacional, Manoel de Araújo Porto Alegre, Barão de Santo Angelo e, Domingos José Gonçalves de Magalhães, Visconde de Araguaya, respectivamente Ministros do Brasil junto ao Rei da Itália e, junto a Santa Sé, requereu na Universidade de Roma a defesa de tese, para a obtenção do grau de Doutor em Direito, tese esta que defendeu brilhantemente, havendo escrito e sustentado em Latim, o que causou não só admiração, da douta corporação de lentes que o arguiram, como a de toda uma grande e seleta multidão, na maior parte advogados e literatos de nomeada, que vieram apreciar o fato pouco comum até então, tanto mais sendo a defesa da tese feita em latim, com a aprovação plena, pelo que foi calorosamente aplaudido.
Em 1882 foi ovacionado pelo periódico “O Mercantil” por ter libertado seus últimos escravos.
Jornal “O Mercantil” 1882 edição 0017 pág. 1.
Quando em 1887, já no Brasil, foi nomeado procurador dos feitos da Fazenda, no Paraná.
Falemos agora do Dr. João Manoel, encarado pelo lado de seu bondoso e magnânimo coração.
Vendo o sofrimento da população de Curitiba, onde nesse tempo, só havia um médico, O Dr. José Cândido da Silva Muricy, que tendo muitas vezes de, ausentar-se por deveres de ofício, deixando os moradores entregues aos seus próprios recursos, usando da medicina caseira, improfícua geralmente, O Dr. João Manoel mandou buscar o que, de melhor se havia escrito sobre medicina homeopática, fez vir os remédios necessários e, acumulou estudos das patologias das moléstias mais comuns, principalmente as das crianças, e ei-lo arvorado em “médico”, acudindo a todos, principalmente os pobres.
Como um verdadeiro sacerdote do bem que era, o Dr João Manoel não admitia que lhe fizessem elogios pelos jornais, nem aceitava presentes ou dádivas de quem quer que fosse.
Como recompensa a seus serviços, a municipalidade de Curitiba, deu a uma de suas ruas o nome de João Manoel, pálida homenagem a, quem tanto lutou em prós do engrandecimento desta terra que tanto honrou. Fez extraordinários serviços à instrução pública do estado.
Uma outra curiosidade encontrada sobre João é que segundo alguns, o Dr. João Manoel, antigo proprietário do prédio aonde morava, era um brilhante pianista e, esteta de valor.
Este advogado ilustre, talvez fascinado pela alcunha do decantado rio, fez questão de acrescentar ao nome dos filhos, a palavra mágica “ITIBERÊ” tão querida do paranaguara…
Foi assim que surgiu na ilustre família João Manoel da Cunha o tradicional nome “ITIBERÊ”.
E o velho solar, com 200 anos de existência, tombado pelo patrimônio histórico do Estado, foi desapropriado e restaurado, pelo então Prefeito Municipal “General João da Silva Rebelo” recebendo o nome de “Casa de Monsenhor Celso”, no dia 24 de julho de 1973 e, depois foi instalado no endereço o Conselho Municipal de Cultura.
Ficou assim perpetrado, na História de Paranaguá, o solar que serviu de “Berço” a dois eminentes paranaguaras. Monsenhor Celso Itiberê da Cunha e, Dr Brasilio Itiberê da Cunha.
Sobre João Manoel da Cunha, nos relata o periódico “A Luta” edição 0005 de 5 de Agosto de 1887 de Curitiba.
“O Dr João M. da Cunha
O grande espírito lutador heroico que sobrepujou todos os obstáculos da vida, caiu rendido aos golpes impiedosos da morte.
O benemérito cidadão Dr. João Manoel da Cunha deixou para sempre esta terra, que ele tanto ilustrou pelo seu talento e honrou pelas suas virtudes.
Como o cedro ao que se destaca imponente na cripta adusta da montanha zombando da fúria desordenada dos elementos e, cai um dia ferido pelo raio, estortegando titanicamente e, abrindo um enorme descampado, assim caiu aquela figura gigantesca que nunca vacilou ante a adversidade, abrindo em torno de si um vácuo enorme, açoitado pelo som da morte.
O Paraná abandonou as vestes alvas de sua alegria pelo crepe lustoso da tristeza.
Desesperador mistério, o impenetrável mistério da morte!”
Faleceu em Curitiba no dia 1 de agosto de 1887, com 66 anos.
(1*) Rábula ou provisionado, no Brasil, era o advogado que, não possuindo formação acadêmica em Direito (bacharelado), obtinha a autorização do órgão competente do Poder Judiciário (no período imperial), ou da entidade de classe (primeiro do Instituto dos Advogados; a partir da década de 1930 da OAB), para exercer, em primeira instância, a postulação em juízo.
(2*) O termo paranista foi criado para referir-se à “paranaense devotado”. Paranista, portanto, é aquele que não necessariamente nasceu no Paraná, mas “todo aquele que tem pelo Paraná uma afeição sincera”.
Hoje em dia, é interpretada de forma pejorativa quando utilizada para conceituar ou qualificar determinado profissional que exerce a advocacia ou os encargos a ela referentes.
Hamilton Ferreira Sampaio Junior
Referências:
Biblioteca Nacional
Instituto Moises Soares http://msinstituto.blogspot.com/
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My Heritage
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Arquivo Público do Paraná BR PRAPPR PB001 IIP787.57.
Wikipédia
TJPR-Catalogação dos Processos de Paranaguá (1711 – 1991).