José Justino de Mello

hamilton |22 fevereiro, 2023

Blog | Rastro Ancestral

Dr. José Justino de Mello nasceu em Diamantina em idos de 1850 no estado de, Minas Gerais, filho de João José de Mello e Dona Francisca Cândida de Mello foi casado em primeiras núpcias com Francisca da Costa Mello (filhos: Mario, Francisca, Maria e João), em segundas núpcias com Francelina Augusta da Costa (filha: Alcidia), formou-se aos 21 anos de idade, concluiu o curso de medicina na faculdade do Rio de Janeiro, formado em 1871.

Fazia parte do Partido Conservador.

No ano de 1882 vindo a falecer o deputado provincial Joaquim Antonio dos Santos, de Morretes, tendo que ser realizada uma nova eleição no 1º distrito, para substituí-lo. Foi eleito, então, o médico em Antonina, Dr. José Justino de Mello, com 405 votos, nome sugerido pelo partido conservador.

Dr. Mello, como o chamavam, foi um desses médicos que, trouxe consigo a chama do amor ao próximo e a esperança para ser lançada no coração das criaturas.

Contratado para clinicar em Antonina no Paraná.

A Irmandade de Misericórdia de Antonina, fundada em 14 de agosto de 1875, funcionou apenas por algum tempo, interrompendo suas atividades por vários motivos, entre eles a ausência de seu provedor e fundador o Dr. José Justino de Mello.

No ano de 1876, o estado de salubridade pública na Província não foi tão lisonjeiro, manifestando-se a
epidemia de varíola a partir de setembro nos municípios de Tibagi e Ponta Grossa, causada pela chegada de um indivíduo vindo de São Paulo portando a doença. Para Tibagi, deslocou-se, imediatamente o Dr.José Justino de Mello com uma ambulância de medicamentos, a fim de prestar serviços médicos aos indigentes.

Também foi autorizada a respectiva Câmara Municipal a fazer as despesas necessárias para os socorros â população pobre. Rapidamente a epidemia se extinguiu naquele município.

Reconhecidos ao governo, alguns membros da comunidade, em nome do povo de Tibagi, agradeceram publicamente no Jornal Dezenove de Dezembro, o desvelo com que foram tratados durante a manifestação da varíola:

Tributo de Gratidão:

Os abaixo assignados em nome do povo vem por meio deste publico testemunho de gratidão agradecer cordialmente ao Exm. governo provincial os recursos médicos e pecuniários com que por sua alta filantropia e caridade, socorreu aos habitantes deste municipio na grave infecção varoilica, cujos valiosos recursos atenuaram infinitamente a morfina que em breve consumia uma população avultada! Agradecem igualmente ao Ilm. Sr. Dr. José Justino de Mello muito digno enviado do Exm. Sr. presidente da provincia a parte ativa que tomou no desempenho de tão árdua tarefas em um lugar que abandonado pela melhor parte de habitantes achou só o pranto e a miséria.

Seus trabalhos médicos gratuitos aos pobres em várias enfermidades sua solicitude e zelo para com os bexiguentos sua caridade e maneiras civis, são dotes que muito o recomendam a quem deveras se compadece da sorte dos infelizes.

Aceite, pois, o meritíssimo Dr. as nossas sinceras simpatias e alta consideração.

Tibagy 18 de dezembro de 1876. Jose Manoel da Silva – Vigário. Pedro Del Gaudio. – Ernesto Pinto Martins. – Salvador Baptista Ribeiro. – Gustavo da Cunha Lessa. – Zeferino Alves de Castro Machado.

Nomeado pelo Dr. Lamenha Lins Deputado provincial nos períodos de 1883, 1884 e 1885.

Conhecido como médico dos imigrantes, combateu inúmeras epidemias no litoral e no planalto curitibano 1885 e 1889.

Inspetor de saúde do porto de Paranaguá.

Quis, pela sua vocação, vir para o Sul e, preferindo o interior, veio parar em Antonina, onde clinicou durante 10 anos, com aquela abnegação peculiar aos médicos humanitários.

Veio de mudança para PARANAGUÁ, nos fins do século XIX.

Sua chegada foi de grande alegria para a população, que já o conhecia de nome pelo que havia feito em Antonina. Esse benemérito médico muito trabalhou contra as doenças contagiosas, febre amarela, varíola e peste bubônica moléstias epidêmicas que constantemente assolavam a nossa terra, ceifando centenas de vidas. Quando os jornais davam a notícia do aparecimento delas na Bahia e Rio de Janeiro, as famílias abastadas fugiam da Cidade, para os sítios onde tinham suas casas e chácaras com plantações;
lá ficando, um, dois ou três meses, até cessar o mal.

