Padre Vicente Gaudinieri

hamilton |01 outubro, 2022

Blog | Rastro Ancestral

Vicente Gaudinieri

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

hamiltonjuniorsjp@gmail.com

Resumo: O presente artigo busca demonstrar a trajetória de um italiano Vincenzo Gaudinieri que chegou no Brasil em 1886,foi ordenado padre e esteve presente em diversas paróquias, em Pillar do Sul foi Intendente daquela Vila e Pároco daquela cidade, mudou-se para Morretes aonde foi iniciado maçom na Loja Modéstia e atuava como padre na mesma localidade, participou da fundação da Loja Luz Invizível  foi transferido para Palmeira aonde foi um dos fundadores da Loja “Conceição Palmeirense” n°0633 esteve no meio de uma questão religiosa no Paraná entrou em contenda com o Bispo de Curitiba Dom José de Camargo Barros que acabou causando sua saída da Igreja, casou-se. Tentarei contar essa história de uma maneira livre de paixões, preconceitos..

Palavras-chave: Igreja, padres,maçons imigração, Calabria.

Abstract: This article tries to demonstrate the trajectory of an Italian Vincenzo Gaudinieri who arrived in Brazil in 1886, was ordained priest and was present in several parishes, in Pillar of the South was Intendant of that Town and Parish priest of that city, moved to Morretes where it was initiated Mason in the Modesty Store and served as priest in the same locality, participated in the foundation of the Light Invizible Store was transferred to Palmeira where he was one of the founders of the “Conceição Palmeirense” Store No. 0633 was in the middle of a religious question in Paraná entered into a dispute with the Bishop of Curitiba Dom José de Camargo Barros, who ended up causing his departure from the Church, was married. I will try to tell this story in a way that is free of passions, prejudices.

Keywords: Church, priests, Masons immigration, Calabria.

INTRODUÇÃO

A pesquisa histórica, independente da forma ou abordagem utilizada pelo pesquisador, é uma tentativa de interpretação de determinados acontecimentos ou fatos históricos do passado. Toda pesquisa histórica sobre fatos, acontecimentos ou eventos vividos por uma determinada sociedade, são reescritas contínuas da história, em virtude da necessidade de registrar, compreender e interpretar os diferentes processos e eventos humanos. Segundo Reis (2002)*, muitas são as versões da história, mas há dois motivos do porquê os Historiadores escrevem ou reescrevem as histórias. O primeiro, porque os acontecimentos são temporais, ou seja, a história se torna visível e compreensível com a sucessão temporal (REIS, 2002)*.

DESENVOLVIMENTO

Fontes de Pesquisa

A história é constituída de marcas ou vestígios deixadas pelo homem durante sua passagem pelo mundo .Na posse de historiadores, esses vestígios ganham o status de fontes, o que possibilita sua interpretação, indagação e produção de novos conhecimentos. De acordo com Silva e Szeuczuk (2015)*, toda fonte depende dos questionamentos que o pesquisador fará a ela, pois os registros do passado muitas vezes não foram elaborados com uma finalidade histórica. As fontes representam o principal instrumento de trabalho do pesquisador, viabilizando ou não a construção de um trabalho científico. As fontes são elementos essenciais para a produção do conhecimento histórico (SILVA; SZEUCZUK, 2015)*.

*REIS   Jaime Reis (Lisboa, 1944) é licenciado em Filosofia, Política e Economia (1967) e doutor em História pela Universidade de Oxford (1975), e mestre em Relações Internacionais pela Fletcher School of Law and Diplomacy (1968).

*BUCHAUL  2011 Autor dos livros: “Gênese da Maçonaria no Brasil”; “É Simples desse Jeito!”; “Processo Administrativo Sanitário – dialogando com a Vigilância”; “Dengue – o que todos precisam saber”; “Elias”; “As Virtudes de Todo Dia”.

