Manoel Azevedo Silveira Neto

hamilton |03 fevereiro, 2024

Blog | Rastro Ancestral

 

Manoel Azevedo Da Silveira Neto nasceu na cidade de Morretes, em 4 de janeiro de 1872, filho de Manoel de Azevedo Silveira Junior e Guilhermina Miranda da Silveira, aos sete anos de idade muda-se para a capital paranaense e inicia seus estudos, que incluem gravura e desenho na Escola de Belas-Artes de Curitiba, com o sonho de chegar a Academia de Belas-Artes na cidade do Rio de Janeiro.

Antes de iniciar seus estudos artísticos entra no curso de humanidades, porém, é interrompido com a clara intenção de enveredar-se nas “belas artes”. Sem realizar seu intento, ingressou através de concurso, na Fazenda Federal no ano de 1891.

Para Tasso da Silveira (1967, p. 27/33), o poeta foi “uma espécie de exegeta das ruínas, da morte, do silêncio, como foi em toda a sua vida o homem domi­nado pela dor de viver.” E sintetiza: ”A feição primavera! deu-nos Emiliano Perneta, com a sua poesia coruscante de sol e ébria do sentimento pagão da vida.

O desérti­co recolhimento do inverno foi que sobretudo se con­densou no canto de Silveira Neto, embora também nele a primavera por vezes irrompa triunfante”.

Casou com Dona Amelia Cassiana de Alcantara em 28 de janeiro de 1893 na cidade de Curitiba e, com ela teve os filhos, Eleia, Anihar, Eleonora, Eridan, Elena, Tasso, Hiran, Eloah, Antar, Heleno e Mauro.

ANTÍFONA

Noite de inverno e o céu ardente de astros,

Com a alma transfigurada na Tortura,

Olhava estrelas, eu, crendo-as, em nastros,

Almas cristalizadas pela Altura.

Frio da noite é o pólo em que o uivo escuto

Do urso branco do Tédio, em brumas densas;

É bar glaciário que nos vem do luto

Da avalanche de todas as descrenças.

A noite é como um coração enfermo;

Rito de almas de maldições cobertas.

Alma que perde a fé muda-se em ermo,

Ermo de tumbas pela vida abertas.

Esse “réquiem” da Cor pelo ar disperso

Como que encerra, num delírio infindo,

Todo o soluço extremo do Universo,

Num concerto de lágrimas subindo.

É cenário do Fim que atroz se eleva

Desde que ao Nada o coração se acoite;

Pois, como o dia cede o espaço à treva,

Fecha-se a Vida nos portais da noite.

Se vem a noite num luar acesa,

Lembra uma cruz coberta de boninas;

A luz da lua é triste, — que a tristeza

É o sagrado perfume das ruínas.

É uma prece o luar, prece perdida

Por noite afora, em lívida cadência,

Como cada sorriso em nossa vida

Planta a cruz da saudade na existência.

Era de estrelas um enorme alvearco

A cúpula celeste escura e goiva;

E a Via-Láctea se estendia em arco,

Branca e rendada como um véu de noiva.

Depois gelada abrira-se, e na extrema

Nevrose eu vi formarem-se, de tantos

Astros, as duas páginas de um poema

Em que eram cor de lágrimas os cantos.

Cantavam as estrelas. Coros almos

O espaço enchiam de um rumor contrito

E histérico, a fundir astros em salmos,

Parecia rezar todo o Infinito.

No êxtase que os páramos outorgam

Aos visionários, eu surpreso via

Que, céus afora, como a voz de um órgão,

A salmodia d’astros prosseguia.

Erma de risos e de majestades.

Porque as estrelas são os magnos portos

Onde ancorou com todas as saudades

A dor de tantos séculos já mortos.

Desde Valmiki e Homero — esses profetas —

As intangíveis amplidões cerúleas

Ouvem, sangrando, a queixa dos Poetas,

Como um cibório de canções e dúlias.

Ermas de tudo que não fosse a mágoa,

As estrelas formavam o Saltério

Num brilho aflito de olhos rasos de água …

E pelo espanto entrei nesse mistério:

Eis que um Visionário do Supremo Ideal,

ansioso de Azul e de infinito,

(Da ânsia de Azul que teve o Anjo Maldito

Após o castigo extremo)

E fatigado do torvo mundo espalto,

Onde a alma se nos vai muito de rastros,

Pôs-se a evocar a Paz Eterna do Alto;

Falou-lhe então a música dos astros:

Luar de inverno e outros poemas (1901)

Em 1893 integra o grupo de “O Cenáculo”, nome este dado pelos que participam da revista de mesmo nome, e seus companheiros neste grupo são Dario Velloso e Júlio Perneta, entre outros.

Transfere-se, em 1896, para a capital federal e passa a freqüentar os mesmo lugares que o poeta parnanguara Nestor Vítor, conhecendo-o e também o poeta Cruz e Sousa.

É a partir destas amizades e deste período que escreve e publica suas poesias com a forte influência no simbolismo.

Silveira Neto escreveu Pela Consciência (opúsculo, 1898) e Antonio Nobre (elegia, 1900). Com a publicação de Luar de Hinverno (1900), passa a desfrutar de prestígio na arte literária. Brasílio Itiberê (elegia com música de 1913), Do Guairá aos Saltos do Iguaçu (1914), Ronda Crepuscular (1923), Cruz e Sousa (ensaio de 1924), O Bandeirante (1927), entre outros, são de autoria do poeta morretense.

No ano de 1900 foi um dos fundadores  da Loja Maçônica Acácia Paranaense.

Trecho do livro  “Entre o Compasso e o Esquadro Gênese das Lojas Maçônicas no Parana 1830 1930”.

Falecimento e homenagens

Com o falecimento do curitibano Emiliano Perneta, em janeiro de 1921, Silveira Neto é aclamado o novo “príncipe dos poetas paranaenses”. Com a obra “Nas Margens do Nhundiaquara” (poema regional de 1939) é chamado, em sua terra natal, de “o cantor do Nhundiaquara”.

 

No sábado, dia 19 de dezembro de 1942, Manoel Azevedo da Silveira Neto faleceu aos 70 anos e 01 mês de idade, faleceu o “O Cantor do Nhundiaquara”, vitima de colapso cardíaco.

Ao poeta simbolista foram dadas inúmeras homenagens Brasil afora, porém, na capital paranaense, cidade onde o poeta morou e estudou, faz-se a veneração e respeito ao denominar uma das vias do bairro Água Verde como Rua Silveira Neto.

 

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Referências:

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