Marc Ferrez

hamilton |05 novembro, 2024

Blog | Rastro Ancestral

Marc Ferrez nasceu em 7 de dezembro de 1843, na Corte do Rio de Janeiro, sendo filho de Alexandrine Caroline Chevalier e Zéphyrin Ferrez. Seu pai era gravador de medalhas e escultor, e veio ao Brasil como integrante da Missão Artística Francesa. Seu tio, também chamado Marc Ferrez, participava da mesma missão e foi a inspiração para o seu nome.

Caçula de seis irmãos, Ferrez ficou órfão aos sete anos. Após a perda dos pais, foi enviado para a França, onde viveu e estudou até a adolescência, quando retornou ao Brasil. De volta ao país, começou a trabalhar na Casa Leuzinger, uma papelaria e tipografia que possuía uma seção de fotografia, onde aprendeu técnicas fotográficas com o fotógrafo alemão Franz Keller. Aos 21 anos, fundou seu próprio estúdio, a firma Marc Ferrez & Cia., estabelecendo-se rapidamente entre os fotógrafos da Corte.

Ferrez atuou como fotógrafo durante o período imperial e as primeiras décadas da República, entre 1860 e 1922, construindo um dos mais importantes registros visuais do Brasil no século XIX e início do século XX. Seu trabalho documentou variados aspectos da vida brasileira, com especial atenção para os processos de modernização urbana e de infraestrutura, que ocorreram entre 1870 e 1920.

Embora tenha fotografado paisagens em várias regiões do Brasil, Marc Ferrez tornou-se conhecido principalmente por suas imagens panorâmicas do Rio de Janeiro. Suas fotografias registram locais icônicos da cidade, como a Ilha das Cobras, a Floresta da Tijuca, o Corcovado, a praia de Botafogo e o Jardim Botânico. Juntamente com o fotógrafo Augusto Malta, Ferrez registrou as transformações urbanas promovidas pelo prefeito Francisco Pereira Passos no início do século XX, resultando no álbum Avenida Central: 8 de março de 1903 a 15 de novembro de 1906.

Mulher com seu filho, c. 1884. Salvador

Além de fotógrafo, Ferrez atuou como comerciante de equipamentos e materiais fotográficos, sendo proprietário da Casa Marc Ferrez. A partir de 1905, em parceria com seus filhos, Julio e Luciano, ampliou seus negócios para o cinema, abrindo o Cinema Pathé e distribuindo filmes e equipamentos cinematográficos no Brasil.

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Embora a maioria dos fotógrafos da época preferissem o retrato, Ferrez escolheu a fotografia de paisagens brasileiras, uma prática menos lucrativa. Interessado em aprimorar-se, dedicava-se ao estudo da física e da química e mantinha-se atualizado sobre as mais recentes inovações, importando equipamentos da Europa. Em 1873, um incêndio destruiu sua loja e residência, o que o levou a viajar para a Europa a fim de repor os materiais necessários para recomeçar sua atividade. Em 1875, ao retornar ao Brasil, passou a integrar a Comissão Geológica do Império, liderada pelo cientista canadense Charles Frederick Hartt, sendo o primeiro a fotografar os indígenas botocudos, no sul da Bahia.

Ferrez participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior, recebendo medalhas de ouro em Filadélfia (1876) e Paris (1878). Em 1881, introduziu no Brasil as chapas secas dos irmãos Lumière. Em reconhecimento ao seu trabalho, recebeu o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa pelo imperador D. Pedro II.

Entre 1851 e 1923, Ferrez documentou intensamente as transformações no Brasil, produzindo um acervo vasto e significativo. Em 1998, seu acervo foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles, totalizando mais de 5.500 imagens, entre as quais 4.000 são negativos de vidro. Desde então, esse acervo tem sido amplamente exibido em exposições, como a mostra “O Brasil de Marc Ferrez”, realizada em várias cidades do Brasil e também em Paris.

Marc Ferrez faleceu em 12 de janeiro de 1923, no Rio de Janeiro, cidade que tanto registrou e onde viveu grande parte de sua vida.

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Referências:

VARELLA, Paulo. As fotografias documentais de Marc Ferrez. As fotografias documentais de Marc Ferrez, Rj, p. 23, 19 fev. 2019.

O rigor de Marc Ferrez, História Viva, nº 40, páginas 12 e 13, fevereiro de 2007.

 

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