Quando a História se estabelece como disciplina acadêmica, desde metade do século XIX, métodos rigorosos foram definidos, privilegiando os registros e documentos escritos e oficiais, focando-se na sua autenticidade e tendo-o como o “relator da verdade” do fato histórico em si. As fontes são os vestígios, as testemunhas em manifestam as ações do homem no tempo. Segundo SAVIANI (2006)*, a fonte tem uma finalidade definida na pesquisa histórica: As fontes estão na origem, constitui o ponto de partida, a base, o ponto de apoio da construção historiográfica que é a reconstrução, no plano do conhecimento, do objeto histórico estudado. Assim, as fontes históricas não são a fonte da história, ou seja, não é delas que brota e flui a história. Elas, enquanto registro, enquanto testemunhos dos atos históricos, são a fonte do nosso conhecimento histórico, isto é, é delas que brota, e nelas que se apóia o conhecimento que produzimos a respeito da história (SAVIANI, 2006, p. 29-30). O estudo do passado, através das fontes disponíveis, permite a compreensão de valores e ideias de sociedade que integram as instituições em seu espaço e no tempo. A construção da história prescinde necessariamente das fontes, mediante sua localização, preservação e socialização, viabilizando a preservação da memória histórica (SILVA; SZEUCZUK, 2015)*. Como já foi citado neste trabalho, realizar uma pesquisa histórica sobre qualquer aspecto da Arte Real, de acordo com uma abordagem temporal e mutável, não é uma tarefa trivial. No Brasil, a história da Maçonaria depara-se com duas forças atuantes:

A força do mito e a ausência quase absoluta de fontes documentais que possibilitem a comprovação de fatos a respeito da Ordem no Brasil (BUCHAUL, 2011)*.

  1. a) notícias de jornais da época.
  2. b) livro de atas.
  3. c) fotografias.

*SILVA, J. C.; SZEUCZUK, A. Arquivos, fontes e memória: desafios na produção do conhecimento histórico. 2º Congresso Internacional de História, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2015.

* SAVIANI, D. Breves considerações sobre fontes para história da educação. Revista Histedbr On-line, Campinas, 200

  1. d) boletins.
  2. e) Livros de Tombo da Igreja
  3. f) Registros da Cúria da Igreja
  4. g) Arquivos da Biblioteca Nacional

Vicente Gaudinieri, chegou ao Brasil em 1886, segundo essa pesquisa com o nome de VINCENZO GAUDINIERI vindo da região da Calábria da Comuna Cosenza*

Ficha de Entrada de Imigrantes no Porto do Rio de Janeiro Navio Perseo procedência Nápoles entrada em 08 de abril de 1886. Ao lado assinatura no livro de passageiros do mesmo navio.

teste-entrada

Fonte: Arquivo Nacional Entrada de Estrangeiros no Brasil

Analisando a Foto 01, podemos observar alguns aspectos intrigantes primeiramente o nome “Vincenzo Gaudinieri” o qual era comum os imigrantes italianos “abrasileirarem” seu nome devido a diversos fatores após uma extensa pesquisa pudemos observar que à época em alguns casos se mudava o nome, entre eles,  a baixa qualidade intelectual dos oficiais de imigração na época, fatores políticos (perseguições)  e até por opção da própria pessoa, explanamos isso no, segundo levantamento desta pesquisa seu nascimento se deu em 1843 como pudemos observar em uma noticia do periódico “Jerusalem” o qual cita “ na sua edição n° 23 de Março de 1911 na sua página 124 “Nascera Vicente Gaudiniere em 1843”, descobrimos também que ele imigrou com 43 Quarenta e Três Anos , o que não era comum nessa época,  podemos observar estes dados em sua ficha de imigração do Navio “PERSEO”, outra coisa que observamos foi sua profissão declarada “Jornaleiro”, nessa pesquisa observamos que a partir de 1850 houve uma intensificação na imigração de Padres Italianos formados, e alguns que não tinham formação completa que poderiam à critério do Bispo terminar os estudos eclesiásticos aqui no Brasil, a pressa era para que a igreja pudesse ocupar os espaços criados pelas extensas comunidades italianas que estavam emigrando, descreveremos isso mais para frente.

Aspectos Migratórios

Verificou-se que, no final do século XIX, em escala mundial, a economia estava em transformação. A Europa encontrava-se num processo de industrialização. Para a Itália, a imigração representou um fator decisivo. As novas exigências de trabalho produziram um êxodo rural. “As condições particulares em que a Itália se insere nesse mecanismo a transformaram em uma das maiores fornecedoras de mão de obra barata no século XIX” *2.

As guerras napoleônicas mancharam de sangue a Europa do século XIX, causadas, frequentemente, pelos conflitos entre os Estados e os desejos nacionalistas. Destruíram os campos, criando uma série de chagas sociais, e, dessa maneira, cooperaram para o nascimento de um proletariado urbano. Na Itália, muitos camponeses procuravam melhores condições de vida na imigração, especialmente para as novas fronteiras de países jovens como os Estados Unidos, Argentina e Brasil.

