Mário Alves Monteiro Tourinho

hamilton |19 fevereiro, 2024

Blog | Rastro Ancestral

Mário Alves Monteiro Tourinho nasceu em Antonina no dia 12 de setembro de 1871, filho do destacado engenheiro, Capitão de Estado Maior de 1º Classe Francisco Antônio Monteiro Tourinho, e de Maria Leocádia da Costa Alves. Seu pai desempenhou o papel de Diretor na construção da Estrada da Graciosa.

Iniciou sua instrução nas letras iniciais em Antonina e mais tarde mudou-se para Curitiba. Aos 15 anos, em 1886, voluntariou-se no segundo Corpo da Cavalaria. Tendo ficado órfão aos 13 anos, Mário deu início à sua trajetória militar como soldado raso (número 126) no 2° Corpo de Cavalaria Ligeira, uma das primeiras unidades estabelecidas no quartel construído por seu pai na Praça Oswaldo Cruz, em Curitiba.

Sua inserção no serviço militar, junto ao 2° Corpo de Cavalaria Ligeira, tinha como intuito criar oportunidades para ingressar na prestigiada Escola Militar da Praia Vermelha, seguindo os passos de seu pai. Seu desejo era estudar, conquistar uma posição na sociedade e contribuir para o país.

Em 1889, já ocupando a posição de sargento, Mário foi designado para realizar o Curso de Tiro na Escola Prática do Realengo. Esse período coincidiu com os últimos dias da Monarquia, culminando na Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Mário Tourinho, seguindo para a Corte, participou dos eventos históricos acompanhando o 1° Batalhão de Engenharia.

Com a proclamação da República, conseguiu efetuar sua matrícula na Escola Militar em março de 1890. Em 1892, concluiu os cursos preparatórios e ingressou no Curso Superior. Acometido por beribéri, foi transferido para a Escola Militar de Porto Alegre.

Em 6 de setembro de 1893, a Revolução Federalista o encontrou no Paraná, onde se recuperava. Nomeado como 2° tenente de artilharia, uniu-se ao destacamento do General Francisco de Paula Argollo, incumbido de retomar Santa Catarina, então sob controle federalista e rebelde. Posteriormente, serviu sob as ordens do General Gomes Carneiro durante o cerco da Lapa, enfrentando os insurgentes liderados por Gumercindo Saraiva. O cerco durou 26 dias, marcados por resistência heróica durante a Guerra Federalista de 1893-1894.

O Boletim do Exército nº 831 elogiou Mário Tourinho por sua participação na bateria de artilharia durante o cerco da Lapa, destacando sua bravura nos combates entre janeiro e fevereiro de 1894.

A Batalha do Cerco da Lapa permitiu ao Marechal Floriano Peixoto, líder da República, reunir forças e conter os insurgentes federalistas. Ao todo, 639 homens, entre forças regulares e voluntários civis, enfrentaram cerca de três mil combatentes revolucionários. Os restos mortais do General Carneiro e de outros heróis da resistência repousam no Panteão dos Heróis, na cidade da Lapa.

2° Tenente Mário Tourinho sob o comando do Coronel Gomes Carneiro, no cerco da Lapa, em 1894.
2° Tenente Mário Tourinho sob o comando do Coronel Gomes Carneiro, no cerco da Lapa, em 1894.

Mário Tourinho contraiu matrimônio com Osminda Marques Rebello em 11 de janeiro de 1896, em Curitiba, resultando na prole composta por Péricles, Newton, Ney e Péricles Rebello.

Após encerrar sua participação na campanha militar nos campos de batalha, Mário Tourinho retomou seus estudos na Escola Militar de Porto Alegre. Confirmado no posto de 2° tenente por Floriano Peixoto, concluiu o Curso de Artilharia em 1898, período em que sua mãe faleceu. Ascendeu a 1° tenente em 1901 e a capitão em 1908.

No posto de capitão, desempenhou um papel significativo na campanha do Contestado em 1915, integrando a Coluna Sul sob o comando do Coronel Estilac Leal. Sua bateria de obuseiros, pioneira no Brasil, marchou de Calmon à Tapera de Santa Maria, enfrentando desafios como aclives, declives e rios, demonstrando uma estratégia inovadora.

Em 1912, ingressou no Corpo Docente da recém-criada Universidade do Paraná (atual UFPR), lecionando Aritmética e Álgebra Elementar. Promovido a major por mérito durante a presidência de Afonso Camargo, assumiu o comando da Polícia Militar do Estado do Paraná entre 1916 e 1918. Em 1919, como major, serviu no Colégio Militar de Barbacena, sob o comando do Coronel Leopoldo Belém Aloys Scherer.

Tourinho continuou sua trajetória militar, comandando o 2° Grupo Pesado de Obuses em Jundiaí, São Paulo, em 1922. Em 1924, liderou o 9° Regimento de Artilharia (9° RAM) durante o cerco de São Paulo, ocupada pelas forças revolucionárias do general Isidoro Dias Lopes. No ano seguinte, comandou um destacamento em Campos Novos, Santa Catarina, para proteger a ferrovia São Paulo-Rio Grande entre União da Vitória e Marcelino Ramos.

Em 1926, assumiu a direção do Arsenal de Guerra de Porto Alegre, encerrando sua carreira militar na reserva como General de Divisão Graduado, a mais alta patente do Exército Brasileiro.

