Nestor Victor dos Santos

hamilton |14 março, 2021

Nestor Victor dos Santos (Reprodução)

“Das minhas obras qual a que prefiro?

Sempre tive predileção pela que ainda não produzi. As outras só em dias especiais é que as posso reler. Depois, não me parece que valha a pena falar de coisas que fiz, tendo eu sempre a impressão de que o público não se lembra delas, tanto mais que a maior parte dos leitores as desconhece por completo.”

Nestor Victor

(O momento literário por João do Rio)

Nestor Victor dos Santos nasceu em Paranaguá, no dia 12 de abril de 1868. Filho de Joaquim Moreira dos Santos e Maria Francisca Mendonça dos Santos, fez os primeiros estudos na sua cidade natal.

Dois grandes educadores provavelmente tiveram influência sobre sua formação: José Cleto da Silva, ativo abolicionista que teria influenciado na sua formação intelectual e, que foi comparado a Abílio César Borges, Barão de Macaúbas, como a própria personificação do espírito do magistério, no Paraná e, também Francisco Machado, o então tradutor público da cidade.

Em 1887, Nestor Victor participa da fundação do Clube Republicano, em Paranaguá, do qual foi o primeiro secretário, isso com apenas 18 anos.

Ata de Fundação do Clube Republicano (documento cedido por Moises Soares).

Segundo nos conta Hércule Spoladore historiador maçom, Nestor foi iniciado na Loja Perseverança conforme nos indica em sua obra ‘História da Maçonaria Paranaense no século xix” em sua página 259.

Seu nome consta de uma lista de “Legalistas” ou, Florianistas.

Historia da Maçonaria Paranaense no Século XIX pág 259

Aos 20 anos em 1888, na cidade de Curitiba, Nestor é eleito Secretário da Confederação Abolicionista do Paraná, participando ativamente nas manifestações dos movimentos abolicionista e republicano, inclusive sendo um ativo orador em praça pública.

Era presidente daquela Confederação o Major Sólon de Sampaio Ribeiro, propagandista republicano que influiu no desfechar do 15 de novembro e, seria o sogro de Euclides da Cunha.*

Nestor partiu para o Rio de Janeiro ainda em 1888, frequentando lá o externato João de Deus, a fim de preparar-se para o curso da Escola Politécnica.

Neste mesmo ano escreve a mais antiga de suas produções poéticas colocadas em livro: o soneto “A Benção”.

Em 1889 conheceu o poeta Cruz e Sousa, rapidamente, em um Café de Londres, foi apresentado por Oscar Rosas.

Cruz e Sousa estava de passagem no Rio, em suas andanças como ponto da Companhia Ismênia dos Santos que, permitiram ao “Cisne Negro do Simbolismo*1 conhecer o Brasil inteiro e, realizar conferências abolicionistas em várias cidades, principalmente na Bahia e no Rio Grande do Sul.

1* O poeta João da Cruz e Souza, o Cisne Negro da poesia brasileira e do movimento literário Simbolismo.

*Major Solon Sampaio foi o responsável por espalhar a falsa notícia de que o Marechal Deodoro da Fonseca, convalescendo em sua casa, e Benjamin Constant, tinham sido presos pelo governo imperial, e que os batalhões da Capital seriam removidos para o interior. As notícias, tratadas como ação de contra inteligência, provocaram a sedição e o golpe de Estado.

Nesse mesmo ano Nestor, foi convidado para ser oficial de gabinete pelo Governador do Estado, Américo Lobo Leite Pereira, o que não aceitou por convicções políticas adversas, preferindo ele dirigir o periódico Diário do Paraná, oposicionista.

Esteve em Desterro (Futura Florianópolis), onde tornou a encontrar-se com Cruz e Sousa, na redação do jornal “Tribuna Popular”.*2

Em 1891 mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro. Aplaudiu, pela imprensa, o contragolpe de 23 de novembro daquele ano, que obrigou o Marechal Deodoro da Fonseca a resignar, por ter dissolvido o Congresso Nacional no dia 3 daquele mês.