O Brasil, necessitando de braços e também desse contingente familiar e campesino, assumiu para si enormes levas de imigrantes. Houve um reordenamento populacional em algumas partes do mundo, assumido em grande escala por fatores preponderantemente socioeconômicos, dentro de uma política governamental estruturalmente muito bem arquitetada e executada. Aos imigrantes restava a fome ou partir.

De fato, o contingente que entrou no período de vigência da Sociedade Protetora de Imigração foi bastante significativo. Dados colhidos no Arquivo do Museu da Imigração mostraram o rastreamento feito nos campos de uma Itália pós-unificação que, assumindo um novo regime econômico, expulsava os camponeses de suas terras. Para São Paulo, que se destacava na pujança nacional com o café, assumir esses imigrantes significava, na verdade, ter mão de obra qualificada. O componente mais significativo da entrada de imigrantes nessa Província foi a substituição da mão de obra negra pela mão de obra livre europeia nas plantações de café.*3

A presença italiana na província de São Paulo foi bem diversa […] Em São Paulo […] os imigrantes foram utilizados prioritariamente como forma de substituição do escravo negro; assim sendo, o italiano não se estabeleceu geralmente na província paulista como proprietários, mas como braço empregado nas fazendas de café. De fato, nas últimas décadas do século XIX o café, depois de um período pujante na baixada fluminense e no Vale do Paraíba, chegava com todo o impulso na região do oeste paulista, desenvolvendo-se a partir de Jundiaí, Campinas e Itu. Foi nessa região que os imigrantes italianos se estabeleceram de forma mais significativa, convocados como trabalhadores nas fazendas. Esses imigrantes provinham de diversas regiões da Itália. Em geral deixavam sua pátria à medida que na Itália se fazia a transição para o regime econômico capitalista, e acabavam sendo expulsos do campo. O fenômeno migratório teve início na região lombarda e piemontesa, seguida pelo Vêneto, vindo a terminar no sul do país”.

A partir de 1850, com a criação da Lei da Terra*⁴, incentivou-se, de modo relevante e acentuado, a vinda de imigrantes italianos para o Brasil. Em 1886, com a fundação da Sociedade Protetora de Imigração, criou-se toda uma situação favorável, por parte do governo brasileiro, para incentivar e promover a imigração europeia, principalmente a italiana para o interior da Província de São Paulo. Garantiu-se, assim, a manutenção e a sustentação da economia cafeeira.

*Cosenza é uma comuna italiana da região da Calábriaprovíncia de Cosença

*2 AZZI, R. A Igreja e os Migrantes, I, São Paulo 1987, p 121.

A Fundação da Hospedaria do Imigrante, atualmente Arquivo do Museu da Imigração, no bairro do Brás, capital paulista, abrigava os imigrantes que chegavam a São Paulo. “Inicialmente, o alojamento ficava no Bom Retiro. Devido às epidemias de difteria e varíola que então grassavam naquele bairro, em julho de 1887 o prédio do Brás começa a funcionar, abrigando os imigrantes”.

Na vasta documentação sobre a Reforma da Igreja Católica no Brasil e nas Teses sobre a imigração italiana, sobretudo em São Paulo, percebe-se ainda um vazio a respeito do clero italiano. O motivo principal para o imigrante partir era escapar da fome. Havia a intenção dos fazendeiros adquirir mão de obra barata e qualificada nas plantações de café!

Como entender a chegada dos padres italianos?

Seriam eles a mão de obra missionária interessada em partir e a Igreja os acolheria para efetivar a reforma? Qual seria o perfil desse clero e seu impacto em São Paulo no fim do século XIX? Existiu algum tipo de triagem?

Quando houve intensa vinda de imigrantes italianos, sobretudo do norte da Itália, foi constatada a entrada de 228 padres estrangeiros, distribuídos por país de origem: padres italianos, 159; padres sem referências; 17; padres portugueses, 30; padres espanhóis, 5; padres polacos, 5; padres franceses, 4; padres argentinos, 1; padres austríacos, 1 e padres religiosos, *6.

*3 ALVIM Z.M.F., Brava Gente – os italianos em São Paulo (1870-1920), São Paulo 1986, p 23.

