Theodorico Julio dos Santos

hamilton |30 dezembro, 2022

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Reprodução Instituto Moises Soares

Theodorico Julio dos Santos nasceu em 1° de julho de 1855 na cidade de Paranaguá, filho de José Maria dos Santos e Izabel Maria Pereira dos Santos, ela foi a terceira esposa de seu pai, teve o casamento celebrado em 22 de janeiro de 1853, além de Theodorico tiveram os filhos: Margarida Clara dos Santos Ferreira nascida em 22 de janeiro de 1854 e Julia Pereira dos Santos, nascida em 27 de outubro de 1856.

Theodorico Julio dos Santos casou-se com sua prima Herminia Ferreira dos Santos não tiveram filhos “Naturais”.

Estudou na cidade natal, preparando-se para a carreira comercial, era Guarda Livros (Contador).

Segundo Hercule Spoladore em sua obra “História da Maçonaria Paranaense no Século XIX” afirma que Theodorico Julio dos Santos foi iniciado na Loja Perseverança em 1875.

Ingressou como sócio no Clube Literário em 1876.

Em 1877 tornou-se tesoureiro do Clube Literário.

História do Clube Literário de A. Ribeiro Filho pág. 324.

Em 1884 esteve junto a “Sociedade Redentora”,

Clube Literário Ribeiro Filho pág 99.

A Sociedade Redentora era presidida por José Cleto Silva que compunha a sua diretoria, juntamente com um empresário, um médico, um funcionário público, um comerciante e um negociante, alguns deles, membros da Loja Maçônica Perseverança. Embora sem perder o caráter elitista também verificado no Clube Literário, a Sociedade foi mais além no ativismo abolicionista, não apenas arrecadando recursos para a compra e alforria de escravos, mas também se envolvendo com a fuga de cativos.

Era um apoio determinante já que a proximidade do Porto facilitava o embarque dos cativos que, em geral, navegavam rumo à Montevidéu.

A carta abaixo, escrita por um dos membros da Ultimatum (Sociedade Secreta de Curitiba envolvida em ações de libertação de cativos), existem muitas evidencias da proximidade entre as duas agremiações nos tempos finais da escravidão:

Fui á Paranaguá, entendi-me com o Bento Munhoz da Rocha entregando a ele a carta de Idelfonso Correia. Embarquei nossos protegidos, sem custo. Nada quiseram receber pelas passagens […] Amanhã devem embarcar os dois protegidos em navio de vela para Montevidéu. Nada aceitaram para despesas a fazer com passagens. Dei a cada um, duas libras. Priscilliano [Correia] nos ajuda. Devem embarcar também um escravo de Nacar e um escravo de Antonina. Curitiba, 22 de junho de 1887 (apud RIBEIRO FILHO, s/d: 97)

O Uruguai era uma terra de solo livre, pra onde fugiram centenas de cativos brasileiros . Essa prática ocorria de forma similar na província paulista, onde os chamados “caifazes” – indivíduos das mais variadas origens sociais – se envolviam com as fugas de cativos, seja invadindo as fazendas ou facilitando o transporte e a acolhida dos fugidos geralmente levados ao Quilombo do Jabaquara em Santos, às linhas férreas ou ao porto.

A prática era, no entanto, condenada pelos grupos abolicionistas mais moderados e, evidentemente, os mais conservadores, que viam nessas ações, uma afronta aos proprietários.

Em 1886 foi Ven∴ da Loja Perseverança em Paranaguá gestão 1886-1887. Em 1889-1890 foi reeleito Ven∴ da Loja Perseverança, conforme encontramos na obra “Entre o Compasso e o Esquadro Gênese das Lojas Maçonicas de 1830 até 1930” em sua página 33.

Entre o Compasso e o Esquadro Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 – 1930.

Em 1887 juntamente com alguns abnegados paranaguaras criaram sob as asas do “Clube Literário”  a “Comissão de Cidadãos” com o objetivo de alforriar escravos.

Em 1888 foi novamente tesoureiro do Clube Literário.

História do Clube Literário de A. Ribeiro Filho pág. 327.

Depois de muitos anos de labuta honesta tornou-se um dos elementos de mais alto destaque em sua classe.

Foi o 13° presidente da Câmara Municipal de Paranaguá em 1889, pelo partido republicano, esteve no centro da política paranaguara na formação da Republica e, durante o Golpe Republicano estava como Presidente da Câmara Municipal e, após a criação da Republica esteve novamente a frente da Câmara em duas ocasiões a primeira em 1889 e a outra em 1891.

O periódico “Diário do Comércio” do Rio de Janeiro em sua edição 218 pág.2, nos confirma sua condição de presidente da Câmara Municipal de Paranaguá.

Político de grande valor, fez-se esteio de seu partido (republicano) Theodorico era presidente regional do partido republicano, alcançando o apogeu político, foi um patriota de ação eloquente, dedicou-se com abnegação e firmeza à causa abolicionista, pertenceu a Guarda Nacional.

Em 1892 foi designado 2° Vice Governador do Estado do Paraná.