No ano de 1891 apareciam os artigos manifestos do movimento simbolista, assinados por Emiliano Perneta, Cruz e Sousa, Oscar Rosas e B. Lopes, no Jornal “Folha Popular”, da qual o primeiro mencionado, era conterrâneo e um dos maiores amigos de Nestor Vítor.

*2 Este encontro ocorreu em novembro.

*conterrâneo Indivíduo que compartilha a mesma terra que outro; patrício

Conheceu, por esse tempo, Alberto de Oliveira, Medeiros e Albuquerque e Olavo Bilac, aproximando-se principalmente daqueles que viriam a ser seus companheiros do Simbolismo: Maurício Jubim, Tibúrcio de Freitas, Virgílio Várzea, Gonzaga Duque, Lima Campos, Carlos D. Fernandes, Neto Machado, Oliveira Gomes, Artur de Miranda Ribeiro. Todos reconheciam, nessa época, Luís Delfino como a figura central da poesia brasileira. Neste tempo Nestor escreve os seus dois sonetos mais conhecidos: “ldiotas e Morte Póstuma” e, em 17 de fevereiro de 1892, casa-se com Catarina Alzira Coruja, com quem teve 8 filhos. Colaborava nesta época em alguns jornais e revistas do Rio de janeiro entre eles “Cidade do Rio”, “Jornal do Comércio”, “O País” e, ainda em alguns jornais do Paraná entre eles “Diário do Paraná”, quando se desencadeou o chamado Encilhamento, verdadeiro maremoto financeiro.

Encilhamento foi uma política econômica implementada por um diplomata e escritor, Rui Barbosa, no período conhecido como República Velha. Figura destacada na política, Rui Barbosa exerceu o cargo de Ministro da Fazenda durante o Governo Provisório (1889 a 1891) do Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da República, propondo assim, uma nova medida para impulsionar a economia do país, que favoreceu uma grande “bolha econômica”, constituindo uma das mais graves crises econômico-financeira de toda a História do Brasil.

Nestor nesta época exercia as funções de Secretário da Companhia Metropolitana do Paraná, a convite de Fanor Cumplido.  Neste ano nasce sua filha mais velha, Aidê.

Com o início da Revolta da Armada, em 1893, pronunciou-se a favor de Floriano Peixoto, pela imprensa.

Começou, então, a sua intimidade com o “Simbolismo”* de Cruz e Sousa, mais velho 6, anos e 5 meses do que ele.

Neste mesmo ano tivemos a afirmação irreversível do Simbolismo, com a publicação de “Missal e Broquéis”, do seu grande amigo catarinense, o qual, por sua vez, casa-se, nesse ano, com a também morena Gavita.

Essa amizade passaria a ser a tônica emocional, com poderosas conotações estéticas e morais, de sua vida do espírito. Foi exemplar e tornou-se legendária. Floriano Peixoto nomeia-o, em 22 de junho de 1894, vice-Diretor do Internato do Ginásio Nacional, depois Colégio Pedro II, onde lecionou várias disciplinas do curso de Letras.

* Cisne Negro da poesia brasileira e do movimento literário Simbolismo  era o poeta João da Cruz e Souza.

Teve, ali, como colegas de magistério, Sílvio Romero e João Ribeiro.

Passou a colaborar para o periódico “O País”, o qual foi convidado pelo seu diretor, Quintino Bocaiúva.

Juntamente com José Veríssimo, que dirigia o Externato, entabulou relações cordiais, e um tanto fora do ambiente literário devido à radical prevenção do eminente crítico relativamente ao movimento que a Nestor Vítor empolgara.  Residia em uma casa oficial, ao lado do Ginásio.

Neste ano sua mãe falece, na cidade de Paranaguá, para onde Nestor Vítor viaja para prestar suas últimas homenagens.