*4 Coleção das Leis do Império no Brasil – 1850 – Tomo II, Parte 1ª, Secção 44ª, Lei nº 601, setembro de 1850.

5 ACMSP, Relação de Padres Estrangeiros

6 ACMSP, A.P.E.

ARQUIVO DA CÚRIA METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Foram encontrados no ACMSP, na Seção Primeira, processos referentes a 426 padres estrangeiros que entraram na Diocese de São Paulo, entre 1816 e 1916, para prestar serviços religiosos. Durante o período de governo de Dom Lino Deodato, entraram na Diocese 228 padres estrangeiros. *16

Muitos padres traziam de suas dioceses, onde estavam incardinados, cartas de referência de seus bispos diocesanos e também de amigos padres, que já estavam aqui exercendo o ministério presbiteral. Para o trabalho na Diocese, exigia-se os Papéis de Habilitação, comprovando a idoneidade dos mesmos. *17

Algumas exigências quanto ao saber teológico eram feitas. Nos processos encontramos questionários*18 feitos quanto à Fé, Sacramentos, Moral e sobre o Romano Pontífice.“Aprovação em exame teológico, in scriptis, principalmente se pretenderem provisões de confessor ou o provimento anual em cargos eclesiásticos, a que esteja anexa a cura de almas. Juntar-se-á este exame ou prova escrita aos autos de habilitação canônica do sacerdote, como parte integrante do respectivo sumário”.

Na correção feita pelos encarregados, quando as respostas não eram satisfatórias, ficava por conta do próprio bispo, Dom Lino Deodato, analisar in scriptis, para assegurar a demissória ad tempus. *19

Julgada ou reconhecida como suficiente a habilitação canônica do Sacerdote para sua admissão à residência e uso de ordens na diocese, ou seja, ad tempus, ou sem limitação de prazo, fará o Rev.mo. Escrivão da Câmara

16 ACMSP, Apêndice Relação de Padres Estrangeiros.

17 ACMSP, Sínodo Diocesano, 1888, Livro I, p. 69.

18 ACMSP, Sínodo Diocesano, 1888, Livro I, p. 70.

A trajetória de Vicente Gaudinieri, após a chegada ao RJ a partir de 08 de abril de 1886, como estava a nossa sociedade no Brasil, afinal em 1889 se derrubava a monarquia e se instaurava a República, podemos imaginar a polvorosa que vivia a sociedade nessa pequena janela temporal. Encontramos a designação do então “Padre” Vicente Gaudinieri  para a Paróquia de Pilar interior de São Paulo.

correio-paulistano-10-de-junho-de-1890-edicao-10126

Fonte: Correio Paulistano 11 de Junho de 1890 edição 10127.

Interessante fazermos aqui uma ressalva, sua nomeação “Vigário de Pilar”, encontrada no  Jornal Correio Paulistano de 11 de junho de 1890 , no documento da Diocese de São Paulo na sexta lista de adesões do clero paulistano à pastoral coletiva do episcopado brasileiro, ocorre que nesse mesmo ano a Igreja no Brasil emitiu a “Coletiva Pastoral” que foi um documento emitido pelo Episcopado Católico Brasileiro em 1890 como reação à Proclamação da República e na iminência da elaboração da constituição que estabeleceria a separação entre igreja e estado, Junto com o fim da Monarquia e a criação de um sistema federativo de governo, os republicanos, marcados pelo ideário positivista e pela presença maciça de membros da maçonaria entre seus quadros, propõem a separação entre igreja e estado, o fim da subvenção de qualquer instituição religiosa pelo erário público, a educação laica, o casamento civil e a secularização dos cemitérios.

A atuação dos partidos republicanos nas províncias capitalizará a insatisfação presente na sociedade com a instabilidade do regime monárquico que se vê balançado em seus alicerces pelas três “questões”: a “Questão Religiosa” que coloca em cheque a sustentação religiosa do Império; a “Questão Militar” que deixa o Imperador sem um instrumento seguro de força para manter-se no poder, já que muitos militares aderem ao ideário republicano e a “Questão Negra” ou da abolição da escravatura que tira a sustentação econômica do Império na medida em que, ao abolir a escravidão, a Princesa Isabel, herdeira do trono, afasta-se do setor econômico que, dependente da mão de obra escrava, era o último suporte da Monarquia.