Em 1887, o então inspetor de saúde do porto de Paranaguá, Dr. José Justino de Mello, reclama do estado em que se encontrava a Inspetoria:

“É lastimável o estado desta repartição, não encontrando eu nela arquivo ou documento algum onde pudesse receber informações e dados para a confecção deste trabalho devido a absoluta incompetência do antigo responsável que servia de secretário e a falta de uma sala ou escritório. Para obter isso e poder regularizar o serviço não tenho cessado de fazer pedidos e reclamações; sendo infelizmente baldados os meus esforços.”

Na Cidade só ficavam, a classe média, os pobres e indigentes; além das autoridades, do padre e do médico. Este, como verdadeiro sacerdote, ia aliviando as dores físicas das criaturas que estavam aos seus cuidados.

O Dr. Mello, com aquela bondade que lhe era peculiar, com o perigo da própria vida, fazia o que era possível naqueles difíceis tempos. Uma epidemia de varíola que grassou em nossa terra, no ano de 1889, foi impressionante.

O abnegado médico, para debelar o mal, fez o impossível dia e noite, atendendo os doentes, numa dedicação a toda prova. Foram tão grandes os seus serviços prestados à população, que o Prefeito e a Câmara, em sessão solene, prestaram-lhe uma homenagem, oferecendo, na ocasião, uma significativa medalha de ouro, como gratidão pelo muito que fez durante o surto epidêmico na Cidade.

Dr. Mello foi, muito tempo, médico da Prefeitura; nomeação feita pelo Prefeito João Guilherme Guimarães.

Foi Maçom iniciado em 1888, na Loja “Perseverança”, de Paranaguá.

Adepto fervoroso da política legalista, durante os sucessos da Revolução Federalista, que deixou tantas marcas na sociedade paranaguense.

Na epidemia de varíola encontramos, ao lado de José Justino de Mello, o Dr. Abdon Petit Carneiro.
Petit Carneiro era paranaguense, neto do Visconde de Nacar, um dos benfeitores da Santa Casa.

Foi também inspetor de Saúde dos Portos. Outra homenagem recebeu ele dos seus amigos e clientes: um retrato seu a óleo, pintado pelo grande artista Alfredo Andersen, e que lhe foi ofertado aos 19 de março de 1895, data do seu natalício. D. Alcídia Mello, tão conhecida nossa e de toda a população, como pianista e diretora do 1.° Jardim da Infância.

Quando da campanha de vacinação antivariólica, muito lutou o Dr. Mello, para que o povo inculto aceitasse a vacina.

Sempre morou em casa alugada (sobrado do Clube Democrata hoje Centro Espírita Miguel Arcanjo), pois foi pobre, isso devido ao seu nobre coração em praticar a caridade.

Um ano antes de falecer, foi atacado de paralisia nas duas pernas.

Sofreu muito, mas não deixou de clinicar, atendendo em sua própria casa principalmente aos pobres.

Entretanto foi cercado da consideração e respeito da gente paranaguara, que, numa subscrição espontânea, angariou dinheiro para os funerais e para a família enlutada…
Extremoso, como sempre foi, na nobre missão de curar, era chamado o “pai dos pobres” (a exemplo do querido Dr. Leocadio). Não podíamos, pois, passar sem dizer, às gerações futuras, quem foi esse paradigma da caridade.

Em Antonina em homenagem ao abnegado médico a Rua do Esteiro passou a chamar-se Rua Dr. José Justino de Mello.

Em Paranaguá uma Rua leva seu nome no bairro Jardim Jacarandá.

Faleceu a 11 de outubro de 1906 vitima de arterioesclerose, cercado da maior consideração da sua gente.


Esta, senhores, a vida que no momento procuramos rememorar.

Simples, modesta, porém uma grande vida!
Não passou anônimo nem se empolgou pela grandiosidade de sua humana e nobilitante missão.

Porém, soube ser sempre homem, aceitando a vida como efetivamente ela se lhe apresentava.
Não se envaidecia com as suas vitórias, nem se deixava dominar pelos seus insucessos.

E, por isso mesmo, grangeou a perpetuação do seu nome no coração do seu povo.
Senhores, a vida do Dr. Mello, foi uma lição de humildade, de desprendimento, de carinho, de amor e de respeito humano.

Deus que o tenha em sua glória eterna pois que nós outros aqui ficamos reverenciando num preito de profunda homenagem a sua augusta e nobre memória.

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Referências:

 

NEGRÃO, op.cit., vol.3, 1928, p.539; Dezenove de Dezembro, várias edições; biografia: A República,
13/out/1906.

SAMPAIO, Hamilton. ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO: Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 e 1930. In: ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO: Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 e 1930. 1. ed. Curitiba: Novagrafica, 2019. v. 1, cap. 1, p. 2. FILHO,

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