Foi Capitão Quartel Mestre do comando superior de Paranaguá, durante a Revolta da Armada, tendo prestado importantes serviços à legalidade.

No ano de 1893 era Deputado Estadual

Desempenhou honrosamente o mandato de Deputado Estadual.

História do Clube Literário de A. Ribeiro Filho pág. 329.

Em 1894 ficou do lado dos legalistas de Floriano Peixoto.

Ainda no ano de 1894 foi Cônsul da Dinamarca na cidade de Paranaguá.

Ano de 1895 o grêmio “Briza da Marinha”. Nos conta Manoel Viana em sua obra

“Genuinamente paranaguara era a sociedade de então.

Não havendo outros divertimentos que não fossem os bailes, os saraus e o teatro; reuniam-se as moças daquela época, aos domingos, em casa de uma determinada família e, ali passavam a tarde, dançando e, se divertindo com o “Jogo de Prendas”, brinquedo muito comum nos salões daquele tempo.

É claro que os rapazes também se faziam presentes. Eram assim  divertidos e alegres os domingos da velha Paranaguá de outrora.

Um dia, numa destas tardes cálidas de domingo de março, três senhorinhas, as mais entusiasmadas, resolveram fundar um “GRÊMIO”; uma sociedade dançante constituída.

Neste fim de século, a mulher já podia ter um pouquinho mais de liberdade, embora controlada pelos pais e irmãos mais velhos (*A evolução dos povos é um fato).

Desnecessário dizer que a ideia foi aceita com grande satisfação. Ouviram-se várias opiniões.

Por fim, marcaram outro domingo para tratar das bases da nova agremiação; seus estatutos; nome do grêmio; diretoria e baile inaugural.

Veio este domingo e, com ele o entusiasmo das “baileiras” inquietas e faladoras.

Reunidas novamente em casa da Sra. Herminia Ferreira dos Santos, esposa do Sr Theodorico Júlio dos Santos, assentaram as bases da agremiação e, por escolha da referida senhora, iria chamar “SOCIEDADE DANÇANTE BRIZA DA MARINHA””.

Theodorico Julio ainda em 1898 foi Vice Presidente do Clube Literário de Paranaguá.

História do Clube Literário de A. Ribeiro Filho pág. 330.

Em 1900 foi eleito Prefeito de Paranaguá

Jornal Diário da Tarde 28 de Junho de 1900 edição 368 pag.3

Quando prefeito de Paranaguá foi o político que trouxe a luz elétrica para a cidade.

Sobre ele Vicente Nascimento Junior em sua obra “História, Crônicas e Lendas”

“Outro não menos popular referindo-se ao segundo prefeito, após o Golpe Republicano, foi o Coronel Theodorico Julio dos Santos, paranaguara, como precedente e de extrema dedicação á sua terra. Sucedendo ao Coronel João Guilherme, achou mais desafogada a situação financeira do município, permitindo-lhe a execução de vários melhoramentos de vulto, entre os quais a iluminação elétrica pública e particular”.

De modesta origem e encetando a vida no comércio, era o Coronel Theodorico  (Que só fizera o curso primário) um autodidata lendo muito e aprendendo pelo seu próprio esforço.

Era educado e de fino trato. Trajava com elegância no rigor da moda masculina.

Palestrava  e discutia com graça, brilho e desembaraço.

Possuía veia diplomática e tanto que, nos dois quatriênios do seu governo, a  preocupação máxima do prefeito era tornar a cidade conhecida por personagens de relevo social, político ou econômico. Pagava para este fim pessoa no Rio de Janeiro com o encargo de telegrafar-lhe avisando-o do embarque de pessoas de no0toriedade social com destino ao Sul, Senadores e Deputados catarinenses, gaúchos e mato-grossense, em transito do norte para o sul dentro ou fora das férias parlamentares, recebiam a bordo a visita do prefeito e o convite para almoçarem em terra, enquanto os pesados “buques” da antiga companhia Nacional de Navegação hoje (Loyde Brasileiro) iam para a Antonina, voltando ao entardecer para prosseguirem em sua rota.

Aceitando o convite e desembarcavam para ficar mais uns dias, ou na residência do Coronel ou no Hotel Tristão ou no Hotel Martins, saboreavam, principalmente os Rio Grandenses do Sul, o nosso camarão ensopado que tornou Paranaguá célebre.

Depois, viessem do Sul para o Norte ou vice versa, desembarcavam sem convite atraídos pela saborosa “PITANÇA” a que chamavam “Os Camarões de Paranaguá”.

Não havia tempo nem dinheiro perdido com essa diplomacia, pois o Coronel Theodorico puxava logo a conversa para o terreno das necessidades do Paraná e, de seu principal porto.

E graças a amizade que contraia com políticos influentes na alta administração, sempre obtinha algo para a cidade. Embora melífluo e delicado, tinha os momentos de indignação somente quando o agravo lhe afetava a honra.

“O caso do ´preto Damasio é típico.

Dono do condutor e de um carro pipa para distribuição de agua em barris nos domicílios a 3 vintens o barril, teve um dia o seu veículo desconjuntado ao tombar em uma rua mal calçada.