Convocado e liderado por Dom Macedo Costa, bispo do Pará, o episcopado brasileiro se reúne em São Paulo para avaliar a e pronunciar-se sobre ela. Nas palavras de Francesco Spolverini, será esse o primeiro efeito positivo do fim do padroado:

O novo Arcebispo, velho militante e vítima da perseguição de 1873, está animado pelo sentimento de coragem e de iniciativa pelo despertar da fé e da devoção a mais ilimitada em relação ao Santo Padre. Não tenho dúvida alguma que o clero seguirá unanimemente o episcopado. Este novo aspecto da situação é uma das primeiras felizes consequências da abolição do padroado.15 O encontro da totalidade dos bispos em São Paulo em março de 1890 tem um significado que transcende a conjuntura imediata. No dizer de Lustosa, o encontro e a Pastoral Coletiva dele resultante marcam “…um ponto alto no início de uma visão comum da situação religiosa do país, de uma programação mais ampla dos problemas da Igreja […]

possibilitando uma unidade de ação pastoral mais esclarecida e mais próxima da realidade.”16 A Pastoral Coletiva propõe-se tratar três temas:

  1. a) E primeiramente, que se há de pensar dessa separação da Igreja e do Estado, que infelizmente está consumada entre nós pelo decreto do governo provisório de 7 de janeiro do corrente ano? É porventura, em si, boa, e deve ser aceita e aplaudida por nós católicos?
  2. b) Em segundo lugar, que havemos de pensar do decreto enquanto franqueia liberdade a todos os cultos?
  3. c) Em terceiro lugar, enfim, que temos de fazer os católicos do Brasil em face da nova situação criada para a nossa Igreja?

Nesse clima que nosso personagem Vicente Gaudinieri assume a Paróquia de Pilar

Primeiro pároco da Villa do Pilar teve grande influência na organização administrativa da Vila,  sendo o primeiro Presidente de Intendência.

Foi responsável pela edificação da igreja católica que viria a substituir a primitiva capela original do inicio do povoado. Permaneceu no município de 07 de março de 1889 a 09 de Outubro de 1893.Villa do Pilar, Termo da Villa de Sarapuhy da Comarca de Itapetininga 1892- Ata de 20 de Abril

Ofício despachado designando o Padre para o Município de Pilar.

PILAR-02

Fonte: Diário Oficial do Estado de São Paulo, 04 Setembro de 1891 ano 1 n° 97 1° Sessão.

A instalação da República no final do século XIX exigiu mudanças na estrutura do governo. O regime republicano alterou o papel dos municípios no âmbito constitucional ampliando as suas atribuições.

A reestruturação administrativa dos municípios não representou uma total ruptura com as normativas vigentes no Império. Os Códigos de Posturas formaram as bases das novas medidas organizacionais que foram adotadas na administração pública. A Câmara Municipal de São Paulo, restituída em 1892, instaurou o poder executivo municipal composto por quatro Intendências; essa estrutura se manteve por dois anos, sendo substituída por uma única Intendência, exatamente cinco meses após a promulgação da lei anterior. A instabilidade da estrutura administrativa pôde ser notada até o final de 1898, ano no qual foi criado o cargo executivo de Prefeito em substituição ao Conselho de Intendência
No dia 13 de novembro de 1891, pelo decreto estadual nº 16, foi dada organização às Municipalidades paulistas.

A Primeira Intendência

Ata de 30 de Maio de 1891.
Os primeiros Intendentes da Villa do Pilar

Em ata realizada na residência do padre Vicente Galdiniere e na presença do Intendente da Villa de Sarapuhy  , Francico de Magalhães, prestaram juramento os seguintes cidadãos Intendentes:João Batista Bertoni, Antonio Vieira de Quevedo, Delphino Ferreira de Medeiros, Antonio Vieira de Proença e João Manoel de Almeida.Assinaram também esta ata o secretário da Intendencia o Sr. Antonio José de Faria Braga, Francisco Nicomedes Ribeiro,Padre Vicente Gaudinieri, Euzébio de Moraes Cunha, José Baptista, Francisco Antunes de Proença e João do Turvinho.

*Significado de Intendência

Direção, administração de negócios.
Cargo, dignidade de intendente.
Edifício onde o intendente tem sua secretaria.
Serviço encarregado de prover às necessidades dos militares (soldo, alimentação, roupa etc

Ata de 20 de Abril de 1892.

