

Introdução
Os jesuítas Pedro Corrêa e João de Sonia estão entre os primeiros mártires da Companhia de Jesus no sul do Brasil. Assassinados pelos indígenas carijós de Paranaguá em 1554, os dois religiosos representam o início da presença missionária católica na região que hoje corresponde ao estado do Paraná. Este artigo resgata a trajetória desses missionários com base em documentos coloniais e relatos de cronistas do período.
A Chegada ao Sul e a Primeira Evangelização
O marco inicial da evangelização nas terras meridionais da colônia portuguesa provavelmente ocorreu com a passagem de Pedro Corrêa e João de Sonia. Ambos eram discípulos do padre José de Anchieta e vieram da vila de São Vicente.
Cinquenta anos após o martírio desses padres, entre 1606 e 1640, os jesuítas estabeleceram no Superagui, junto ao Varadouro Velho, a primeira casa de missões em território paranaense.
A Conversão de Pedro Corrêa
Pedro Corrêa chegou ao Brasil ainda como leigo e tornou-se conhecido por sua atuação como cativador de indígenas, prática comum entre os colonos da época. No entanto, sua vida mudou radicalmente após ouvir a pregação do padre Leonardo Nunes, em 1549. Convencido pelas palavras do missionário, Corrêa abandonou a vida de violência, ingressou na Companhia de Jesus e se dedicou inteiramente à causa missionária. Tornou-se um eloquente catequista e um dos fundadores do colégio jesuíta de São Vicente.
Um Documento de Sesmaria
Um documento datado de 25 de maio de 1542, assinado por Antônio de Oliveira, capitão e ouvidor da Capitania de São Vicente, confirma a concessão de terras a Pedro Corrêa. Posteriormente, essas terras foram doadas por ele à Companhia de Jesus por meio de escritura datada de 20 de março de 1553, conforme registro da Tesouraria de Fazenda (maço 30 de sesmaria).
“Estas terras foram doadas por Pedro Corrêa ao colégio da Companhia de Jesus de São Vicente, por escritura de 20 de março de 1553, na qual declarou que havia sido um dos fundadores do referido colégio.”
Martírio em Paranaguá
Pouco tempo após a doação das terras, Pedro Corrêa partiu em missão rumo ao litoral sul. Ele e seus companheiros — João de Sousa e Fabiano — foram mortos por flechas dos indígenas tupis e carijós nos sertões de Cananéia, na atual região de Paranaguá, em setembro de 1554. Segundo o cronista Simão de Vasconcelos, os missionários foram vítimas do ódio de um castelhano, que fora repreendido por eles por viver publicamente em união ilícita com uma indígena.
O Testemunho de Simão de Vasconcelos
O padre Simão de Vasconcelos, autor da Crônica da Companhia de Jesus, oferece um retrato comovente da conversão e do zelo missionário de Pedro Corrêa:
“Sua conversão foi semelhante à de São Paulo, pois foi notável o zelo com que passou a tratar os indígenas […] padecendo, pela liberdade de seus corpos e pela salvação de suas almas, fome, sede, frio, intempéries, animosidades, perigos marítimos e terrestres […].”
“É fato comprovado que foi o melhor intérprete daquele tempo […]. Entrava nas casas dos indígenas pregando, como se fossem sua própria morada […]. Com esse dom e com seu grande espírito, é impossível quantificar os muitos que trouxe dos sertões ao seio da Igreja; os muitos que catequizou, batizou, curou e salvou da morte.”
João de Sonia: Mistério e Possíveis Identificações
Há poucas informações concretas sobre João de Sonia. Alguns estudiosos levantam a possibilidade de que seu nome seja uma forma corrompida ou alterada. Há registros de um jesuíta chamado João de Azpilcueta Navarro, que chegou ao Brasil em 1549, além de menções a missionários como João Manuel da Silva. A identificação exata de João de Sonia permanece em aberto.
Conclusão
A trajetória de Pedro Corrêa e João de Sonia revela a complexidade e o heroísmo da missão jesuítica nos primeiros tempos da colonização do Brasil. Sua dedicação à catequese, a sinceridade de sua conversão e o martírio precoce os colocam entre os pioneiros da fé católica no Paraná. Resgatar suas memórias é dar voz a uma parte essencial da história missionária do sul do Brasil.
Referências:
- Simão de Vasconcelos, Crônica da Companhia de Jesus no Brasil
- Cartório da Tesouraria de Fazenda, maço 30 de sesmaria
- Tanner, Matthias. Societas Jesu Apostolorum Imitatrix, 1675