Ao retornar a Curitiba após 42 anos de serviço militar, Mário Tourinho reingressou à vida civil. Em 5 de outubro de 1930, o 5° Regimento de Cavalaria Isolada, liderado pelo Capitão Nelson Palmeiro Pinto Dias, o convidou para assumir o governo do Estado, vago devido à fuga do Presidente Afonso Camargo que não aderiu ao movimento revolucionário de 1930. Tourinho, inicialmente um legalista ao longo de sua carreira militar, aceitou o convite para colaborar com seu irmão, Major Plínio Tourinho, que assumira o Comando da 5ª Região Militar. Às 5 horas da tarde daquele mesmo dia, assumiu o Governo do Estado no salão nobre do Palácio da Liberdade, na Rua Barão do Rio Branco.

Mário Tourinho (esquerda), Getúlio Vargas (centro) e Plínio Tourinho (direita). Reunião na UPFR, momentos antes do Chefe das Forças Revolucionárias deixar o Paraná e seguir em direção a capital Federal no Rio de Janeiro
Mário Tourinho (esquerda), Getúlio Vargas (centro) e Plínio Tourinho (direita). Reunião na UPFR, momentos antes do Chefe das Forças Revolucionárias deixar o Paraná e seguir em direção a capital Federal no Rio de Janeiro.

Ao abandonar o Paraná, o Presidente Afonso Camargo deixou o Estado em situação financeira precária, com salários do funcionalismo público atrasados em dez meses, dívidas em bancos nacionais e estrangeiros, promissórias nas mãos de agiotas negociadas com deságio de 50%, e um empréstimo-ouro cujo destino não era claro. As obras do Porto de Paranaguá e da Estrada de Ferro de Guarapuava mal haviam sido iniciadas, e a dívida estadual atingia a marca de 230 mil contos de réis, contrastando com uma arrecadação anual que não ultrapassava 25 mil.

Mário Tourinho, de formação militar e habituado à disciplina castrense, não possuía experiência prévia em política. Durante seu breve período como interventor, adotou abordagens imparciais para a recuperação financeira do Estado, conduzindo sindicâncias sem viés político, apurando responsabilidades de maneira objetiva e anulando concessões de serviços públicos por meio de acordos amigáveis. Em um ano, sem alarde, equilibrou o orçamento do governo, que anteriormente enfrentava déficits públicos recorrentes.

Tourinho era um general comprometido com o estrito cumprimento do dever e não se curvava facilmente. Opôs-se duas vezes ao Presidente revolucionário Getúlio Vargas, resistindo ao desmembramento do Paraná para criar o Território do Iguaçu e à proibição do plantio de café na região Norte, conhecida como Norte Pioneiro.

Sua inflexibilidade no trato dos assuntos públicos desagradou as forças revolucionárias e opositores políticos, resultando em descontentamento nos quartéis e em segmentos partidários. Tourinho, incapaz de acomodar intrigas ou ceder a ambições impróprias, renunciou ao cargo em 29 de dezembro de 1931, enfrentando uma série de desafios, como telegramas falsos, denúncias infundadas, relatórios caluniosos e greves.

Em um depoimento posterior ao historiador Francisco Negrão, Tourinho descreveu a experiência como uma “via-crúcis”, enfrentando ambições, perfídias, calúnias e traições. Homem de notável integridade moral, faleceu em Curitiba em 25 de outubro de 1964, aos 93 anos, deixando esposa, filhos, sobrinhos e netos. O governador Ney Braga decretou luto oficial de três dias, e seu enterro no Cemitério Municipal de Curitiba contou com honras militares. Seus restos mortais foram transferidos para o Panteão dos Heróis da Lapa em 9 de fevereiro de 1974, no 80º aniversário do cerco, em uma solenidade cívico-religiosa-militar com honras reservadas a chefes de Estado.

Interventor do Paraná em 1930, General Mário Tourinho, foi diplomado cidadão honorário de Curitiba em outubro de 1958.
Interventor do Paraná em 1930, General Mário Tourinho, foi diplomado cidadão honorário de Curitiba em outubro de 1958.

 

Uma rua em Curitiba leva seu nome.

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Referências:

Family Search

 

As seguintes contribuições bibliográficas de Mário Alves Monteiro Tourinho estão disponíveis para consulta (em documento impresso), no acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná:

TOURINHO, Monteiro. Nova Guayra (A), 1918, Volume II/6/59.

TOURINHO, Mário (Gen.). Ação do Interventor Federal do Paraná… contra a Empresa Mate Laranjeira, 1984, Volume XLII/79.

TOURINHO, Mário (Gen.). Visita do Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina, 1975, Volume XXVII/325.TOURINHO, Mário (Gen.). Visita do Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina, 1993, Volume XLVIII/275.

História biográfico da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas, 1994.

Foto: Galeria do Salão dos Governadores do Palácio Iguaçu, reproduzida por Simone Fabiano.

REBELLO TOURINHO, Ney. Genealogia Paranaense da Familia Tourinho: Genealogia Paranaense da Familia Tourinho. InGenealogia Paranaense da Familia Tourinho: Genealogia Paranaense da Familia Tourinho. 1. ed. Curitiba: Própria, 1974. Disponível em: https://www.tourinholcp.com.br/biblioteca_virtual/a-genealogia-paranaense-da-familia-tourinho/. Acesso em: 11 fev. 2024.

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