Intendentes :Padre Vicente Gaudinieri-Presidente, Antonio Vieira de Quevedo, Delfino Ferreira de Medeiros, Tenente Antonio Euzébio de Moraes Cunha e Antonio Vieira de Proença.

Esteve a frente da paroquia, e sabemos que ele descumpriu o decreto de 26 de Junho *19 que proibia celebrar-se o casamento religioso antes do civil. Podemos com isso observar a influência do encontro  da pastoral coletiva do episcopado brasileiro o qual uma das “teses” de resistência era a manutenção do Casamento religioso ser executado somente após o casamento civil.

Nota no Jornal sobre o Padre Vicente estar descumprindo o decreto 521 de 26 de junho.

correio-paulistano-17-de-julho-de-1890-edicao-10138

Fonte: Correio Paulistano 17 de Julho de 1890 edição 10.138

Sabemos que em 1890 formaram o Diretório republicano, declarando abertamente apoio ao novo regime.

Formou em Pilar o Partido Católico  , sabe-se que o partido católico na região foi formado ainda em 1890 e o Padre Vicente Gaudinieri participava ativamente da politica na região aja visto ser grande a colônia italiana na região, inclusive com denuncias que juntamente com mais 2 membros da comunidade estariam a sabotar as eleições de 15 nov de 1890.

Conforme sabemos que ele permaneceu à frente da paroquia de Pilar até 1894. Infelizmente não encontramos registros fidedignos que alicercem exatamente a mudança para Morretes Paraná, o qual seria designado Paroco da Igreja

Primeiro uma admoestação do Conego Manoel Vicente, sobre a retirada do ensino religioso das Escolas e a segunda parte fala de uma denúncia contra o Padre Gaudinieri e, mais dois cidadões sobre o intento de sabotar as eleições de 15 de novembro.

teste-4

Fonte: Jornal Correio Paulistano de 6 de setembro de 1890 edição 10.202 pág. 3-4

Sabemos também que ele ficou em 1893 em Pilar realizou diversos batismos, bem como todas as atividades referentes a igreja, inclusive conduzindo uma reforma na paroquia.

Registro no Livro da igreja sobre batismo em 1893.

,1893-batismo-pilar

Fonte: Registro FamilySearch.org Livro da Igreja Bom Jesus do Bonfim Batsimos.de 1893-1903.A Partir de 1894 temos registros que esteve em Curitiba, primeiramente em 1895 temos algumas missas realizadas.

1895 sobre uma missa de 7° dia em favor de Dona Maria Cândida Pinto de Souza, e outros inclusive realizando uma missa em memória do Barão do Serro Azul celebrada em Curitiba na Catedral.

1895-curitiba

Fonte: Jornal a Republica 29 de Março de 1895 num 73.

Setembro de 1895, sabemos que ele assumiu a Paróquia em Morretes, inclusive celebrando a festa de Nossa Senhora do Porto, avisando seus Paroquianos que houve um adiamento por motivo de mau tempo.

1895-morretes

Jornal a República 17 de Setembro de 1895 edição 41

Em 1898 Assumiu a vice-presidência do Clube Literário Alpha, tinha grande carinho da comunidade, acredito que foi em meados de 1895-96 que recebeu a Luz na Loja Modéstia de Morretes, podemos observar por diversos relatos que iremos omitir aqui por se tornarem repetitivos, que a população de Morretes realmente tinha um apreço muito grande pelo Padre Vicente Gaudinieri. Seguindo temos em Palmeira já conforme abaixo

Sabemos que participou da fundação da Loja Luz Invizivel , em cerimônia datada de 19 de julho de 1900, nas dependências da Loja Fraternidade Paranaense.

1900-ATA-FUNDAÇÃO-LUZ-INVIZIVEL.jpg

Fonte Museu Maçônico Paranaense

Exoneração do Padre Vicente pelo Bispado em 7 de fevereiro de 1899.

A-REPUBLICA-19-DE-FEV-DE-1899-EDIC-40

Fonte: Jornal a República 19 de Fevereiro de 1899 num 40.

Ainda em Palmeira foi o pilar central para a  fundação da Loja Conceição Palmeirense, apesar de não existir documentos apenas uma ligação com a Sociedade Agricola União Palmeirense

Abaixo relação entre o Padre Vicente e a Sociedade União Palmeirense.

palmeira

Jornal a República 8 de Agosto de 1899

Papéis da Loja Conceição Palmeirense, fundada em Palmeira segundo Kurt Prober por iniciativa do Padre Vicente Gaudiniere que foi iniciado na Loja Modéstia de Morretes o qual foi perseguido pelo Clero.

