Maria Bicuda

hamilton |13 junho, 2023

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Maria Bicuda

 

A crônica histórica de Paranaguá registrou o estranho curioso fato ocorrido em 1737.

O Brasil era colônia portuguesa e Paranaguá pertencia a Capitania de São Paulo residia no Imbocuí, com sua família o Capitão português Manoel Gonçalves Carreira, em sua vasta propriedade.  Gozava de certo relevo na pacata sociedade Parnanguara por ter servido de juiz ordinário em 1717.

Possuía, além das terras, também residência, outras edificações e a senzala para abrigar o grande número de escravos africanos e indígenas usados na atividade agropecuária.

Sem a folha de pagamentos em imposto de renda, conseguiu acumular significativa fortuna, já que para os escravos usava apenas a recomendação do Jesuíta Antonil expressa em seu livro “Cultura e Opulência do Brasil” publicado em 1711 eram os 3 pês pancada pano e pão.

Era assim a sociedade Brasileira da época, piedosa e cristã.

Entre os escravos do Capitão carreira havia uma Índia velha conhecida apenas por Maria bicuda apelido originado provavelmente pelo bico formado pelos beiços que haviam perdido o apoio dos dentes e pela tendência natural de forçá-los para fora da boca formando uma espécie de bico, parece que o hábito jocoso muitas vezes bem apropriado de apelidar o próximo já é bem antigo e Paranaguá, assim Maria passou a ser Maria Bicuda.

Era além de feia muito esperta e de feiura soube tirar vantagens assumindo a identidade de bruxa feiticeira.

E juntamente com o marido fazia demonstrações de magia e feitiçaria, recolhiam punhados de terra, que diziam do sepultura e colecionavam ossos e estranhos objetos recolhidos nas matas. Ela principalmente tornou-se temida e por isso respeitada, pelo seus supostos poderes sobrenaturais.

Aconteceu então que a esposa do Capitão Dona Catarina adoeceu gravemente.

Sofria muito e, sentia como um fogo interno a queimá-la, seus gritos de desespero e dor comoviam, e não havia recurso médico suficiente.

Poderia ter sido algum câncer interno, mas a doença foi atribuída aos feitiços de Maria Bicuda contra a Sinhá.

O Capitão convencido dos maléficos poderes da bruxa, levou o caso perante o Juízo da Ouvidoria Geral o qual já havia sido instalado em Paranaguá pelo Conselho Ultramarino de Portugal em 1723.

Maria bicuda foi acusada formalmente de usar seus poderes ou feitiços contra a Dona Catarina e de ter pacto com o demônio.

O Ouvidor Dr. Manoel dos Santos Lobato recebeu a denúncia e procedeu a devassa, ouvindo 40 testemunhas.  Uma delas o índio pajé Alexandre Pereira, afamado curandeiro, mandado vir de São Francisco do Sul para tentar desfazer os feitiços.

Perseguida Maria Bicuda ameaçava todos se viesse a sofrer qualquer castigo.

Na residência do Capitão foram achados novos feitiços, entre os quais um saquinho contendo 2 ossinhos e, 2 unhas humanas.

O processo correu seus trâmites, e por fim Maria Bicuda foi preso e condenada ao degredo, por sentença de 27 de março de 1737.

Não se sabe para onde foi degredada, nem nunca mais soube dela.

Poderia ter sido queimada viva em praça pública, como nos tempos da Inquisição.

O pajé Alexandre não conseguiu desfazer os feitiços e a Sinhá Catarina faleceu logo depois.

Assim, terminou aquele caso que tumultuou incipiente isolado a sociedade parnanguara no segundo quartel do século 18.

Referências: Leônidas Boutin

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