Luiz Alves Siqueira

hamilton |22 março, 2025

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Luiz Alves Siqueira: Guardião da Memória Parnanguara

Como conhecer alguém que viveu em outra época?

Uma das melhores formas é por meio de sua obra. É assim que buscamos apresentar a trajetória desse ilustre parnanguara.

Nascido em Paranaguá, em 23 de março de 1943, Luiz Alves Siqueira era filho de Ivete Siqueira. Realizou seus primeiros estudos em sua cidade natal e, ao longo da vida, tornou-se uma figura essencial na preservação da história local.

Um incansável pesquisador

Formado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (FAFIPAR), Siqueira dedicou-se à pesquisa histórica desde a juventude. Sua intensa curiosidade e empenho em resgatar o passado lhe renderam o apelido de “Indiana Jones do Litoral”. Para realizar suas investigações, não hesitava em alugar barcos, helicópteros e até aviões, explorando a região em busca de registros históricos.

Aposentado como conferente, foi membro ativo do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP), do Centro de Letras de Paranaguá e do grupo Cardume Fotográfico. Seu trabalho como documentarista resultou na produção de apostilas e registros detalhados de eventos históricos, formando um dos acervos mais completos dos últimos quarenta anos.

Reconhecimento e legado

Pelo seu compromisso com a memória da cidade, Siqueira recebeu a Honra ao Mérito das mãos do então prefeito Mário Roque, além de homenagens do Centro de Letras de Paranaguá, a última delas em 2017. Seu trabalho meticuloso, que envolvia desde a análise de jornais antigos até a coleta de fotografias raras, fez dele uma peça fundamental na preservação da história regional.

Seu acervo compõe cerca de 99% do Museu da Imagem e Som do IHGP, com mais de 250 produções catalogadas. Além disso, criou o “MVDS – Museu Virtual do Siqueira”, um dos mais abrangentes repositórios históricos de Paranaguá.

Paixão pela cultura e pela memória

Siqueira não era apenas um pesquisador; era também um grande apreciador da cultura local. Amante do fandango, do carnaval de rua e do tradicional banho à fantasia, acompanhava com interesse a vida cultural e política da cidade. Ávido leitor, consumia semanalmente três ou quatro livros, sempre com a mesma atenção e paciência com que registrava em vídeo a fauna da região.

Sua memória prodigiosa e sua dedicação à pesquisa fizeram dele um dos principais responsáveis pelo resgate da história da Revolução Federalista em Paranaguá. Para garantir registros visuais desse período, financiou, em parceria com o artista plástico Darci, uma coleção de cerca de vinte telas que retratam os acontecimentos da revolução na cidade.

Ao longo da vida, desvendou equívocos históricos, participou de expedições para investigar os lendários túneis da “Fontinha” e contribuiu com estudos sobre a “Casa de Fundição”, sempre embasado em documentos e relatos antigos. Seus registros sobre o aeroporto de Paranaguá, o Mercado do Café e a Praça dos Leões como possível cemitério de soldados da Revolução Federalista são algumas de suas valiosas contribuições.

Reflexões sobre o tempo e a eternidade

Luiz Alves Siqueira refletia frequentemente sobre a passagem do tempo e a memória:

“O tempo é o momento em que a vida anima nossos corpos.
Compartilhamos, então, a presença de todos que nos cercam.
Quando tudo passa, resta a lembrança.”
(23 de julho de 2017)

Para ele, a eternidade estava presente na continuidade da existência humana:

“Todo mundo é eterno. Não sabia?!
Olhe no formato de suas mãos. Não é igual ao de seus semelhantes?!
Dentro de você existe um resumo de milhões de pessoas.
Os teus instintos e costumes são conscientizações dos teus antepassados…”
(22 de dezembro de 2017)

O último adeus

Luiz Alves Siqueira faleceu em Curitiba, em 8 de fevereiro de 2018, deixando um legado inestimável para a memória de Paranaguá e do litoral paranaense. Seu trabalho, sua paixão pela história e suas reflexões continuam vivos, inspirando aqueles que seguem na missão de preservar o passado.


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