Loja-Fraternidade-Palmeirense-Museu-Maçonico-paranaense.jpg

Fonte: Museu Maçônico Paranaense

Aqui podemos encontrar no Boletim do Grande Oriente do Brasil de 1899 a elevação do Padre Vicente ao Grau 18, já como membro da Loja Conceição Palmeirense, aproximando cada vez mais as suspeitas de que ele tenha sido o mentor da formação desta Loja,

boletim-gob-1899-julho-agosto-pag-288-289

Fonte: Boletim Grande Oriente do Brasil 1899 julho agosto pág. 288-289

Registro de batismo na paroquia de Palmeira Igreja Nossa Senhora da Conceição em Set de 1899. 

1898-PALMEIRA-NASCIMENTO-PAROQUIA-PALMEIRA.jpg

Fonte: Family Search

Sabemos que ele foi exonerado da igreja em Palmeira,mas permaneceu como pároco mesmo depois de exonerado, tendo um tipo de atuação independente, temos aqui um interessante desdrobamento da intrigante história de nosso personagem. Iremos antes, tentar seguir os acontecimentos de 1899 que culiminaram com a exoneração do Padre Vicente , naquele ano o Bispo de Curitiba era José de Camargo Barros, temos conhecimento que era um Bispo devoto com as idéias de Leão XIII o qual sabemos ser um árduo “Antimaçom”, inclusive expedindo “bulas” contra a Ordem.

Escritos sobre o Bispo de Curitiba Dom José de Carmargo Barros, citando-o como corolário de Leão XIII.

1902-jerusalem.jpg

Fonte: Jornal Jerusalém junho de 1902 edição 109-110.

Crítica sobre a Exoneração do Padre Vicente

JERUSALEM-1899-PROTESTOS-SOBRE-O-PADRE

Fonte: Jornal Jerusalém 1899

Interessante a ligação que o Padre Vicente tinha com o Povo podemos observar que o povo simplesmente preferia desligar-se da Igreja simplesmente criando uma “Paroquia” independente

Seria um caso de questão religiosa essa exoneração sabemos que o Bispo era inimigo ferrenho dos maçons.

jerusalem-1901-17-de-jan-admoestação.jpg

Fonte: Jornal Jerusalém 17 de Janeiro de 1901 edição 49.

Mesmo afastado da igreja o Padre ainda se preocupava com questões da paroquia , como a reforma da igreja o qual os moradores sabiam que a igreja estava em ruínas Então em 21 de Janeiro forma uma comissão o qual o Padre Vicente participava, esta comissão foi constituída para cuidar da reforma da Igreja

Comissão da Reforma da Igreja

JORNAL-A-REPUBLICA-1900-EDIÇÃO-019-25-DE-JANEIRO

Fonte: JORNAL A REPÚBLICA 1900 EDIÇÃO 019 25 DE JANEIRO

Sabemos que em 1890 retornou a Morretes a pedido de alguns amigos para participar dos festejos da Padroeira e segundo relatos foi ovacionado pela população que nutria grande estima em sua pessoa da época que foi pároco lá.

Notícias sobre sua chegada em Morretes

JORNAL-O-COMERCIO-23-DE-JULHO-1900-EDICAO-118

Fonte: JORNAL-O-COMERCIO-23-DE-JULHO-1900-EDICAO-118

Em setembro de 1900 continuamos com o embate entre o Jornal Jerusalém e o Bispo de Curitiba em sua edição 41 critica ferozmente o periódico católico São D’o Apostolo na figura do Bispo Dom José de Camargo Barros , pela arbitrariedade da suspensão do Padre Vicente Guadinieri, sem motivo aparente apenas por ele ser Maçom.

Sobre seu casamento em Rebouças

Esphynge  Sciencia, Arte, Mysterio (PR) - 1903 edição 008 pag 147.jpg

Fonte: Esphynge  Sciencia, Arte, Mysterio (PR) – 1903 edição 008 pág. 147

Anúncio de sua morte.

ramo-de-acacia-1911-num-23-01.jpg

Fonte: Ramo de Acácia 1911 num 23 01

Podemos tentar resumir estes fatos da seguinte maneira , Padre Vicente  chegou ao Paraná em idos de 1895. Por ser um espirito inteiramente liberal, foi retirado de Morretes e depois quando pároco de Palmeira, foi suspenso do seu oficio por não atender as Ordens absurdas do Bispado, que exigia que fizesse guerra com tudo o quanto estivesse fora da religião católica.

