Rachel de Souza Pereira da Costa, nasceu em Paranaguá, no dia 03 de abril de 1926, filha de Antonio Morais Pereira da Costa (Tonhá Régis) e, de Maria Lupia de Souza Pereira da Costa, sua mãe faleceu em 10 de setembro de 1927, estando Rachel com dois anos de idade, sua educação após este período foi feita por sua avó materna e, sua tia.
Iniciou seus estudos em Paranaguá e, por algum tempo, estudou também em Antonina para onde seu pai foi transferido por ser funcionário público federal. Ao chegar a época de curso ginasial Rachel retornou Paranaguá para continuar seus estudos, vindo a residir na casa do seu tio materno Eugenio José de Souza, político de destaque cidade e, de sua esposa Erotides Arzua que pode ter sido quem transmitiu o amor pelo piano para Rachel, por ter sido ela que ensinou Rachel as primeiras noções de música e da técnica de pianista.
Com o retorno do seu pai a Paranaguá, voltou a morar com a família e terminou o curso ginasial no Colégio Estadual José Bonifácio e, cursou magistério na Escola Normal Dr. Caetano Munhoz da Rocha. Sempre foi uma aluna destaque nos estudos, dedicada e, sempre aprovada com distinção.
Continuou seus estudos de piano com a professora Maria José dos Santos Alves (dona Zezita) que, em agosto de 1942, montou em nossa cidade a “Academia Musical de Paranaguá“.
Assim explana sobre Raquel o Sr. Ginés Gebran na Revista da Marinha:
“Acaba de concluir o seu curso de piano, pela Academia de Música de Paranaguá, dirigida pela Professora Maria José do Santos Alves.
Após haver-se submetido às difíceis provas finais, perante a banca examinadora, composta pelo Dr. Edgar Chaulbaud Sampaio, Presidente: Professoras Elisa Greca, Maria José dos Santos Alves, Maria Antonieta Miró Marcondes e Eloína Greca, esta última Secretária, e sob controle do Professor Alberto Monteiro Filho, digno Inspetor da Secretaria de Educação e Cultura, reunida no salão do Club Litterário, gentilmente cedido pela sua Diretoria, na tarde de 11 do corrente, a recém-diplomada viu, finalmente, os seus esforços coroados de êxito, consubstanciados nos louros de uma aprovação merecida, com a nota distinção COM LOUVOR.
Devéras tocante foi a cerimônia da entrega, à ilustre concidadã, do pergaminho a que fez jús. Em seguida à oração de encerramento do ano letivo, de 1948, proferida pelo Presidente da Mesa, na qual teceu elogios à inteligência da graduanda, conferindo-lhe o diploma, intensa comoção avassalou todos os presentes, traduzindo-se em lágrimas de contentamento, exclamações e sorrisos de júbilo, para culminarem em efusivos cumprimentos à senhorinha Raquel Pereira e aos membros de sua Exma. Família.
O triunfo obtido pela gentil conterrânea é motivo de ufania, não só para seus genitores, parentes e pessoas amigas, como a seus compatrícios, porquanto representa o desabrochar promissor de um talento que reflete e eleva, ainda mais, o nível artístico da comunidade parnanguara, projetando-se no cenário
paranaense e nacional. De fato, Raquel Pereira da Costa se destaca, como elemento de valor, dessa brilhante ala moça contemporânea que ora surge, lídima representante e continuadora que é, dos mestres da arte suprema do som nessa terra, e que se chamaram:
Brasílio Itiberê da Cunha e Iria Correia.
Para quem, como nós, admiradores do evolucionar das Artes parnanguaras e, que tivemos a dita de embevecemos com a magnífica audição de Raquel, não pode permanecer indiferente a fato de tamanha relevãncia, em a nossa vida de gente civilizada.
E para se aquilatar do valor da jovem pianista, eis o complexo programa que interpretou, na audição:
CHOPIN – Prelúdios, nrs. 3,15 e 20. Estudos – opus 10, nrs. 1 e 12; opus 25, nrs. 7 e 9.
BEETHOVEN – Sonata, opus 31, nr. 2.
SCHUMANN – Papillons.
Brasílio Itiberê da Cunha Poema de Amor. Os “Prelúdios” e “Estudos” tiveram execução esplêndida, graças aos recursos técnicos da artista. Agradaram plenamente.
A “Sonata”, de Beethoven, sensibilizou o seleto auditório, pelo vigor, colorido e plasticidade com que foi interpretada. É partitura que emociona a quem a escuta. “Papilons”, talvez
Para Ginés Gebran a mais difícil peça programada, foi vencida com galhardia, pelos dotes artísticos de Raquel.
Bela música descritiva que, como seu nome indica. Borboletas traduz de modo impressionante, um enxame de lepidóteros, em revoada, com gráceis e irrequietos révoluteios, ao perpassar da brisa, sob um céu de cobalto.
O número, porém, que mais nos arrebatou foi “Poema de Amor“, formosa página musical brotada do robusto gênio do nosso Brasílio ltiberê da Cunha.
Desconhecíamos essa joia somora do compositor parnanguara.
Nada fica a dever embora de motivo diferente à sua notável “Sertaneja”.
Que rendilhado e delicadeza de sons!
Que riqueza de acordes!
Que cadência e melodia de ritmos!
E com que mestria Raquel a dedilhou, com que sensibilidade, com que alma!
Os derradeiros acordes ainda soluçavam no ambiente imponderável da sala do concerto, e já explodiam, entusiásticos, os aplausos da assistência.