Ainda no Rio de Janeiro, exerce forte influência literária, no Internato, sobre alguns poetas juvenis, como Castro Meneses e Cassiano Tavares Bastos, que então, respectivamente com dezessete e dezesseis anos de idade, publicaram alguns livros simbolistas tais como “Mitos e Ermida”.

Estranhamente apesar de Nestor ter assumido postura Florianista durante a Revolução, foi defensor convicto do governo civilista* de Prudente de Morais, indicando forte personalidade legalista e mantendo suas convicções Republicanas.

No ano de 1896, escreve o ensaio de nome “Cruz e Sousa”, que esteve longamente em mãos do Poeta Negro, porém só publicado em 1898, depois da morte do poeta.

No ano de 1897 Nestor publica “Signos” (contos) e também uma novela, “sapo”, tendo Cruz e Sousa publicado longo estudo, de paráfrase poética sobre esse livro.

Com Frota Pessoa, dá assistência comovida, em seus últimos dias e em seu leito de morte, ao romancista Adolfo Caminha, que tinha sido o primeiro crítico compreensivo, em livro, da poesia de Cruz e Sousa.

*Civilista relativo ao direito Civil.

Chega ao Rio, para fixar-se, o seu amigo Rocha Pombo, ilustre historiador nascido no mesmo Estado, que seria, com Nestor, um dos maiores romancistas do Simbolismo no Brasil.

No dia 19 de março de 1898 morre seu grande amigo Cruz e Sousa (Cisne Negro).

Fato que marcou para sempre a vida de Nestor Vítor.

Escreveu febrilmente um curto poema de nome A Cruz e Sousa, lamento de dinâmica e acentos, – por exceção em sua obra, manifestamente “cruzesousianos”.*

Ainda nesta mesma época, em um ímpeto realizador, escreveu o seu primeiro grande ensaio sobre autor estrangeiro:

Os Desplantados, do autor Maurice Barres, e também o seu primeiro estudo sobre Raul Pompéia. Em 1899, inicia um ciclo de correspondência com Maurice Maeterlinck.

* Cisne Negro da poesia brasileira e do movimento literário Simbolismo  era o poeta João da Cruz e Souza.

* Cruzesousianos refere-se claramente a seguidores de Cruz e Sousa.

Nestor solicitou licença para traduzir, “La Sagesse et la Destinée”. Surpreendentemente, o autor de “Pelléas et Mélisande”, concedia a licença pedida…

Nestor propôs ainda apresentar ao mundo de língua francesa o nosso “Cisne Negro”*, caso chegasse até ele a tradução de suas obras, a qual, por incrível má sorte, João ltiberê da Cunha, antigo colega de Maeterlinck, não chegou a efetuar.

Ainda em 1899 escreve os ensaios sobre o “Cyrano de Bergerac”, sobre Novalis e sobre Balzac, e o vivaz e realmente importante estudo Os Novos.  Encontrado em uma edição póstuma Evocações, de Cruz e Sousa. O seu grupo compunha-se, nessa época, de Gustavo Santiago, Oliveira Gomes, Tibúrcio de Freitas, Rocha Pombo, Maurício Jubim, Artur de Miranda e o jovem poeta paranaense Silveira Neto, para cujo primeiro livro foi um dos mais significativos do movimento simbolista brasileiro, escreveu a Introdução, sob o título Elogio do “Luar de Inverno”.

*Nestor victor sentiu muito a perda de seu amigo e “Mentor no Simbolismo” João Cruz e Sousa, com a sua morte Nestor Vítor dedicou-lhe mais de 200 versos emocionados e pungentes.

Vem escrevendo, desde 1898, os aforismas, pensamentos breves e concisos ensaios que viriam a constituir, continuados, como foram, durante muitos anos, o livro Folhas Que Ficam/Emoções e Pensamentos, este sim é seu verdadeiro diário intelectual e, como indica o título, muito mais do que uma simples “marginália”.