Gritou o Damásio, a alto e bom som.

“Impostos e mais impostos, mas as ruas andam deste jeito!!!

O nosso cobrinho vai para a prefeitura e ninguém mais o vê. (cobrinho referia-se ao “nosso cobre ou nosso dinheiro”)

Para aonde vai só deus o sabe”.

Isto bem traduzido, equivalia a dizer que o Coronel esbanjava a dinheiro do povo e, um puxa saco presente foi logo informar o prefeito.

Theodorico ficou furioso e, mandou prender o Carroceiro, mas um quarto de hora depois, serenado e refletindo ter o Damasio carradas de razão, pois aquela rua estava realmente em abandono, não tendo ele como Prefeito curado de conserta-la, mandou um caixeiro a cadeia com 5 mil réis para pagar a carceragem do ofensor, e dar ordem para o soltarem e avaliar o prejuízo para ser pago pela Prefeitura”.

E assim eram muitos homens da Republica Velha quando esta ainda era nova……”

Almanach do Paraná : Commercio, Historia e Litteratura  – 1896 a 1929 PÁG. 264.

Jamais se afastou das lides comerciais, senão no período que se realizavam as sessões do Congresso Legislativo do Estado.

Em 1900 foi eleito prefeito e também provedor da Santa Casa de Misericórdia de Paranaguá.

Diário da Tarde edição 505 de 1900.

Jornal O Paiz edição 0887 de 1908.

No aniversário do Cinquentenário da emancipação política  quem presidiu as comemorações em Paranaguá foi o Coronel Theodorico Julio dos Santos.

Foi um dos “Sócios Benfeitores” do Clube Literário de Paranaguá em 1900.

Em 1902 tentou conseguir autorização do Governo para explorar minas e o solo.

Jornal A Republica edição 126 ano 1902 pág. 3

Em 1902 foi Orador do Clube Literário.

História do Clube Literário de A. Ribeiro Filho pág. 332.

Em 1908 foi nomeado contador dos Correios

Quando por fim afastou-se da política, dedicou a sua vida para a continuação da pratica do bem.

Em 1910  em Curitiba, foi aceito como sócio no clube de Tiro Rio Branco

Sua casa sempre serviu de lar a órfãos e desamparados, abrigando-os das necessidades.

Coração bem formado, prestou sempre auxilio à pobreza necessitada.

Coronel Theodorico Júlio, foi um homem útil e bom, colaborou ativamente no “Treze de Maio” e, na “A Ordem”, defendendo a triste sorte dos homens de cor e, suas ideias políticas.

Faleceu o honesto e probo cidadão paranaguara Coronel Theodorico Julio dos Santos, em 23 de março de 1925 em Paranaguá, enfim tendo o “sono dos justos”.

Em 1906 encontramos uma pessoa nominada Maria das Dores França Ribeiro como sua  herdeira (possivelmente era adotada) * mas não pudemos comprovar.

Antes de encerrar esta singela pesquisa gostaria de escrever que fiquei muito surpreso ao descobrir que Theodorico era meu parente, foi uma viagem através de minha própria história e, de minha família representada pelos meus antepassados, afinal todos carregamos uma pequena parte de cada um deles.

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Referências:

Biblioteca Nacional

Instituto Moises Soares http://msinstituto.blogspot.com/

Family Search

My Heritage

VIANA, Manoel. Paranaguá na História e na Tradição: Paranaguá na História e na Tradição. 1. ed. [S. l.s. n.], 1971.

SAMPAIO, Hamilton. ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO: Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 e 1930. In: ENTRE O COMPASSO E O ESQUADRO: Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná entre 1830 e 1930. 1. ed. Curitiba: Novagrafica, 2019. v. 1, cap. 1, p. 2.

SPOLADORE, Hércule. HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARANAENSE NO SÉCULO XIX: HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARANAENSE NO SÉCULO XIX. In: HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARANAENSE NO SÉCULO XIX: HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARANAENSE NO SÉCULO XIX. 1. ed. LONDRINA: Ruahgraf Gráfica e Editora Ltda, 2007. v. 1, cap. 1, p. 2. ISBN 8590725804, 978859072580.

REVISTA PANORAMA. nº 44, p. 50, 51, 25, jan.1956.

NICOLAS, Maria.Vultos paranaenses. 1958. v. 3.

LEÃO, Ermelino Agostinho de. Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná. v. 1.

RIBEIRO FILHO, Anibal. Historia do Clube Literario: Historia do Clube Literario. 1. ed. Paranagua: Própria, 1972. 461 p. v. 1. ISBN xxxxxxxxxxxxxxxx.

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SANTOS, Antônio Vieira dos. Memória Histórica: Paranaguá. 1. ed. Paranaguá: Própria, 1951. 422 p. v. 1. ISBN xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.

Arquivo Público do Paraná BR PRAPPR PB001 IIP787.57.

Wikipédia

TJPR-Catalogação dos Processos de Paranaguá (1711 – 1991).

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