Não encerraremos esta singela crônica, sem antes felicitara RACHEL DE SOUSA PEREIRA DA COSTA, com augúrios para que prossiga, sem esmorecimentos, no culto à divina arte de Euterpe, da qual é legitima embaixatriz, em nosso meio.
Os nossos cumprimentos, igualmente, à Exma. Professora Maria José dos Santos Alves, dedicada mestra que muito honra nossa terra, e vem modelando tão belas inteligências, com o desvelo que a caracteriza, para gáudio da nossa cultura. Parabéns aos dignos pais de Raquel, extensivos aos seus familiares, que se podem ufanar dos seus dotes e virtudes.
Congratulamo-nos enfim, com os patrícios, por contarmos com mais um elemento exponencial, no setor das belas artes parnanguaras.
Paranaguá, dezembro, 1948″.
Rachel concluiu o curso de piano e, participou de vários recitais e concertos.
Era Sócia correspondente do Centro de Letras de Paranaguá.
Numa ocasião, a grande pianista Madalena Tagliaferro, ouvindo Rachel tocar elogiou sua interpretação e técnica e, lhe ofereceu um curso de especialização pianística.
A família não aprovou a ideia, pois naquele tempo os pais não permitiam aos jovens, principalmente as moças, saírem de casa sozinhas, para morar longe da família.
Por essa razão continuou em Paranaguá.
Na década de 1950, foi nomeada professora de música e canto orfeônico do Ginásio José Bonifácio e, da Escola Normal Dr. Caetano Munhoz da Rocha.
Sempre dinâmica e competente organizou com seus alunos vários orfeões, festivais de música, apresentação de peças teatrais e grandes festa que aconteciam no palco do antigo Cine Teatro Santa Helena.
Foi aluna de Pedagogia da primeira turma da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Paranaguá.
Em 1960 exercia função de professora da rede de ensino estadual do Paraná em Paranaguá.
Esteve na Sessão magna de instalação do Centro de Letras de Paranaguá em 1963 cuidou da direção da apresentação do Hino Nacional.
Concluiu também o curso de especialização em orientação educacional, tendo prestado relevantes serviços como orientadora do Instituto Estadual de Educação.
Em agosto de 1966 foi nomeada inspetora Regional de Ensino, cargo que equivale hoje a Chefe do núcleo de Educação.
Neste cargo desenvolveu vários trabalhos importantes dentre os quais a transferência do Colégio Estadual José Bonifácio para o prédio atual. no bairro da estradinha.
Mas a grande paixão de Rachel era mesmo a música.
Formou o primeiro Coral de professores de Paranaguá, o coral “Diva Vidal”, que viajou representando a cidade no exterior.
Rachel também dirigiu o conservatório de música de Paranaguá e como professora de piano, formou várias gerações de pianistas, entre elas Gisele Rizental, hoje concertista de projeção nacional.
Era extremamente caridosa e preocupada com os mais humildes.
Ajudou os jovens carentes com bolsas de estudos e foi uma das mantenedoras do Lar “Hercilia de Vasconcelos“, ajudando com seu próprio salário.
Era amante das artes em geral, presença sempre marcante e frequente nos recitais de poesias, espetáculos teatrais e apresentações musicais.
Foi uma personalidade de grande influência na sociedade social e cultural parnanguara.
Com o falecimento do seu pai, mudou-se para Curitiba, passando a trabalhar na Coordenação de núcleos da Secretaria de Educação, nunca se desligou completamente de Paranaguá.
Mesmo morando em Curitiba vinha frequentemente supervisionar a escola de piano e assistir às audições de suas alunas que ficaram sob a responsabilidade da pianista Gisele Rizental.
Após sua aposentadoria no Estado, continuou a lecionar piano e teclado, participou de vários corais em Curitiba.
Faleceu em 13 de junho de 2005.
Pela grande contribuição dada à nossa cultura, Rachel Costa tem seu nome incluído na galeria dos grandes vultos parnanguaras e a grande homenagem foi dado ao teatro de Paranaguá que leva seu nome.
Texto da professora Maria Helena Mendes Nizio.
Teatro Municipal Rachel Costa
O teatro funciona no belíssimo prédio, situado na rua Quinze de novembro, no centro histórico de Paranaguá no prédio da antiga “Casa Veiga“.
A Casa Veiga, em Paranaguá, foi de propriedade particular por mais de um século.
Nela viveu a família Veiga até os anos 70.
Foi construída em 1850 (aproximadamente) com pedras de um forte que tinha naquela região, as mesmas pedras também foram utilizadas para fazer a Igreja do Bom Jesus, destruída em 1938. Após ter sido residência de propriedade da própria família Veiga, o prédio foi também local de gastronomia (restaurante Casa Velha, como mostra a foto antiga), o qual sofreu incêndio entrando em estado de abandono no final da década de 1980. O imóvel foi comprado pela prefeitura e atualmente funciona no local o Teatro Municipal Rachel Costa que conta com 530 lugares.
O teatro homenageia a pianista e professora Rachel de Souza Pereira da Costa.
Hamilton Ferreira Sampaio Junior
Referências:
SOARES, Moises. Rachel de Sousa Pereira da Costa: Rachel de Sousa Pereira da Costa. 1. 1. ed. Paranagua: Proprio, 6 mar. 2023. Disponível em: http://msinstituto.blogspot.com/2016/07/rachel-de-souza-pereira-da-costa.html. Acesso em: 5 mar. 2023.
Teatro Rachel Costa