Em 1900 sai o romance “Amigos”, de publicação custeada pelo seu irmão único, e mais velho, Francisco Norberto, sobre o qual, como sobre Signos, encontra-se estudo cabal e significativo em O Simbolismo, de Massaud Moisés (Ed. Cultrix. São Paulo).

Em Belo Horizonte, a convite, faz uma conferência sobre Cruz e Sousa.

Ainda nesse mesmo ano escreve, talvez os seus mais  importantes ensaios: H. Ibsen, que foi um pioneiro no Brasil, e que foi publicado no livro “A Hora” em 1901, antecedendo, assim, ao de Araripe Júnior, o qual o primeiro estudo dedicado propriamente ao autor nórdico é de 1906; “Os Sete Ensaios”, de Emerson, Um livro de Hello, F. Nietzsche, a respeito dos quais Sílvio Romero ainda informa: “…acerca de letras estrangeiras não possuímos nada superior nem que se compare, ao que escreveu de Ibsen, de Maurice Barrès, de Edmond Rostand, especialmente de Maurice Maeterlinck. Bastaram estes quatro largos estudos para ser colocado na primeira Plana dos nossos críticos.” (História da Literatura Brasileira, 3ª ed., tomo V, p. 389).

Nestor ainda no ano de 1900 publica “Faróis”, de Cruz e Sousa. E em 1901, publica, como vimos, “A Hora”, ed. Garnier e, escreve o falado ensaio sobre Maeterlinck, que lhe respondeu a esse respeito: “O Sr. diz sobre o meu último livro belas coisas, simples, graves, reais e viris, e tais, que o meu melhor amigo não poderia achar outras que me comovessem mais profundamente.” (Jornal do Comércio, 31.1.1899).

Demite-se do Ginásio Nacional

Comovido ainda pela morte de seu amigo Cruz e Sousa, desempregado, sentindo-se solitário entre os grupos de simbolistas que aquela morte deixara sem o seu fulcro catalisador, resolve viajar com destino a França, no que foi auxiliado financeiramente pelo seu irmão Francisco Norberto.

Em Paris, foi professor dos filhos do Barão do Rio Branco seu amigo.

Conseguiu um modesto emprego no Consulado do Brasil, em Paris

Neste período escrevia correspondências para o “Correio Paulistano” e “O País”, muito mal retribuídas. Ainda em Paris fez poucas traduções e algumas revisões para a Editora Garnier. Em outubro de 1902 aparece o seu único livro de poesia, “Transfigurações” (Ed. Garnier), que foi louvado por José Veríssimo.

Fez alguns escritos sobre Canaã, que Graça Aranha ali lhe ofertou e, ainda sobre Bilac, e Garção.

Em Paris, além de Maeterlinck, a quem foi levar o primeiro exemplar de sua tradução de “A Sabedoria” e o “Destino”, criou fortes vínculos com Maurice Barrès; com o Conde Prozor, que era o tradutor célebre de Ibsen e, que tinha sido Ministro da Noruega no Brasil; Saint-Georges de Bouhélier; o Pintor Carrière, sobre quem escreveu, em 1904, um ensaio; a mulher de Maeterlinck, Georgette Leblanc, e seu irmão Maurice, criador de Arsène Lupin, e outros.

Escreve o poema “O Construtor”. Escreve sobre a Exposição retrospectiva de Whistler.

Em 1905 publica, edição Aillaud, os “Últimos Sonetos, de Cruz e Sousa”, volume por Nestor victor organizado com dispersos e inéditos do poeta.

Da França retorna ao Rio de Janeiro no final de 1905, quando então escreve o ensaio sobre Alberto de Oliveira.

Redige então no seu diário, o que se intitula significativamente “A Exasperação da Volta”.

Já em 1906, assume a seção de crítica literária da revista Os Anais, de Domingos Olímpio, o autor de Luzia Homem, sob o pseudônimo “Nunes Vidal” (Em somente alguns casos).