Após esse conflito Gaudinieri, foi para a linha Sul, estabelecendo-se em Rebouças Paraná, aonde casou civilmente com uma senhora brasileira, que ora se encontra viúva e dentro de uma imensa compunção pela perda de seu idolatrado companheiro.

A morte do ex-padre Vicente Gaudinieri causou profunda tristeza em Rebouças, aonde gozava de estima de toda a população.

O digníssimo sacerdote de Jesus, e não do papado, espirito liberal cuja inteligência se iluminara ao sol da razão e da verdade, digno a figurar entre os padres modernistas que Roma quer esmagar porque almejam o regresso ao Evangelho, a missão moral sem o partidarismo politico, a submissão da infalibilidade à razão, e do dogma à Ciência, o ex-padre  Gaudinieri sufocava apertado nas malhas estreitas das ordens do bispado a fazer do padre agente comercial, obrigando-o a enviar  certas somas ao caixa do episcopado. Essa trama repugnava ao discípulo do Nazareno, habituado a repartir com a pobreza o que lhe vinha às mãos, cumprindo todos os mistérios do sacerdócio sem exigir renumeração alguma. Pobre que era, e muito,  aceitava , mas não pedia.

Tolerante, nunca entrou em discussões irritantes, nunca fez púlpito da bíblia, sempre pregando a concórdia o perdão e o carinho. Coerente, praticava seus ensinamentos, dando o exemplo das lições que espargia.

Sua bondade de coração, seu espirito esclarecido, suas virtudes levaram a Ben.’. Loj.’. Modéstia , ao Oriente de Morretes, aonde então residia, a recebe-lo entre suas colunas, sendo mais tarde lhe conferido o Grau de Cav.’. Roza Cruz  a que fora elevado em 1899.

A vida de Vicente Gaudinieri, como obreiro da Arte-Real, tem a mesma  encantadora simplicidade de sua missão eclesiástica.

A intolerância  ultramontana, a voracidade sacerdotal, levaram-no a atirar a batina às ortigas, guardando porem sempre, a Bem.’. Luz Invizivil rendeu-lhe homenagem e aproveita o ensejo para desfolhar sobre a cruz que lhe assinala a tumba , a rosa mystica da fé da esperança e da caridade.

Referências:

POMBO ROCHA, Para a História.

PROBER KURT Achegas para a História da Maçonaria Paranaense.

MACEDO, Rafael Greca de. “Romário Martins”. In Boletim da Casa Romário Martins, nº 3. Fundação Cultural de Curitiba. Curitiba, 1974.

MYSKIW, Antonio Marcos. Curitiba “República das Letras” (1870/1920). Revista eletrônica História em Reflexão. Vol. 2 n. 3 – UFGD. Dourados, Janeiro/junho 2008.

Spoladore Hercule – História da Maçonaria no Parana no século XIX
(Extraído do “Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná” – Ermelino de Leão – I.H.G.P. – 1994 – pág. 1029 e 1030)

(Vultos Paranaense – 1º volume – Maria Nicolas – 1948 – pág. 1 e 2)

Periódico – A Republica BN edições 1893-1901.

Periódico – Jerusalem BN edições 1893-1901.

http://www.ifch.unicamp.br/ael/website-ael_publicacoes/cad-8/Artigo-1-p09.pdf
http://impregnantes.blogspot.com.br/2009/01/palmeira-pr-colnia-ceclia.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Giovanni_Rossi
http://www.culturaplural.com.br/colonia-cecilia

Coleção “A Maçonaria no Paraná” -Vol. 1 pág. 226 a 230.

https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/25021/LizandroPoletto.pdf?sequence=1

https://www.imprensaoficial.com.br/DO/BuscaDO2001Documento_11_4.aspx?link=/1891/diario%2520oficial/setembro/04/pag_0841_874K0R8TCH561eA16FL3IAPVHMD.pdf&pagina=841&data=04/09/1891&caderno=Di%C3%A1rio%20Oficial&paginaordenacao=100841  – Acesso 18/11/2018.

FamilySearch.

Museu Maçônico Paranaense Boletim do Grande Oriente do Brasil.

whats | Rastro Ancestral