De retorno ao Rio de Janeiro encontramos este relato de uma correspondência entre Nestor e Galante de Sousa.

“Nestor Vítor

Recebo-o na volta da sua longa viagem. Nestor Vítor está transformado. Aquela violência, o ar de pedagogo zangado com que procurava convencer seus discípulos, desapareceu. É um homem que passou por Paris, que viveu em Paris, que civilizou todas as arestas do temperamento na polidez de Paris.

Três anos antes faria reflexões a propósito do meu inquérito, reflexões onde haveria decerto alguns desaforos, alguns axiomas, algumas ironias e muito talento. No momento em que lhe pedia as suas ideias, entretanto, sorriu.

-Já?

Quando quiser. O tempo de refletir. Aqueles jornais não deixam a gente tempo para muita coisa.

Passou os olhos pelo questionário.

Mas é grave!… Mando-lhe a resposta, amanhã. E sabe?

encantado, positivamente encantado…”

(GALANTE DE SOUSA ANO 1969 Revista do Livro RJ)

Foi professor na Escola Normal e também no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro.

Já em 1908, foi representante do Paraná na convenção nacional que indicou Rui Barbosa para candidato, da oposição, à Presidência da República.

Em 1911 publica “Paris”. Contemporâneo seu, o crítico Sílvio Romero opinou sobre o livro: “Tudo é flagrantemente exato, finamente sentido e corretamente exposto. Nestor Vítor dos Santos, em seu novo livro, revelou-se, no gênero, o mais complexo dos escritores brasileiros. Pois merece ser traduzido nas línguas estrangeiras para que se saiba lá fora a que ponto a inteligência brasileira tem atingido de atilamento e penetração.”(loc. cit.).

João Batista Ribeiro crítico literário escreveu: “O seu livro de viagem “Paris” é um modelo na espécie e não conheço na literatura contemporânea da nossa língua obra que o iguale e muito menos que se lhe avantaje… Paris é certamente a obra mais considerável que temos, e nos espanta que não esteja vertida no idioma em que seria mais conhecida e familiar.” (Ref O Imparcial, 14.4.1919).

E, muitos anos mais tarde, escreveu “Brito Broca”: “Livro único em nossas letras, constituindo verdadeira exegese de uma cidade e de um povo.” (ref A Vida Literária no Brasil -1900, Rio, 1956).

Já em 1911, escreve o perfil de Emiliano Perneta, que acabara de publicar o livro de decisiva importância no movimento simbolista,”Ilusão”.

Nestor publica em idos de 1913. “A Terra do Futuro” (Impressões do Paraná). Sai a 2ª edição de “Paris”.

Com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, levou Nestor a promover, juntamente com José Veríssimo e outros companheiros, a Liga Brasileira pelos Aliados, que teve relevante atuação. Sua Diretoria era assim composta Presidente, Rui Barbosa; Vice-Presidente, José Veríssimo; Nestor Vítor exerceu a função de Secretário.

Ressurgida a obra do moralista brasileiro Matias A. da Silva de Eça pelo filólogo Solidônio Leite (Clássicos Esquecidos), Nestor escreve neste momento o primeiro e amplo estudo que focalizou as “Reflexões sobre a Vaidade dos Homens”.

Publica em 1915 a conferência “O Elogio da Criança”, e outra em que estuda Três Romancistas do Norte (Xavier Marques, Rodolfo Teófilo e Pápi Júnior).

Em fevereiro de 1916, faz o “Elogio Solene” para José Veríssimo, por ocasião de seu funeral.

O grupo que Nestor Vítor passou a frequentar, na Livraria Garnier, tinha como o já falecido Machado de Assis que dele fora a figura central, era constituído principalmente por Melo Morais Filho, Ferreira Viana, Farias Brito, Rocha Pombo, Alberto de Oliveira, Hermes Fontes, Humberto de Campos, Silveira Neto, José Oiticica, Porfírio Soares Neto, Arnaldo Damasceno Vieira, Álvaro Bomílcar, Henrique Castriciano, a poetisa Laura da Fonseca  e seu marido Otávio Brandão, Antônio Sales, Pedro do Couto, Moisés Marcondes, também o romancista Lima Barreto, Gustavo Barroso, Fábio Luz, Almáquio Dinis, Heitor Lima, Da Costa e Silva, Jackson de Figueiredo, Constâncio Alves, Adelino Magalhães, Tasso da Silveira, Andrade Muricy e, outros ainda; e, por vezes, Rui Barbosa, Medeiros e Albuquerque; mais tarde, Alberto Faria, o filólogo, e o filósofo paranaense Eusébio Silveira da Mota.

Publica o ensaio Farias Brito, em idos de 1917 seria uma homenagem ao filósofo que recém tinha falecido.

É eleito Deputado ao Congresso Legislativo do Paraná.

Foi neste mesmo ano de 1917 condecorado com a “Ordem de Leopoldo da Bélgica”, e agraciado, pelo Rei-Herói Alberto, com o título de “Oficial da Ordem da Coroa”.

Faz as ponderações sobre a obra “Visões, Cenas e Perfis”, de Adelino Magalhães.

Com muito interesse recebe o livro de estreia de Murilo Araújo, “Carrilhões”. Ensina francês na Escola Superior de Comércio, o qual viria a ser Vice-Diretor.

Em sua casa reuniam-se frequentemente, além do seu grupo da maior intimidade, Gilka Machado, Laura da Fonseca e Silva, Eusébio Silveira da Mota, Alberto Deodato, Ranulfo Prata, José Vieira, Leopoldo Brígido, Hermes Fontes, o seu conterrâneo paranaguense Hipólito Pereira, o Cônsul do Brasil em Marselha Francisco José da Silveira Lobo, entre outros. Breve polêmica com Ronald de Carvalho. Recebe grandes homenagens em Curitiba e Paranaguá.

Em 4 de Julho quando retornou ao Rio, foi-lhe oferecido um banquete, presidido pelo Senador General Barbosa Lima. Orador principal, Jackson de Figueiredo

Publica em 1919 A Crítica de Ontem. Nesta mesma época teve o seu mandato de deputado estadual renovado. Em 1920, setembro, publica “Folhas que ficam”.

Em 1921 realiza uma conferência sobre “A Viagem”, em reunião na residência da declamadora Ângela Vargas (Barbosa Viana).

Torna-se sócio correspondente da Sociedade de Estudos Pedagógicos de Lisboa.

Publica “O Elogio do Amigo”, editora; Monteiro Lobato, S. Paulo; e, no Jornal do Comércio, artigo sobre a morte, recentemente ocorrida de seu amigo Emiliano Perneta.

Organiza em 1923 a primeira edição, em dois volumes, das Obras Completas de Cruz e Sousa, para a editora Anuário do Brasil, de Álvaro Pinto.

Nela apresenta o primeiro e muitíssimo importante resumo biográfico do Cisne Negro. Foi neste mesmo ano foi agraciado com a “Ordem do Cavalheiro da Legião de Honra”, da França.

Em 19 de março, pronuncia discurso no túmulo de Cruz e Sousa, em romaria realizada por motivo do 25º aniversário de seu falecimento.

No ano de 1924 publica um estudo sobre Rocha Pombo no Paraná, na revista Terra de Sol, onde aparece também o seu estudo Um Aspecto dos Republicanos Históricos.

Ainda em 1924 publica Cartas à Gente Nova, que foram prefaciadas por Jackson de Figueiredo.

Passa a ser crítico literário de O Globo, em 1925 designado para isso no próprio dia da fundação desse órgão da imprensa.

Em 1926: realiza, numa das Vesperais memoráveis organizadas por Adelino Magalhães, conferência sobre Justiniano José da Rocha, e, no Clube Militar, sobre o livro Alegorias do Homem Novo, de Tasso da Silveira. Escreve o poema Paranaguá

Já em 1927 entrou em uma breve polêmica com o seu amigo Alberto de Oliveira a propósito de interpretações errôneas acerca da posição crítica de Sílvio Romero relativamente a Cruz e Sousa, n’O Globo, em março.

Surge a revista Festa, órgão do movimento modernista no Rio, dirigida por Tasso da Silveira, Adelino Magalhães, Andrade Muricy, Cecília Meireles, Murilo Araújo, Barreto Filho, Henrique Abílio, Porfírio Soares Neto, seus amigos.

Publica, em São Paulo em idos de 1928, a novela “Parasita”.

É eleito membro da Academia Paranaense de Letras. Neste mesmo ano acontece a trágica morte de Jackson de Figueiredo; nos seu funeral Nestor desfalece.

É eleito presidente do Centro Paranaense de Letras.

Em 1929 continua em seu posto de crítico em O Globo e, ainda colabora em O Estado de S. Paulo.

Ainda em 1929 recebe o título de Doutor em Ciências Jurídicas e Comerciais, pela Escola Superior de Comércio do Rio de Janeiro e, em 1931 deixa de ser crítico de O Globo, sendo substituído por Elói Pontes

Até essa data, lecionou no Instituto de Educação, na Escola Superior de Comércio e no Liceu Francês, hoje Liceu Franco Brasileiro.

CORRESPONDÊNCIA INÉDITA DE NESTOR VICTOR DOS SANTOS

“Organização e Notas por Cassiana Lacerda Carollo”

A EMILIANO PERNETTA: 1911/1912

“Carta I I

Rio, 28 de julho, 1911

Emiliano,

Recebi ante-hontem à noite tua carta de 23.

Ha uns bons mezes que espero teu livro. Quando aqui esteve teu  irmão, disse-lhe cu que fazia projecto de escrever um artigo tão completo quanto possível a respeito. Não será critica “luminosa” nem  “definitiva”, como por amabilidade prevês; será porem, o trabalho de um companheiro leal que tem a vantagem de haver seguido com o correr dos annos a linha do desenvolvimento de teu espírito, que te conhece de perto e que por conseguinte está mais habilitado do que  os críticos do Rio em geral para falar de tua obra. Não sei si muita  gente escreverá aqui sobre a Illusão; o que te posso prometter é que  farei todo esforço por que o livro não passe despercebido, por que  delle se dem ao menos noticias tão amplas quanto eu possa conseguir  e no maior numero de jornaes em que me seja dado influir. Encarrego-me com muito prazer da distribuição pelos críticos, pela imprensa c por algumas livrarias. Seria bom que pudesses mandar o pacote  para nossa casa, de casa irei levando aos poucos para a cidade os  exemplares que tenha de distribuir dia a dia. Mas uma boa coisa seria que antes de brochado o livro me enviasses um avant la lettre para

eu ir preparando meu artigo de modo a poder elle apparecer pouco  antes ou na mesma occasião da obra ser posta à venda”.1  Si vires o nosso Sebastião Paraná peço-te o obsequio de lhe dizeres  que eu prometti ao Capistrano de Abreu pedir ao nosso amigo q’ lhe  mande um exemplar da obra delle ultimamente publicada. Endereço  do Capistrano: Rua D. Luiza, 145.  Espero com verdadeiro interesse, meu caro amigo, as paginas da  Illusão e dou-te parabéns por haveres afinal resolvido pôl-as à rua —  coisa que ha mais tempo já devia estar feita.  Conto ir este anno à nossa terra, e então abraçar-te e aos nossos  demais companheiros, entre elles alguns que ha 14 annos não vejo.  Mas emquanto não vou, mando saudades. Recebe-as, meu velho amigo,  como enviadas pelo teu Velho Nestor Rua Itapirú, 326.

1 Pariu (Impressão de um brasileiro) (oi publicada em 1911 pela livraria Francisco Alves.

Morreu em 13 de outubro de 1932, com 64 anos, seis meses e um dia de idade, na sua residência, Rua do Humaitá, 155.

Foi sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, onde repousa o seu fraterno amigo Cruz e Sousa

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

https://hamiltonjunior.home.blog/

O arquivo de artigos sobre Emiliano Perneta organizado por Andrade Muricy revela a receptividade, através de artigos e comentários de Lima Campos, José do Patrocínio Filho. Pedro Couto e outros, porém não encontramos entre recortes de jornal o prometido comentário a qual se refere Nestor Victor.  Quando a importância do Rio como foco irradiador do prestigio literário é interessante mencionar a carta de Nestor Victor a Andrade Muricy (Obras críticas de Nestor Victor v. 2 p. 178-1S3) por demonstrar a lucidez com que o primeiro encarou a incompreensão da crítica carioca em relação a Emiliano e ao movimento simbolista em geral. O artigo de Lima Campos foi localizado no arquivo já citado e é transcrito a seguir: “Um livro de Emiliano Perneta”.  Para os que o supunham já um repousado das lides literárias, a contestação deste descabido engano surge agora, com destaque cintilante. no livro de fina e sentida emoção e de delicado relevo de arte que nos vem do Paraná, onde o espirito de Emiliano Perneta continua intenso e ativo, como quando aqui esteve, a se manifestar quer no magistério quer na jurisprudência, no jornalismo e na pura literatura, como uma das figuras mais elevadas do meio intelectual paranaense. E de versos o livro que agora publica, versos de original e subida poesia,  versos que, na espécie e na forma, fogem & trivialidade dos vereadores comuns  e que revelam o requintado espiritual que é o seu autor, versos em que, por vezes,  piange a magoa de um encarcerado a pedir, aflitivo, a liberdade e a luz de um  outro meio e de um outro tempo e, por vezes, a dolorosa discreta de um amorável  que sofre, velando, orgulhoso ou serenamente resignado, uma suave emoção uma  blandiciosa pungência que só a sensibilidade dos finos. dos dedicadamente emotivos pode experimentar.  E essa sensitiva feição que cunha inúmeros dos seus versos, essa subtil essência de magoa contemplativa que deles, a quando e quando, se evola e que os envolve, aqui, ali, numa nevoa crepuscular de tristeza e de vago transparece a pagina mesmo quando o gemido se alteia e a revolta tenta explodir… O próprio título do livro ganha a obra desse seu caracteristico. Emiliano Perneta chamou a em frisante nominação genérica: ilusão. Mas, é tão linda, tão suave e consoladora essa iusão que nos embala na berceuse de uma sonoridade branda de amargor e de sonho que os seus versos contêm e nos eleva com essa indizivel e delicada orientação de arte que o poeta possue  que. ao percorrer com os olhos e com o espirito essas páginas, o leitor educado,  o leitor sensível, se alheia, por momentos, do prosaísmo reles deste meio lamentavelmente  que por ai anda indiferente, aborrecida deste trivialismo agua-choca que nos abafa e nos estiola e que é toda essa vida pratica que nos cerca e em que somos forçados a viver e da inexpressão pifia dessa pseudo-literatura, que por ai anda conspurcando um tempo, literatura de mera pose de comuns disfarçados em artistas e desgueliadamente ganhadores, e de despencados, cafajestes nos aspectos e no escrever, aureolados baratamente pela  aureola de latão dourado de uma gloriosa de época, posta por seus iguais em  vulgaridade, sobre os burguezlssimos chapéus de coco dos primeiros e sobre os cerébros literários dos segundos.  Emiliano Perneta, com o seu livro, nos faz uma oferta de consolacão e de retempero… Lí  com delicado gozo e com gratidão. E outra a atmosfera em que se paira e que se respira…  (Lima Campos, Fon-Fon, 1911).”

Referências

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